2011-12-24

As origens do Natal

Devidamente roubado ao Diário Ateísta, a história das origens do Natal

Estando noiva de José, e antes ainda de com ele ter coabitado, Maria apareceu grávida por acção do Espírito Santo.
Quando José se preparava para a repudiar, apareceu-lhe em sonhos um “anjo do Senhor” que lhe ordenou que recebesse Maria em sua casa e que aceitasse o filho que ela carregava como obra do Espírito Santo.
Quando a criança nasceu, e tal como o anjo lhe havia ordenado, pôs-lhe o nome de Jesus.
Todas as culturas antigas, sem excepção, tinham um horror profundo e visceral à esterilidade. O que é absolutamente compreensível, face à óbvia conexão entre a própria sobrevivência da tribo ou de uma determinada sociedade e o seu fortalecimento face aos povos vizinhos e rivais, por exemplo, em disputas territoriais.
Não é, por isso, de estranhar que desde a sua origem todos os cultos religiosos revelem nas suas mitologias e iconografias não só esse temor, como muito principalmente uma óbvia preocupação pela fecundidade.
De tal forma que nas mais remotas manifestações de religiosidade o lugar de Deus foi ocupado por uma mulher.
Só muito mais tarde a mulher foi relegada para um papel de mãe, esposa ou amante do Deus, sempre com a responsabilidade da renovação e da reprodução, mas também obviamente virgem, como convém a toda a terra que vai receber uma nova semente e de quem se espera a máxima fecundidade.
Por isso, também, só de uma divindade é possível esperar o dom da fecundidade, principalmente quando se trata de uma mulher estéril que acaba por dar à luz, um milagre que obviamente só está ao alcance de Deus.
Ao mesmo tempo, constitui prova inequívoca da proximidade de um homem a Deus o facto de ter nascido do milagre da concepção de uma mulher virgem.
Assim, vemos que essa associação entre uma concepção milagrosa e a deificação do filho nascido de um fenómeno que só está ao alcance de Deus (sempre após uma história mais ou menos fantasiosa de uma «anunciação» feita por um anjo ou qualquer outra entidade celestial, seja ao vivo ou em sonhos), é afinal perfeitamente vulgar e recorrente em todos os cultos religiosos da antiguidade e, curiosamente, nas mais distantes regiões do planeta.
Aparecem então como filhos de mães virgens tanto deuses como grandes personagens, como os imperadores Chin-Nung, da China, ou Sotoktais do Japão, ou como os deuses Stanta, na Irlanda, Quetzalcoatl do México, Vixnu da Índia, Apolónio de Tiana da Grécia, Zaratustra da Pérsia, Thot do Egipto, ou como Buda, Krishna, Confúcio, Lao Tsé, etc., etc.
O mito vai mesmo ao ponto de Gengis Cã ter um belo dia determinado que também ele era filho de uma mulher virgem, para se deificar aos olhos do seu povo e dos povos que ia conquistando, e para se fazer obedecer e respeitar cegamente como um Deus pelas suas tropas.
Entre os mais famosos homens filhos de mulheres virgens está, como é sabido, Jesus Cristo.
É também muito curiosa a mitologia comum relacionada com o nascimento destas personagens deificadas pelo seu nascimento de mulheres virgens, como sejam a existência de estrelas ou sinais celestes que os anunciam ou comemoram: uma milagrosa luz celeste anunciou a concepção de Buda, um meteoro o nascimento de Krishna, uma estrela o nascimento de Hórus e uma «estrela no Oriente» o nascimento de Jesus Cristo, embora somente o evangelho de Mateus se lhe refira, sendo pacificamente aceite que não mais do que para corporizar ou fazer concretizar (quase um século depois da morte de Jesus Cristo) profecias messiânicas do Antigo Testamento.
Ao mesmo tempo, é também absolutamente natural que faça parte dos cultos de fecundidade a adoração de deuses relacionados com o ciclo solar e com a renovação anual das estações do ano e, com estas, as colheitas ou a produção de gado, com especial incidência e manifestação em festas, mitos, cerimónias e ritos religiosos comemorativos, realizados normalmente nos Solstícios, preferencialmente no Solstício de Inverno.
A corporização mais comum destes Deuses de renovação e de fecundidade é feita em relação ao Sol, símbolo perfeito da sucessão regular e infalível dos dias e das estações do ano, quer seja adorado como um Deus em si, e em praticamente todas as civilizações conhecidas, das Américas Central e do Sul, ao Egipto, passando pela Suméria ou Mesopotâmia, quer também através de outros deuses «solares», como o Deus-faraó egípcio Amenófis IV, que reinstalou o culto de Áton (Sol) e mudou mesmo o seu nome para Aquenáton, ou como Deuses que resultam da antropomorfização do Sol, como os Deuses Hórus, Mazda, Mitra, Adónis, Dionísio, Krishna, etc.
Destes Deuses, um merece especial referência: Mitra.
Mitra é um dos principais deuses iranianos (anteriores a Zaratustra), simbolizado com uma cabeça de Leão (representação típica dos deuses solares) e conhecem-se manifestações do seu culto já com mais de mil anos antes do nascimento de Cristo.
Mais tarde os romanos adoptaram o seu culto e incluíram-no mesmo no seu panteão.
Enquanto divindade, as funções de Mitra eram carregar com a iniquidade e os males da Humanidade e expiar os pecados dos homens.
Mitra era também visto como meio de distinção entre o bem (Ormuzd) e o mal (Ahriman), como fonte de luz e sabedoria e estava ainda encarregue de manter a harmonia no mundo e de proteger todos os homens.
A mitologia do Deus Mitra tinha-o como um «enviado», ou um Messias, que voltaria ao mundo para julgar toda a humanidade.
Sem ser o Sol propriamente dito, Mitra era tido como seu representante, sendo invocado como o próprio Sol nas cerimónias do seu culto, onde era tido como espiritualmente presente no interior de uma custódia, por isso colocada em lugar de especial destaque.
Todos os Deuses solares depois de expiarem os pecados dos homens acabam por morrer de morte violenta, acabando depois por ressuscitar ao fim de três dias e de ascender aos Céus ou ao Paraíso.
Hórus morre em luta com o mal, corporizado no seu irmão Seth (identificado com Satanás), que o coloca num túmulo escavado numa rocha, ressuscitando ao fim de três dias para subir ao Paraíso.
O Deus hindu Xiva sacrifica-se pela humanidade, e morre ao ingerir uma bebida corrosiva que causaria a destruição e a morte de todo o mundo, acabando também por ressuscitar ao fim de três dias.
O Deus Baco foi também assassinado, tendo ressuscitado três dias depois, através dos seus pedaços recolhidos por sua mãe.
O mesmo acontecia aos Deuses Ausónio, Adónis ou Átis, que morriam para salvar os homens ou expiar os seus pecados e acabavam por ressuscitar ao fim de três dias.
E todos eles a 25 de Dezembro.
Uma vez mais, um dos mais famosos «ressuscitados» é Jesus Cristo, embora este tenha ressuscitado em metade do tempo dos restantes Deuses, talvez somente um dia e meio depois, embora a sua mitologia continue a mencionar os três dias.
Ou seja: a figura de Jesus Cristo, e toda a religião e mitologia cristã, foram construídos com base num modelo pagão dos deuses solares que então se conheciam.
A própria escolha da data de 25 de Dezembro para comemoração do nascimento de Jesus Cristo é disso um inequívoco exemplo.
Aliás, esse dia 25 de Dezembro (o dia das festividades dos Deuses Mitra, Baal e Baco) só foi adoptado pela Igreja Católica já no século IV, por decisão do Papa Libério, com o óbvio objectivo de “cristianizar” os cultos solares, então ainda muito populares e difundidos e de os fazer confundir e “absorver” pelos próprios ritos cristãos, dada até a proximidade com a data do Solstício de Inverno – data da “morte” do Sol no horizonte – e a data em que o Sol “ressuscita” e se eleva novamente horizonte três dias depois, exactamente no dia 25 de Dezembro.
Merece especial referência o facto de todos esses Deuses solares serem representados fisicamente com a cabeça rodeada de um disco ou uma auréola amarela, como ainda hoje acontece com os Deuses e até com os santos católicos.
Aliás os próprios imperadores romanos que governaram no auge do culto destes deuses solares faziam-se representar devidamente aureolados, por exemplo nas moedas que mandavam cunhar.
O imperador Constantino, a quem se deve a criação da Igreja Católica Apostólica Romana (e que nunca se converteu ao cristianismo, antes o tendo adoptado como religião oficial do império, sem nunca proibir as restantes, para melhor o unificar), mandava realizar regularmente sacrifícios em honra do Sol e as moedas que mandou cunhar continham a inscrição «Soli Invicto Comiti, Augusti Nostri».
Não obstante a oficialização do cristianismo no seu império, Constantino manteve a obrigatoriedade de as suas tropas rezarem e prestarem culto ao Deus Sol todos os Domingos, isto é, «O Dia do Sol».
Também neste dia do Sol se pode ver a óbvia influência destes cultos na formação dos ritos católicos, com a mudança do «Sétimo Dia» ou «Dia do Senhor» bíblico do Sábado para o Domingo, uma vez mais com o objectivo de fazer “absorver” as festividades e os ritos solares, nem que para isso se tenha tido de “aldrabar” a própria redacção de um dos mandamentos trazidos por Moisés do cimo da montanha.
Como se não bastasse a óbvia coincidência ritualística dos cultos solares com os cultos cristãos, como a morte violenta e ressurreição três dias depois, da presença física do Deus na custódia, no nascimento de uma mulher virgem, do «Dia do Senhor» como «Dia do Sol» (Sunday, em inglês), da auréola solar a coroar as divindades, da designação e da forma radiada do chapéu dos bispos católicos, ou «mitra», é precisamente com este Deus Mitra que se dá o mais curioso aproveitamento dos ritos e cultos solares por parte da Igreja Católica.
De facto, segundo a sua mitologia, muito popular por volta de 1.000 a.C., Mitra nasceu de uma virgem; nasceu no dia 25 de Dezembro; nasceu numa cova ou numa gruta; foi adorado por pastores; foi adorado por três magos ou sábios 12 dias depois do seu nascimento, a 6 de Janeiro, que interpretaram o aparecimento de uma estrela no céu como anúncio do seu nascimento, pregou incansavelmente entre os homens a sua mensagem de bem por oposição ao mal; fez milagres para gáudio dos que o seguiam; foi perseguido; foi morto; ressuscitou ao terceiro dia; o rito central do seu culto passava pela distribuição de pão e vinho entre os iniciados presentes, numa forma de eucaristia de composição e fórmula em tudo idênticas à que a Igreja Católica viria a adoptar.
Já na mitologia de Hórus, que teve o seu auge cerca de 2.000 aC., se passa exactamente mesma coisa. Hórus é filho de Osiris e de Isis, a sua mãe virgem que engravidou de um espírito com a forma de um falcão, com a curiosidade ainda de ter um pai terreno com a profissão de carpinteiro.
Também foi traído, torturado e morto, ressuscitando ao terceiro dia, o mesmo dia 25 de Dezembro.
Em suma:
Independentemente da bebedeira consumista que se apodera das pessoas, o que actualmente se comemora como o nascimento de Deus, na forma de «Deus Filho», ou de «Menino Jesus» (como se sabe, um dos deuses da Mitologia cristã), não é mais do que a apropriação de um culto pagão, de um «Deus Solar», como tantos houve durante a História dos Homens.
Para um católico, dir-me-ão, este aproveitamento ritualístico será irrelevante, na medida em que o seu significado mítico ou simbólico, qualquer que seja a forma ou a data em que se realiza, continuará sempre a ser (actualmente) o nascimento de Jesus Cristo, como referi um dos (muitos) deuses da mitologia cristã.
É certo.
Mas é também certo que esta apropriação existiu de facto, e o seu significado como fenómeno antropológico não pode ser ignorado.
Como também não pode ser ignorado, ainda assim, o manifesto significado simbólico, mítico e até místico dessa mesma apropriação.
Até por que uma coisa mais terá de ser realçada, essa sim, talvez a que contenha uma maior valoração simbólica deste aproveitamento e apropriação ritualísticos:
- É que, como não podia deixar de ser, toda esta transformação e apropriação foram feitas sob a égide de um Papa, mais exactamente do Papa Libério (352-366) e sob a força legislativa e fortemente repressiva do Imperador Constâncio II que, com mão de ferro e com uma ferocidade inaudita e que ficou na História, as impôs pela força das armas.
E assim, uma vez mais, vemos que também o ritualismo desta nova mitologia cristã, mesmo esta que se refere ao próprio nascimento do seu Deus, deste «Menino Jesus» deitado nas palhinhas, uma vez mais teve de ser impiedosamente imposta aos Homens pela força.
Obviamente depois do conveniente e costumeiro… banho de sangue…

2011-12-23

Para os mais pequeninos (II)

Recebi muitas mensagens de meninos a dizer que não tinham percebido lá muito bem aquela coisa da Teleologia, e que, por isso, não tinham feito o exercício de casa. Eu sei que é difícil, mas vou tentar explicar mais uma vez.
Imaginem os meninos um país qualquer - desde que não seja Portugal, claro. Um país onde haja muitos velhos. Ora, como os meninos sabem, os velhos são uns chatos, por várias razões. Primeiro, porque andam sempre a dizer "No meu tempo..." o que é uma chatice de todo o tamanho; depois, não trabalham, o que até nem é muito grave, mas ganham pensões de reforma, e aí sim, é que a coisa começa a ter alguma gravidade. Quem é que eles se julgam para ganhar sem trabalhar? Deputados? Gestores públicos? 
Bom, adiante. Como se não bastasse, os velhos, ainda por cima, fartam-se de tomar medicamentos que lhes permitem não só ter saúde como também, e isto já é preocupante, durarem cada vez mais anos. Reparem que já há idosos que morrem de velhos. Ora, num qualquer país civilizado esta situação seria insustentável. Porque se grande parte dos impostos vai para os medicamentos dos velhos, é certo e sabido que não sobra nada para comprar carros de alta cilindrada para os gestores públicos, pagar as falências fraudulentas de alguns bancos, pagar bons ordenados a "boys" inúteis e incompetentes, etc. Então, o que fazer? A solução é simples, e só peço a Deus Nosso Senhor para que nenhum governante leia este blogue: a solução passa por matar os velhos. 
Aquele menino ali ao fundo está a dizer-me que não se deve matar ninguém, que só Deus é que pode matar. Pois, mas há muitas maneiras de matar, não é preciso pegar numa metralhadora e começar a dizimar a velharia.    Se um iluminado se lembrasse de cortar nos subsídios à velhada, aumentar os preços dos medicamentos, reduzir as comparticipações, aumentar as taxas moderadoras e tomar outras medidas que Nicolau Maquiavel aconselharia, os velhos acabariam por morrer antes de chegarem a velhos. As despesas diminuiriam substancialmente, os gestores e outros "boys" passariam a viver melhor. E aí temos mais um exemplo do que é a Teleologia: provocar aumentos para a velhada deixar de meter nojo e ir andando, e a parasitagem continuar a viver à tripa-forra.
Deus queira que ninguém se lembre de aplicar isto em Portugal.

2011-12-21

Para os mais pequenitos

Meus meninos, hoje vou explicar-vos o que significa a palavra Teleologia.
Diz o dicionário que Teleologia é:

1.FILOSOFIA ciência ou estudo dos fins ou da finalidade
2.finalidade, ação diretora que o fim exerce sobre os meios
3.doutrina, oposta ao mecanicismo, segundo a qual há no mundo uma finalidade que se sobrepõe à causalidade eficiente

Mas como parece muito confuso, vou tentar explicar - que eu também não sou perito nestas coisas.
Vamos supor - atenção, eu disse supor - que o Governo quer acabar com o Serviço Nacional de Saúde (SNS). Não é verdade, mas vamos supor, que estas cousas de explicar as palavras não há nada como os exemplos, ainda que sejam absurdos, como é o caso.
Então, e partindo dessa suposição meramente académica e perfeitamente absurda, o que é que o Governo faria? Ora, fechava tudo o que fosse hospitais públicos e centros de saúde, e estava o assunto resolvido. Mas as coisas não podem ser feitas assim. Primeiro, porque dava muito nas vistas e era capaz de pôr gente na rua; depois porque um governo que se presa de cuidar cos cidadãos não iria fazer uma coisa dessas.
Mas há outras maneiras de resolver o problema - e esta nem lembraria ao Diabo mas, como já disse, estamos no campo dos supônhamos. Eu vou dizer o que é que faria, e só espero é que nenhum governante leia este blogue.
É assim: começava por aumentar brutalmente as taxas moderadoras. O Zé Funcionário Público, ao ver tais aumentos, o que faria? Faria contas, certamente. E sendo beneficiário da ADSE, rapidamente chegaria à conclusão de que lhe ficaria mais barato ir ao privado. O SNS começava a ter muito menos gente, e os funcionários públicos só lá iriam para o doutor assinar a baixe médica, quando fosse o caso. Vendo que o SNS estava a deixar de ter clientela, o ministro da saúde podia, perfeitamente, dizer: "Ó pá, só por meia dúzia de gatos-pingados, não vale a pena estar o SNS a funcionar, que isto só dá despesa e a Troica não alinha".

E prontos, aí estava uma razão de peso para encerrar o serviço. E chama-se a isto ou seja, a esta forma de proceder, Teleologia. Não sei se os meninos perceberam ou não, mas isto nem é original, faz-me lembrar aquele copianço de vender o ar em frascos. Por exemplo, há muitas repartições do Estado onde se aplica a teleologia. Por exemplo, as chefias não gramam um funcionário. Vai daí, começam por dar-lhe serviços foleiros; depois, tiram-lhe todos os serviços e ele fica sem fazer nada. Finalmente, abrem-lhe um processo por incompetência, porque está a receber o vencimento sem fazer a ponta de um corno.
Aliás, foi assim que uma companhia de caminhos de ferro num país que eu conheço procedeu: primeiro, mudou os horários dos comboios de modo a não interessarem a ninguém; depois, começou a queixar-se de que as linhas davam prejuízo porque ninguém andava nos comboios. Finalmente, encerrou as linhas.
E prontos, meninos. Agora vão para casa e escrevem cem vezes a palavra Teleologia.

2011-12-18

Carta aberta ao PC *


*Presidente da Câmara

Exm.º Senhor
Presidente da Câmara Municipal do Porto:
Como é, certamente, do conhecimento de Vossa Excelência, e se o não for pode passar a ser clicando aqui, o Excelentíssimo colega de Vossa Excelência na cidade da Guarda passou a patrocinar a venda de ar puro daquela cidade em frascos. Bom, se não patrocina, pelo menos permite ou, em último caso, assobiou para o lado. O que é facto é que a vereadora do Ambiente daquela Edilidade deu a cara pelo assunto.
Ora, apesar de o empreendimento tresandar a plágio, como se pode ver aqui, não restam dúvidas de que se trata de uma excelente ideia. É minha ideia, não esqueçamos. Estamos, ao que parece, num tipo de empreendimento emergente, como agora se diz, e que contempla um nicho de mercado assaz abrangente, como agora se diz também. Pelo que proponho a Vossa Excelência que a ideia – minha, insisto – seja aproveitada e posta em prática com muito mais possibilidades de êxito do que a que foi levada a efeito na Guarda.
Permita-me que me explique.
O que tem a Guarda para enfrascar? O seu ar puro, naturalmente. Mas mais nada. Mas o Porto, Senhor Presidente, não se limita a ter ar puro; o Porto tem ares de diversas qualidades! E qual delas a melhor.
Senhor Presidente: já se dignou passear pela Ribeira do Porto num qualquer fim-de-semana? Já viu a quantidade de turistas que por ali passam? Já viu como seria belo esses turistas poderem levar, num frasco ou boião, um pouco do genuíno ar da Ribeira, e respirá-lo sofregamente enquanto visionam as fotografias digitais no Picasa 3? Já imaginou como as contas da câmara poderiam ficar equilibradas e, até, apresentar mais-valias financeiras, se a CMP começasse a vender o ar do Parque da Cidade? Mais: Já viu a gama de escolhas que poderíamos ofertar, desde o ar do ar do Parque de S. Roque até ao ar da Praia dos Ingleses? Repare, por favor, nas potencialidades deste negócio: Vossa Excelência e o JNPC enterravam o machado de guerra e, em parceria, proporcionavam a venda de ar do Estádio do Dragão, sim, senhor Presidente, aquele ar com o cheiro a relva pisada misturado com o fumo dos “very-lights” e com uma pitada de suor dos jogadores… Imagine só os lucros fabulosos nos jogos internacionais, nacionais que fossem! Vou mais longe, no meu ambicioso projecto: uma parceria com a C.M. de Matosinhos, para se vender o ar da Petrogal. Não é que seja muito agradável, mas é raro, pelo que o seu preço seria, sempre, em função da procura, que seria elevada, não tenho dúvidas.
Depois… o limite está na imaginação que, como Vossa Excelência sabe, não tem limites. Haveria ar para todos os gostos: desde o ar da Lipor até ao da ETAR; poderíamos enfrascar o cheiro das genuínas e mui portuenses Tripas à Moda do Porto, e das não menos genuínas Francesinhas.
Aqui fica, pois, o meu projecto. Aproveite-o Vossa Excelência da forma como mais lhe aprouver, sendo certo que desde já me comprometo a não cobrar um tostão por direitos de autor, ou de percentagem nos fabulosos lucros que se adivinham, e que farão inveja às CGD, EDP e quejandos.


2011-12-17

O ar da Guarda


País - Já pode comprar ar puro em frascos - RTP Noticias, Vídeo

Duas estações televisivas davam notícia de que o Teatro Municipal da Guarda (TMG) estaria a comercializar o ar puro da Guarda, em frascos devidamente embalados. Afirmavam que se tratava de uma iniciativa "original".
Desde logo, não sei se é possível introduzir o ar dentro de frascos - basta abri-los, julgo eu - e, depois, respirar esse mesmo ar. Os meus conhecimentos de física não me permitem saber quanto tempo depois de abrir o frasco o ar se mantém, inalterado, no seu interior. Do mesmo modo modo, não sei até que ponto o ar pode ser vendido - a menos que o TMG se limite a vender os frascos, oferecendo o ar como brinde. Seja como for, uma preocupação me apoquenta: vendendo o ar da Guarda e considerando, dada a excelente qualidade, uma procura fora do normal, tanto que até já se fala em exportação, não se correrá o risco de os guardenses começarem a respirar ar impróprio, poluído ou contaminado? Ou será que as quantidades disponíveis de ar são suficientes para dar e vender?
Adiante..
Recuemos uns anos.
No ano de 1984, na qualidade de Subinspector da Polícia Judiciária, e até 1986, chefiei a então Subinspecção da Guarda. Posso dizer que me apaixonei pela cidade, o que não é nada difícil, e criei, com ela, uma ligação afectiva muito forte. De tal modo que não há, praticamente, um ano que eu não visite a Guarda - embora ainda me doa constatar o desaparecimento do emblemático "Monteneve", ali na Praça Nova, mas o progresso é quem manda. Ainda tentei fazer da Guarda a minha cidade natal, mas já estava, na altura, 41 anos atrasado, segundo me disseram.
Após a aposentação, e como não tinha mais nada de útil para fazer - não tinha, ou não sabia... - comecei a escrever. Dois dos meus romances falam da Guarda: um, de forma implícita ("Não Há Crimes Perfeitos?"), já que a história de desenrola à volta da investigação do que ficou conhecido pelo "Caso da Fonte Seiça; o outro, e é este que nos interessa, fala explicitamente na "Alta cidade da vetusta Beira". Livros cuja leitura recomendo viva e obviamente.
Voltemos ao ar engarrafado, ou será melhor dizer enfrascado? A ideia tem duas vertentes, que acabam por entroncar na mesma origem, a saber: a ideia é excelente, mas não é originalNão é original porque é minha, e é excelente pela mesmíssima razão.
Com efeito, em Julho do corrente ano na Papiro Editora dava à estampa o meu mais recente romance - "O Alfa das 10 e 10". A páginas tantas, é descrita, em pormenor, uma tentativa, concretizada em parte, de vender o ar puro da Guarda. Não era em frascos, era em garrafas ou garrafões, como se pode ler no texto "A reunião preparatória". Infelizmente, os empreendedores empresários deixaram que a ganância falasse mais alto, e o negócio lá foi por água abaixo.
Assim sendo, para bem  do meu ego, gravemente ferido e mais amarfanhado do que o chapéu de um pobre, bom seria que a verdade fosse reposta, e que e a César fosse dado o que a César pertence sendo que, neste caso, o tal César sou eu. Vendam, à vontade, o ar da Guarda, ate o podem dar, se quiserem; mas não digam que a ideia é vossa; ela é minha, muito minha!

Acho eu...



A reunião preparatória  

(…)
Felizmente que "Nelo Careca" era homem de ideias. Muitas ideias, embora nem sempre ou, para ser mais exacto, quase nunca, a quantidade correspondesse à qualidade.
As cidades estavam poluídas com o crescente aumento da utilização dos automóveis, e havia pessoas a queixar-se de dificuldades respiratórias. "Nelo Careca" tinha lido, algures, que os ares da serra eram mais puros, o que se compreende, porque lá em cima sempre há menos automóveis, e leu mais, que quanto mais alta fosse a serra mais puro era o ar, o que também começa a fazer certo sentido, considerando a consideração anterior. Ora, o ponto mais alto de Portugal é o Pico, na ilha com o mesmo nome, mas fica um bocado à desamão, pelo que os continentais terão de se contentar com o que há por cá. Ora por cá, como toda a gente sabe, temos muitas serras, a mais famosa das quais é a da Estrela, não só por ser a mais alta mas também por ter neve e tudo. Os ares daquelas bandas são tão puros que até houve, em tempos, um sanatório ali nas imediações, mais exactamente na cidade da Guarda que, não sendo tão alta como a Serra da Estrela, é a cidade mais alta de Portugal. Todos estes ingredientes bastaram para que "Nelo Careca" se decidisse a fazer aquilo que se chama, hodiernamente, uma prospecção de mercado. Reuniu o terno e marchou, e este marchou mais não é do que uma figura de estilo, ninguém, em seu perfeito juízo, se põe a marchar desde o Porto até à Guarda, mas pronto, o terno lá se deslocou até à Alta cidade da vetusta Beira[1], como rezou o poeta Júlio Ribeiro. Planeava que as pessoas das cidades, principalmente da cidade do Porto, ou, até, do chamado “grande Porto” pudessem usufruir dos ares puros da Serra, ou seja, queria tratar da saúde àquela gente toda. Não era fácil. Como conseguiria, alguma vez, levar mais de trezentos mil habitantes a tomar o ar da montanha, se o carro só levava quatro? Pronto, está bem, com jeitinho e apertados caberiam seis, mas só se os outros elementos do terno não quisessem viajar, mas mesmo seis era pouco para fazer face às despesas, a gasolina estava cada vez mais cara, de repente lembrou-se de ter ouvido, algures, um provérbio que dizia, mais ou menos, Se a montanha não vai a Maomé, Maomé vai à montanha, lembrança que foi de grande alegria para "Nelo Careca" e para o terno, já que tinham o problema parcialmente, mas era um parcialmente muito grande, enorme, resolvido, e que era, afinal, muito simples, bastava aplicar o provérbio ao contrário, aliás, há muita gente que diz que a montanha é que foi a Maomé e não o inverso, o que não dá para acreditar muito, não tem grande lógica, as montanhas não andam, pois bem, se as pessoas não podiam ir à Guarda tomar o ar, trazia-se o ar da Guarda para as pessoas, devidamente engarrafado, claro, bastava-lhes abrir a garrafa ou o garrafão e respirar o ar que se encontrava lá dentro, não há nada como os provérbios antigos, modernos que sejam, vejam lá o que a gente aprende com eles, não é por acaso que se diz que os provérbios são a voz do povo e, como toda a gente sabe, a voz do povo é a voz de Deus, estão a ver, outro provérbio que encerra verdades como punhos, embora, neste caso, talvez fosse mais correcto dizer que a voz é de Alá e não de Deus, já que é de Maomé que falamos, e foi Maomé que inventou Alá, que Deus já tinha sido inventado tempos antes. Eis, pois, que o terno passou a deslocar-se semanalmente à Guarda, às vezes mais que uma vez por semana, donde traziam o carro atulhado de garrafas e garrafões de plástico cheios de ar puro da Serra que, depois, iam vendendo a quem tivesse dificuldades respiratórias, três euros a garrafa, dez euros o garrafão, se devolvessem o vasilhame tinham desconto de cinquenta cêntimos, meus amigos, aquilo vendia-se como pão na padaria, quando havia padarias, naturalmente, podem não acreditar mas eu posso assegurar-vos que houve pessoas que passaram a sentir-se melhor, a respirar sem dificuldade, algumas houve a quem o médico garantiu, doença pulmonar obstrutiva crónica? Nem pense nisso! Os seus pulmões estão limpos como a palma da minha mão, grande coisa é a psicologia, o terno voltou a encher-se de dinheiro, e já pensava em comprar uma carrinha quando a ganância passou a falar mais alto, e toda a gente sabe, se não sabe devia saber, que não se deve dar ouvidos à ganância, quer ela fale alto quer fale baixo, isto é um conselho que dou gratuitamente, só têm que pagar o livro, mais nada, quando ouvirem a ganância a falar façam como Ulisses, que mandou os marinheiros amarrá-lo ao mastro com os ouvidos tapados para não ouvir o canto das sereias, mas "Nelo Careca" nunca tinha lido a “Odisseia”, limitava-se a ler a “Caras” e a “Maria”, que não falam nessas coisas. Ora, quando a ganância falou deu maus conselhos, a saber, como é que as pessoas conseguem distinguir o ar da Serra da Estrela do ar de outra serra qualquer, isso é como a água benta, como é que se distingue da outra? mas a verdade é que se distingue, nunca ninguém se benzeu com água da torneira, de charco, engarrafada que fosse, o que é certo é que "Nelo Careca” achou que a ganância tinha razão e, poupando nas despesas iria, fatalmente, aumentar os lucros, sempre assim foi e há-de continuar a ser, se Deus Nosso Senhor quiser, daí que tivesse deixado de efectuar as longas viagens até à Guarda, substituindo-as por mais rápidas e económicas jornadas à Serra do Pilar, para o que bastava atravessar uma das pontes que unem as margens do Douro. Não tardou, porém, que começassem a cair reclamações, ah, e tal, o ar não é tão bom como o costume, veja lá se é do fornecedor, eu assim não compro mais, antes quero continuar a respirar o ar normal, sempre é mais barato, o meu médico já me disse que eu estava pior, devia procurar outros ares, a provar que o ar da Serra da Estrela não se confunde com outro ar qualquer, tal como a água benta não se confunde com a água rafeira, o que é certo é que os fundos do terno estavam a chegar ao fundo, a clientela fugiu, a firma perdeu credibilidade, e foi nessa altura que, em desespero de causa, "Nelo Careca" tentou a cena cigana que atrás se descreve, com as consequências igualmente descritas.


[1] Alta cidade da vetusta Beira,
Entalhada na monstra serrania.
Chamem-te, embora, Feia, Falsa e Fria,
Mas és, também, fidalga hospitaleira.

2011-12-14

Como se insulta com diplomacia

O Governo descobriu uma maneira simpática de insultar os portugueses. Para além de lhes ir aos bolsos desalmadamente, sem qualquer tipo de vergonha, o Governo desatou a chamar idiotas aos esmifrados tugas. Só que o Governo insulta os portugueses com diplomacia.
Valha-nos isso, ao menos. Pode ser haja quem não perceba o insulto e, nesse caso, o insulto não funciona. Mas não é o caso da esmagadora maioria da população - embora alguns governantes continuem a achar que os portugueses permanecem imbecis como antes do "25 de Abril". Parece que quem é imbecil não é a chamada "sociedade civil", aliás.
Dito isto: O ministro da Saúde vem a terreiro garantir que as consultas não aumentam para 10€. E para basear a sua afirmação, conta-nos a sua versão, corrigida e aumentada da galinha da estatística: "«Vamos fazer uma conta simples, por cada português daria a mais por ano cerca de dez euros, mas não dá, porque há quase sete milhões de portugueses que total ou parcialmente estarão isentos, portanto há três milhões de portugueses que vão pagar este acréscimo, então estes 90 a 100 milhões de euros divididos por três milhões darão cerca de 30 euros por ano, quer dizer que em média cada português pagará mais 2,5 euros daqueles que não estão isentos».
Seria anedótico, se não fosse triste.

2011-10-25

Milagres...

A cada passo somos confrontados com fenómenos inexplicáveis – ou convenientemente deturpados de modo a dificultar a explicação. Ou é o olho da D. Guilhermina que se cura milagrosamente graças à intercepção de D. Nuno Álvares, ou é uma freira que, milagrosamente, vê a sua doença de Parkinson desaparecer, ou é uma mulher que vê regredir um cancro na garganta.
Quando a ciência não pode – ou não sabe, que a ciência não sabe tudo e ainda bem, acrescento eu – explicar os fenómenos, aparecem os aproveitadores do costume a berrar que nem ovelhas desmamadas, “milagre, milagre!”.
Era assim nos primórdios da Humanidade, quando o Homem foi confrontado com fenómenos na altura inexplicáveis; foi assim que nasceram os deuses, posteriormente reunidos num só, suponho que por razões económicas.
Em resumo: quando ocorre um fenómeno inexplicado, é milagre. E o presumível autor do “milagre” começa a percorrer o rápido caminho para a santidade
Ponto final.
A televisão tem-nos dado conta de uma senhora que deu à luz uma criança que nasceu sem uma das mãos. Hoje mesmo, perante as câmaras, a senhora afirmava ter tido uma gravidez e um parto normais, e que a ciência não encontrava explicação para o fenómeno.
Estão, pois, creio eu, reunidas as condições para que o fenómeno seja considerado milagre, e para a senhora ser beatificada. Ou santificada, sabe-se lá… Com a vantagem da originalidade: o milagre deu-se com a autora ainda viva, não deixando margem para dúvidas ou especulações, enquanto os outros têm ocorrido com os presumíveis autores já defuntos, não podendo haver certezas quanto à autoria. Só suposições.
A Congregação Para a Causa dos Santos está à espera de quê? De que a senhora morra?

2011-10-23

ESTÁ NA LEI...

Ultimamente, a sociedade tem vindo a ser sacudida com o conhecimento de escandalosas prebendas auferidas por alguns governantes e/ou figuras cimeiras de cargos públicos. Ainda não se tinham apagado os ecos das auto-promoções e consequentes aumentos salariais de altos responsáveis da PSP, e eis que nos chega a notícia de que alguns governantes, entre eles o ministro da Administração Interna, recebem subsídio de renda de casa - não obstante o possuírem casa própria na Capital. No primeiro caso, até houve tentativa de camuflar o acontecimento, mas sem sucesso.
Pois bem, quando questionados, o que dizem estes responsáveis(?)? Que "está na Lei". Aliás, ainda hoje o MAI dizia, na televisão, que iria renunciar ao subsídio "que a lei" lhe concedia. 
Ó senhor ministro: que está na lei, toda a gente sabe! Já chega de tratar os portugueses como atrasados mentais. Mas não seria conveniente dizer, aos portugueses, que foram vocês que fizeram essa lei? Tal como fizeram outras para vosso benefício?
Já agora: sabia que os subsídios de Natal e de férias que vão ser roubados aos funcionários públicos no activo e na aposentação também "estão na lei"? E que os vencimentos e as pensões que vão ser cortados também "estão na lei"? Não sabia, certamente. O que se compreende, o senhor está há pouco tempo no governo, não é obrigado a conhecer as leis todas. Basta que conheça as que o beneficiam.
Um bocadinho de sentido ético, e não viria mal ao mundo.

2011-10-16

OS FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, ESSES RICALHAÇOS...!


Confesso, desde já, que sou suspeito: não votei no partido do governo, logo, nada tenho a ver com a escolha deste primeiro-ministro. Não obstante, e na minha qualidade de ingénuo compulslivo, senti uma réstia de esperança, quando Pedro Passos Coelho foi escolhido para chefiar o governo.  Sabia que dias difíceis viriam, mas pensei que, pelo menos, ficávamos em boas mãos, em termos de honestidade intelectual, fartos que estávamos (os que estavam…) das mentiras do outro.
Afinal, só as moscas mudaram.
José Sócrates tinha diabolizado tudo quanto era função pública, só lhe tendo faltado dizer que os funcionários públicos eram os causadores da crise. Mas se José Sócrates dizia mata, Pedro Passos Coelho diz esfola.
Afinal, os funcionários públicos não só são responsáveis pelo buraco financeiro, e só assim se compreende que tenham sido eles os eleitos para tapar esse buraco, como também são ricalhaços. Sim, senhores: os funcionários são ricos como o caraças, que até ganham, em média, 10 a 15% mais que o sector privado.
Essas médias são conhecidas. São como a história do frango: se eu comer um, e tu não comeres nenhum comemos, em média, meio frango cada um. E é sabido onde é que Pedro Passos Coelho foi buscar essa média. É simples: um piloto da TAP é capaz de ganhar mais do que um piloto da RyanAir, por exemplo; uma chefia da CP é capaz de ter mais prebendas do que o chefe de secretaria do Barraqueiro ou da Resende; provavelmente, um administrador de um qualquer hospital privado ganhará menos do que um administrador de um hospital público ou EPE. Etecetera, que os exemplos abundam (infelizmente). Mas esses são uma minoria. São uma minoria mas, mesmo assim, suficientes para alterar toda a estatística: eles é que comem o frango... Aliás, é consabido que Portugal está entregue, em termos de tachos e gamelas, a uma minoria. E não é essa minoria que vai pagar os sucessivos buracos. Pelo contrário, o seu dever é cavar ainda mais fundo.
Adiante.
Quanto ganha um professor do público, e quanto ganha um do privado? Quanto ganha um médico do público, e quanto ganha um do privado? E um enfermeiro? E um motorista? E um escriturário? E um Assistente Operacional de Fluxos Humanos, vulgo porteiro? São estes, senhor primeiro-ministro, que fazem a função pública. Não são os outros. Porque são estes que trabalham, se esforçam, que aturam chefes com problemas domésticos, e/ou psicológicos e não têm telemóvel pago, nem gasolina grátis, nem cartão de crédito ilimitado (alguns, nem limitado), nem automóvel do Estado (pago por nós).
Um pouco de honestidade intelectual só lhe ficava bem, senhor primeiro ministro; para mentiroso, já tínhamos o outro. Então, deixava-o ficar. Já estávamos habituados.

2011-09-19

O BURACO DO JARDIM

Parece que anda todo o mundo aflito, por se ter descoberto (mais) um enorme buraco financeiro, desta vez no Império do Atlântico, mais conhecido por ilha da Madeira - aliás considerado a democracia mais avançada de África.
Eu ainda não consegui ver onde esteja o problema. Mas assumo a minha distracção. Aliás, o dr. AAJ diz, claramente, que sim senhor, gastou, mas apresenta obra feita. Ora: não foi isso que fizeram todos? Os governos que transformaram Portugal numa imensa auto-estrada, que plantaram estádios de futebol em tudo o que é sítio, que criaram institutos e fundações para dar emprego aos familiares e amigos, não foi isso que fizeram? As famílias endividadas, que compraram vivendas, mobiliário e automóveis, que viajaram para os paraísos turísticos quando já só tinham dinheiro para ir até ao Castelo do Queijo, não apresentaram "obra feita"? Então, porquê esta escandaleira à volta do dr. AJJ?
Quanto a mim, trata-se, apenas, de inveja. Nenhum político português conseguiu estar no poleiro durante mais de trinta anos, através de eleições. E isso dói. Nenhum político português teve a ratice que tem o dr. AJJ. Fez o que quis, quando quis, como quis, insultou tudo o que era gente, desde o sr. Silva até aos "bastardos" dos jornalistas a quem, por esmerada educação, não chamou "filhos da puta", conseguiu o dinheiro que entendeu, quando entendeu, e nunca ninguém lhe pediu contas. Aliás, só assim, puxando para a Madeira e para os madeirenses, é que conseguia ser eleito tantas vezes. Ou não?
Escondeu a dívida? E depois? Poderá custar-lhe 25 mil euros. Trocados, que os "cubanos" pagarão alegremente. Assim ou assado, mas pagam.
Vale uma aposta e o homem vai ser eleito em Outubro?

2011-09-06

SEMPRE ATENTO E VIGILANTE...

...o nosso presidente da República mostrou-se crítico relativamente ao número excessivo de jogadores estrangeiros.
No momento grave que o país atravessa;  em que o governo nos vai (mais uma vez e todos os dias) aos bolsos; em que as condições de vida dos portugueses se agravam; em que famílias perdem a vergonha de ser pobres e vão mendigar uma refeição às IPPS; em que já se foram os anéis e os dedos vão a caminho; em que se descobre um buraco descomunal na Madeira, que os portugueses terão de tapar; em que diariamente há notícias de empresas a fechar e a mandar para o desemprego mais umas centenas de trabalhadores, é bom saber que alguém se preocupa, verdadeiramente, com os reais problemas dos portugueses e de Portugal.
Nero defendia panen et circencis, para manter os romanos tranquilos; em Portugal, como já vai minguando o pão, ao menos que haja circo.  Ainda bem que vai havendo quem trate disso...

2011-09-02

O FUTEBOL E O PAÍS

A revista "Sábado" noticia que Paulo Bento afirmou ter, Ricardo Carvalho, traído o País. Não sei de quem é a responsabilidade do termo "trair o país"; se da Sábado, se de Paulo Bento. De qualquer das formas, e sem pretender fazer juízos de valor relativamente à atitude de Ricardo Carvalho (estou-me borrifando para o futebol) há que pôr os pontos nos respectivos ii.
Em primeiro lugar, e embora não pareça, Portugal é bem maior que um mero campo de futebol. O país não se resume ao pontapé na bola - embora tudo indicie o contrário, e certos governantes cultivem esta confusão. Depois, não reconheço à selecção portuguesa de futebol qualquer representatividade do país. O país tem um representante, eleito pela maioria dos votantes (não confundir com a maioria dos portugueses). Não me recordo de ter, de algum modo, contribuído para a eleição dos "ricardos carvalhos" "cristianos ronaldos" etc. nem, sequer, fui chamado a pronunciar-me quanto à escolha do seleccionador. Eu, cidadão português e contribuinte (e de que maneira!) não fui tido nem achado quando puseram Paulo Bento a orientar a selecção de futebol. Nem quero ser! A selecção, no meu entender, não representa Portugal; representará, quando muito, a Federação Portuguesa de Futebol. Por isso, se Ricardo Carvalho traiu alguém, não foi o país: foram os interesses futebolísticos e/ou federativos.

2011-08-23

"E não separe o Homem..."

Fazendo “zapping” pela TV, deparei-me com o programa da manhã da TVI. Debatia-se o problema da violência doméstica e, a certa altura, o psicólogo Quintino Aires aponta, sem apelo nem agravo, o dedo à Igreja Católica, acusando-a de ser fortemente responsável por muitos dos casos de violência doméstica. Apontou um exemplo concreto de uma senhora. Tendo-se divorciado do marido, devido a frequentes maus-tratos, mas não perdendo de vista a sua formação católica, foi confessar tamanho “pecado”. Quando o padre confessor lhe fez a pergunta sacramental acerca do arrependimento a confessanda declarou, naturalmente, que não estava arrependida. Facto que lhe valeu não só não ter sido absolvida, como também o afastamento da igreja.
Recordo-me de ter visto e ouvido, também na TV e há tempos, o testemunho de uma outra senhora que, sendo alvo das sucessivas agressões do companheiro, se foi aconselhar com o padre. Este, como sapiente conselho, recomendou-lhe “humildade”. Provavelmente, não lhe chegou a língua para dizer “humilhação”. Ou não sabe a diferença (que é muita) entre as duas palavras.
O Dr. Quintino Aires foi, apesar de tudo, bastante meigo para com a Igreja Católica. Porque a chantagem começa logo no acto do casamento. Quando o padre os declara marido e mulher (nunca mulher e marido…) trata logo de acrescentar: “E não separe o Homem aquilo que Deus uniu”. Não se pode ser mais fraudulento! Para “unir”, é Deus; para “separar”, é o Homem. Deus manipulado à vontade e conveniência da Igreja. Aliás, o que se pode esperar de um deus inventado? E o que pergunto, é: o deus que “uniu” já não pode separar? Porquê? Não tem poder para isso? Ou não quer? Ou é a ICAR que não quer? O cônjuge violentado terá de sofrer “até que a morte os separe”? Porque é assim a vontade de Deus? Ou é assim a vontade da Igreja Católica?

Em simultâneo no Diário Ateísta.

2011-08-19

O Papa e a Ciência


Que o Papa não gosta de Ciência, já todos sabíamos. Quanto mais não seja porque, como alguém já disse, a cada passo da Ciência corresponde, inevitavelmente, um recuo da religião – seja ela qual for. Acontece, porém que, ao contrário do que acontecia em tempos que não voltarão, a religião já não consegue travar a Ciência. Pelos vistos, porém, Joseph Ratzinger ainda não se apercebeu disso. Provavelmente anda distraído, de contrário não faria apelos tão retrógrados como este.
Limites para a Ciência, senhor Ratzinger? Quais limites, se faz favor? Está com medo de quê? De que o seu moribundo ”deus” faleça de vez?
Em simultâneo no Diário Ateísta

MANTA CURTA

Não sei se já ouviram falar na teoria da "manta curta". Resume-se nisto: no inverno, você aconchega o peito, mas descobre os pés; aquece os pés, mas descobre o peito.
O novo governo, pelos vistos, já ouviu falar. Ou está a aproveitar a que foi deixada pelo governo anterior... que além de curta, está usada e cheira mal.
Vejamos como se aconchega os pés mas, fatalmente, se deixa o peito ao frio.
Mais: faça-se as contas, e verifique-se que a importância despendida em dias (por má gestão anterior, naturalmente) vai demorar meses a ser recuperada. à custa de quem? Ora, dos pagantes do costume.
Naturalmente.

2011-08-15

"O GOVERNO NÃO COMUNICA"

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, citado pelo "Correio da Manhã", disse, na TVI, que o governo não comunica, e não consegue explicar aos portugueses por que razão estão a apertar o cinto.
Não sei se o Prof. está a tentar justificar o governo, se está a tentar deitar água na fervura, ou se é ingénuo - embora eu rejeite, liminarmente, esta terceira hipótese. Porque, meu caro Professor: ninguém é capaz de explicar o inexplicável. E inexplicável é, por exemplo, a electricidade "saltar" dos 6% para os 23% de IVA, enquanto os bilhetes de futebol se mantêm nos 6%. Isto, para já não falar no golfe.Inexplicável é o actual ministro das finanças "explicar" que "a esmagadora maioria dos países da União Europeia" paga a electricidade à taxa máxima de IVA esquecendo-se, convenientemente, de que Portugal é dos países com menor nível de vida. Inexplicável é, por exemplo, os dividendos de acções ou os lucros das grandes empresas não sofrerem qualquer corte no subsídio de Natal, ao contrário do que acontece com pensões de miséria. Inexplicável é saber que o estado continua a gastar à tripa-forra, e que a única medida que houve foi... cortar nos vencimentos dos funcionários mantendo, no entanto, incólumes, os inúmeros e inúteis institutos, alguns dos quais ainda ninguém conseguiu explicar para que servem. Inexplicável é que um político se candidate a primeiro-ministro sem, ao menos, saber em que estado se encontra(va)m as finanças públicas; de tal modo que só agora é que anda a "descobrir" buracos (Os governos anteriores são sempre culpados, mas... onde é que eu já vi isto? ). Inexplicável é pretender que seja a classe média a pagar a crise, enquanto a classe alta se mantém isenta de sacrifícios.

2011-08-12

APANHADA

Visitando o "Covent Garden", em Londres, fui surpreendido por uma bela voz que provinha do piso inferior. Só tive tempo de preparar a máquina e filmar o que restava da ária "Nessun dorma" da ópera Turandot (Puccini). Mesmo assim, ainda tive de interromper a filmagem, porque alguém decidiu dar-me um encontrão. Afinal, eu não estava sozinho a apreciar a voz...

2011-08-11

O FIM DA ISENÇÃO

Há tempos, alguém inventou uma coisa chamada "taxa moderadora". Para quê? Simplesmente - e esse era o espírito da lei - para evitar que as pessoas acorressem às urgências hospitalares e/ou aos centros de saúde por dá-cá-aquela-dor-de-cabeça, e pensassem seriamente que acabava por ficar mais barato acorrer directamente ao farmacêutico. Descongestionava-se os serviços, e os casos realmente justificados eram atendidos mais rapidamente.
O povo português, no qual se incluem os políticos, é extremamente inventivo, e quando se trata de adaptar as situações, principalmente no que tange a ganhar dinheiro rápida e facilmente é incrivelmente criativo. Veja-se o que aconteceu com a renovação das cartas de condução: contrariando o princípio de que a lei deve ser geral e abstracta e, principalmente, não deve ser aplicada retroactivamente (a não ser para beneficiar o cidadão), alterou-se tudo para ganhar mais uns tostões. Até com coimas...  Se há excepções àquela regra, os políticos não estão incluídos. Daí que rapidamente transformaram uma medida destinada a facilitar os serviços, numa fonte de receita. E a taxa moderadora vai passar, provavelmente, a fazer parte do Orçamento de Estado.
Sou suspeito, porque estou (infelizmente) isento do pagamento da taxa moderadora; mas não é menos verdade que quando tiver de a pagar, não irei precisar (felizmente) de deixar de comer nem terei de acorrer a empréstimo bancário. Do mesmo modo que sei que quem tem poder (leia-se dinheiro), está-se borrifando para a taxa moderadora. Nem vai ao SNS, e no privado não se paga a bendita taxa. Porém, posso dar a minha opinião, que é esta: transformar a taxa moderadora numa fonte de receita, desvirtuando a sua finalidade primeira, é uma medida injusta, porque cega e desenfreada. Porque é injusto que um cidadão que é obrigado a ir ao médico, tenha de pagar a taxa. Um doente oncológico, por exemplo, vai pagar taxa moderadora, porquê? Para pensar duas vezes antes de ir, inevitavelmente, ao médico? Se ele, doente oncológico, vai ao médico porque tem gripe, ainda vá que não vá; mas se vai ao médico porque o cancro tem de ser tratado, é desumano. No mínimo.

2011-08-10

ACORDO FONÉTICO?

Tal como já referi AQUI, a comunicação social vai-se travestindo, com as modas que ela própria inventa. Com a vantagem de uma moda ser ainda mais irritante que a outra.
Ainda não passou a moda de respirar ruidosamente, principalmente no decurso de reportagens no exterior (e isso parece que já se pegou à simpática professora universitária que costuma comentar na RTP aos fins-de-semana), e já outra se perfila.
Os locutores - alguns locutores, registe-se - decidiram que era mais "bonito" dar a impressão de que estão a falar de improviso. Assim, durante a leitura do teletexto vão intercalando uns "aaaaa..." como se estivessem à procura da palavra ou expressão mais apropriada. Por exemplo: "Assim, aaaaa, logo que seja possível retomaremos a emissão", ou "o capitão da equipa aaaaa. dirigiu-se ao árbitro...". Nada contra, se calhar. Dá mais vivacidade, e evita-se o tom monocórdico da leitura.
Mas - há sempre um "mas"... se se limitassem a meter o "aaaaa" pelo meio, ainda vá que não vá. Mas alguns iluminados vão mais longe.
Eu explico: por norma, ou por tradição, ou por outra razão qualquer, quando uma palavra termina em "S" e a seguinte começa com uma vogal, o "S" transforma-se em "Z". Assim, costumamos dizer, por exemplo, "azactas da reunião", quando escrevemos "as actas da reunião"; ou "ozolhos da jovem", quando escrevemos "os olhos da jovem". Mas os nossos competentes e "originais" locutores, acham que isso é passadismo. E afinfam-lhe com pérolas deste tipo: "ajactajaaaaa da reunião" ou "ojolhojaaaa da jovem". Nunca deram fé? É giro, pá!
Como se não bastasse o Acordo Ortográfico, estou a ver que alguém anda a engendrar um... Acordo Fonético.

RECEITAS ELECTRÓNICAS

A comunicação social, ao que tudo indica, também sofre a influência das modas. Porventura com o intuito de ser "original", inventa as próprias modas que, depois, segue religiosamente. Ou seja: um órgão de comunicação social inventa, e os outros vão atrás.
Ultimamente, tem-se debatido a "receita electrónica". E a comunicação social farta-se de berrar que há médicos que não cumprem, que há médicos que nem sabem mexer num computador, aqui d'el-rei que as "receitas electrónicas" nunca mais avançam. E assim se vai espalhando a confusão e... a ignorância.
Afinal, o que é uma "receita electrónica"? Não existe! Pelo menos, para já. A comunicação social vai chamando "receita electrónica" à receita que... é passada por computador - como se de uma sofisticada máquina de escrever se tratasse. Alguém "decidiu" chamar a isso "receita electrónica" e os outros foram atrás, alegremente. Ora, a meu ver, isso não é uma receita electrónica.
Tanto quanto julgo saber, o conceito de "documento electrónico", seja receita, seja recibo, seja dinheiro, implica a ausência de suporte físico. Uma declaração de IRS feita em computador e enviada, via Internet, para as Finanças, é, sim senhores, um documento electrónico. As finanças analisam o documento, electronicamente, certamente que cruzarão dados e, se for o caso, devolvem dinheiro ao contribuinte. Electronicamente, já que a importância é creditada na conta bancária. Provavelmente, nem haverá dinheiro físico pelo meio.
Uma receita passada com a ajuda de um computador, é tão "electrónica" como o talão que nos dão no supermercado. Ele também é passado por computador...
Parece que houve uma experiência-piloto, com a passagem de receitas electrónicas (sem aspas, naturalmente): o médico redigia a receita no computador, o documento ficava num servidor e, depois, ao farmacêutico bastaria inserir o número de beneficiário; a receita aparecia, o farmacêutico aviava, e o documento ficaria arquivado no dito servidor - ou noutro qualquer. Isso, sim, seria uma receita electrónica.
As outras, não são.

2011-06-29

AS DESGRAÇAS

Morreu o actor/cantor/modelo Angélico Vieira. Desde já, lamenta-se a morte. Qualquer morte.
Durante dias, as TV invadiram as nossas casas com "directos" de vigílias e orações. Que nada resolveram, como era de esperar. Nunca rtesolveram, não era agora que iam passar a resolver... Vamos esperar por mais dias de notícias sobre autópsia, câmara ardente, funeral. E o inevitável desfile de vaidades, que as TV vão lá estar. Muitas lágrimas e muito ranho, em directo. Há-de ser transmitida a missa do 7º dia, provavelmente também "em directo".
Entretanto: alguém sabe notícias de Sónia Brasão? Morreu? Está melhor? Ou deixou de ser notícia?
Desculpem, foi só um aparte...
Dizia eu que Angélico Vieira continuará a ser notícia, até à próxima desgraça. Quando ela acontecer, toda a gente vai esquecer Angélico Vieira.
Quem é que ainda se lembra de Sónia Brasão?

PS: Morreu Salvador Caetano que, apenas com a 4ª classe, construiu o império que hoje conhecemos. Fez mais, pelo país a dormir, do que todos os angélicos vieiras acordados.
Morreu, aos 85 anos.
Sem "directos".
Sem vigílias.
Sem orações...

A vida é mesmo filha da puta, não é?
Ou algumas pessoas é que são?

2011-06-24

"ELES NÃO SABEM, NEM SONHAM..."

Hoje, logo pela manhã, a RTP noticiava, relativamente às festas de S. João, qualquer coisa como (e cito de memória): "O fogo de artifício, encerrou a noite de S. João, na cidade do Porto". Pode não ter sido exactamente assim, mas a ideia é essa.
E agora começamos a perceber algumas coisas. Por exemplo, por que razão os lisboetas não querem a regionalização. É que quando ocorrer a divisão do país em regiões, o S. João deixa de ser um mero feriado municipal, e corre o risco de se tornar um feriado nacional, talvez europeu - como sou modesto, não me atrevo a afirmar que pode tornar-se um feriado mundial. Por isso, vão dizendo que o fogo de artifício "fechou", ou "encerrou", a  noite de S. João.
Não, caros lampiões: a extraordinária sessão de fogo de artifício DEU INÍCIO, ABRIU, FOI O PONTO DE PARTIDA para a mais democrática, mais longa, mais bela noite de Portugal: a noite de S. João ou, para quem não alinha muito em religiosidades, a noite em que se festeja o solstício de Verão.
Aprendam, por favor: a noite de S. João só finda quando for dia; e de dia, o fogo de artifício não vale nada. Nem dá para ver...

2011-06-05

VIVA A SEGURANÇA!!!

As televisões anunciam que, na Esquadra de Faro (Allgarve) da P.S.P., alguns agentes, certamente impedidos de fazer greve, arranjaram as mais diversas desculpas para não se apresentarem ao serviço: baixa por doença, assistência a familiar doente, enfim, todos os truques que nós, funcionários públicos (ou ex...) conhecemos. Razão: a alteração, para pior, dos horários de trabalho.
A população farense não entrou em pânico, mas mostrou-se preocupada. Legitimamente, ia eu escrever, mas os responsáveis da PSP já fizeram questão de tranquilizar a grei: a segurança não está posta em causa.
Fico mais tranquilo, embora resida a mais de 600 quilómetros de Faro. Mas fico tranquilo pelos meus compatriotas (?). No entanto, sempre pergunto:

  1. Se a segurança está não está posta em causa com a ausência dos agentes, o que é que eles estão a fazer lá em Faro? Notoriamente, não fazem falta.
  2. Não seria melhor colocá-los em locais onde haja carência de elementos?
  3. Ainda voltando à pergunta 1): se a segurança não está posta em causa, a que se devem os novos horários de trabalho (mais penalizadores, naturalmente)? Foi a troika que mandou?

2011-06-01

TRANSPLANTES

Foi hoje mesmo, no Telejornal da RTP1. Fátima Campos Ferreira fazia uma reportagem sobre os momentos íntimos do nosso querido líder, o engº. José Sócrates. A certa do campeonato, o (ainda?) primeiro-ministro confidencia que atravessou um período difícil, em 2008, quando seu irmão "foi transplantado". Dei-lhe o benefício da dúvida. Um engano qualquer tem, por mais primeiro-ministro que seja. Acontece aos melhores (já me aconteceu a mim...). Mas, pouco depois, o homem reincidiu: referiu-se a um senhor "que também tinha sido transplantado". Prontos, fiquei a saber: o irmão do nosso primeiro e o tal senhor, foram transplantados. Por vezes, é preciso transplantar um coração, um fígado, já ouvi falar em transplantar medula óssea. Mas nunca tinha ouvido falar em transplantar pessoas... Também não sou obrigado a saber tudo, pois não?
Ora bem: segundo leio no dicionário, transplantar é 
v. tr.
1. Arrancar de um lugar para plantar noutro.
2. Por ext. Fazer passar de uma região para outra.
3. Fig. Traduzir; trasladar.

O nosso primeiro terá querido dizer que passaram o irmão de um lado para o outro? 
E se nós aproveitássemos o próximo dia 5 e o transplantássemos também? 

2011-05-28

ACHMED, O TERRORISTA MORTO

Suponho que já tem uns anos. Mas continua (cada vez mais?) actual.



CARIDADE, OU VAIDADE?

1 - Alguém, não sei quem, disse algo parecido com isto: "Que a tua mão esquerda não saiba o que faz a direita" - isto relativamente a fazer o bem. Traduzido para português decente, os actos solidários (eu não gosto da palavra caridade, prefiro solidariedade) não devem ser exibicionistas. 
2 - Confesso-me um indefectível das novas tecnologias. Assunto que eu possa resolver sem levantar o cu da cadeira, é assunto arrumado. Meter o IRS, fazer uma compra, apresentar uma reclamação, são exemplos de assuntos que eu resolvo sem sair da frente do teclado. Foi, por isso, com enorme satisfação que soube que o Banco Alimentar Contra a Fome tinha criado uma página através da qual podíamos fazer as nossas doações - em géneros ou dinheiro. Mais um assunto que eu poderia, eventualmente, resolver sem sair de casa. Por isso, logo na primeira oportunidade fui espreitar a página onde as doações podem ser efectuadas online. Afinal,  fui encontrar uma feira de vaidades. Para além de constarem os nomes dos doadores, alguns há que, não contentes em ter lá o nome (parece que não há forma de o evitar, por motivos óbvios) não se dispensam de colocar a fotografia. Para que conste. Foi assim que fiquei a saber que a minha vizinha do 3º esquerdo, afinal não é nenhuma pelintra; ela também doou qualquer coisa ao Banco Alimentar. Está lá a fotografia dela.
Para que conste.
Por fim, parece-me haver alguma discriminação. Porque quem faz a doação online tem direito a um recibo para apresentar ao Fisco, para descontar no IRS - para além da publicidade; mas quem doa directamente, por exemplo num supermercado, não tem direito a nada: nem a nome, nem a fotografia, nem a benefícios fiscais.

2011-04-05

DEUS É GRANDE...

Vejo, na televisão, os avanços e recuos dos rebeldes na Líbia. Brega é um ponto estratégico, e todos a querem conquistar. De cada vez que os rebeldes avançam, fazendo recuar as tropas do exército de Khadafi, ouvem-se gritos "Allah u Akbar" (Deus é grande). Mas na reportagem seguinte, são os militares de Khadafi que avançam e fazem os rebeldes fugir. É a vez de as tropas governamentais berrarem "Allah u Akbar". De um lado e de outro os combatentes, quais piões, avançam e recuam, dando expressividade ao nome "peões de Brega".
As equipas de futebol entram em campo. A equipa visitante pisa o relvado, e alguns jogadores tocam a erva com a mão direita, e benzem-se - certamente pedindo a Deus uma vitória; depois, entra a equipa visitada, e o ritual repete-se - jogadores a tocarem a relva e a benzerem-se.
E eu pergunto, à moda de Richard Dawkins: afinal, de que lado está Deus?

2011-04-04

O MILAGRE

Até à náusea, a RTP vai repetindo a reportagem dos passageiros que chegaram a Lisboa, depois de terem apanhado um valente susto a bordo de um avião da TAP. E a reportagem abre com uma passageira a garantir que nunca sentiu medo, porque confiou em Deus que, por fim, acabou por fazer o milagre evitando o pior.
Note-se que não tenho qualquer razão para duvidar, nem das palavras da passageira nem do poder de Deus; mas pergunto se não seria mais fácil a Deus evitar a avaria do motor - como, aliás, faz com todos os aviões cujos motores não pegam fogo, graças a Deus. A minha mulher, católica, elucida-me que naquele tempo ainda não havia aviões e, portanto, Deus não sabia nada de engenharia aeronáutica - nem tinha obrigação de saber, principalmente agora, que a idade começa a pesar. Era uma altura em que o Sol andava à volta da Terra, e esta era plana e assente sobre pilares. Acabei por concordar com a aliás imbatível argumentação. Na verdade, lendo a bíblia não se vê qualquer referência a aviões... Adiante. Fico, pois, vencido e convencido de que a mão de Deus esteve no momento histórico da salvação dos passageiros do avião. E neste momento outra questão se levanta: de que está à espera, a TAP, para levantar um rigoroso inquérito à actuação do piloto e do co-piloto? Porque era a eles que competia levar o avião a bom porto - perdão, aeroporto - e, em vez de cumprirem o seu dever, demitiram-se das suas funções deixando nas mãos de Deus o que a eles competia em exclusivo - isto, claro, de acordo com a referida passageira, cujas palavras não me atrevo a por em dúvida.
Despedimento por incompetência, era o mínimo que lhes deveria acontecer. E a prová-lo, está o facto de a RTP não ter dedicado uma única palavra aos pilotos.

2011-03-28

OS MILAGRES (DESCONHECIDOS) DE JESUS

Que Jesus fez milagres, parece que ninguém tem dúvidas. E se as tem, melhor é que as desfaça. Mas há milagres que não constam dos evangelhos, como nos revela o Reverendo padre Rowan Atkinson. A ver, com muita atenção e devoção.

2011-03-14

ROUBADO AO "DIÁRIO ATEÍSTA"


Deus e Catástrofes

  Escrito por Luís Grave Rodrigues  | 

Tradução “livre” de um artigo de A. C. Grayling, publicado no site daRichard Dawkins Foundation.
É com tristeza que todos pensamos nas centenas de milhares de pessoas cujas vidas foram horrivelmente perdidas ou afectadas pelo terramoto e pelo tsunami do Japão, e que marcaram a negro os anais deste ano de 2011, e que vieram logo a seguir ao terramoto que atingiu Christchurch na Nova Zelândia.
Estes acontecimentos, que estão certamente ligados do ponto de vista tectónico, lembram-nos das vastas forças da natureza que, se são normais para o próprio planeta, são já prejudiciais para a vida humana, especialmente para aqueles que vivem perigosamente perto do quebra-cabeças que são as falhas da superfície terrestre.
Alguém me disse que na igreja da sua terra iria haver orações especiais pelas pessoas no Japão. Este comportamento bem-intencionado e fundamentalmente simpático mostra, no entanto, quão absurdas, no sentido literal do termo, são as práticas e as crenças religiosas.
Quando vi na televisão uma reportagem de pessoas a dirigirem-se para a igreja em Christchurch após o trágico terramoto, foram estes pensamentos que me assaltaram.
Não seria simpático da minha parte pensar que aqueles que foram à igreja o foram para dar graças por eles próprios terem escapado pessoalmente; não lhes quero imputar egoísmo e alívio pessoal no meio de um desastre no qual tantas pessoas arbitrária e subitamente perderam as suas vidas por causa de um “acto de Deus”.
Mas se essas pessoas foram rezar para que o seu deus olhe pelas almas daqueles que morreram, por que pensariam elas que esse deus o faria, uma vez que foi ele próprio quem causou, ou permitiu, que os seus corpos fossem súbita e violentamente esmagados ou afogados?
De facto, estariam elas a suplicar e a louvar uma divindade que idealizou um mundo onde existem tantas arbitrárias e súbitas mortes?
Um ser omnisciente conheceria bem todas as implicações daquilo que faz, e por isso saberia também que iria proporcionar estes acontecimentos e todas estas suas horríveis consequências.
Estariam elas a louvar o causador do seu sofrimento, pelo seu sofrimento, e também a suplicar a sua ajuda para escapar àquilo que ele próprio tinha planeado?
Talvez elas pensem que o seu deus não é o responsável pelo terramoto. Mas se elas acreditam que o seu deus idealizou um mundo no qual estas coisas acontecem, mas depois deixou esse mundo sozinho e não intervém mesmo quando ele se torna letal para as suas criaturas, então essas pessoas estão implicitamente a questionar a moralidade do seu carácter.
E se ele não é suficientemente poderoso para fazer alguma coisa sobre a criminosa indiferença do mundo para com os seres humanos, então em que sentido é ele deus?
Pelo contrário, ele parece ser um espírito impotente, para quem é inútil rezar e que é indigno de ser louvado.
Porque se ele não é capaz de impedir um terramoto ou salvar as suas vítimas, então não está qualificado para criar um mundo.
Mas se ele é poderoso o suficiente para ambas as coisas, mas ainda assim cria um mundo perigoso que inflige arbitrariamente sofrimentos violentos e agonizantes a criaturas racionais, então ele é perverso.
De qualquer modo, o que pensam as pessoas que acreditam em tal ser, e vão à igreja para o louvar e adorar?
Como, perante acontecimentos que a bondade e a preocupação humana consideram trágicos e que exigem ajuda – ajuda que são os próprios seres humanas que proporcionam aos seus semelhantes: nunca aparecem anjos vindos do céu para ajudar – podem as pessoas acreditar em tal incoerente ficção, como é a ideia desta divindade?
É este um enigma sem fim.