2011-01-16

O CANDIDATO E O PRESIDENTE

No presente programa eleitoral, começa a desenhar-se, finalmente, um candidato com ideias concretas para Portugal. Um candidato que será, certamente, capaz de travar a sanha engolidora de rendimentos dos portugueses mais desfavorecidos. Refiro-me, naturalmente, ao candidato Cavaco Silva.
Citando de memória, e sem preocupações de ordem cronológica, o candidato Cavaco Silva mostrou-se agastado pelo facto de o Governo ter espoliado os cidadãos de mais baixos rendimentos, deixando praticamente incólumes os que auferem rendimentos principescos. O que só foi conseguido, naturalmente, com a assinatura do presidente Cavaco Silva. Também se mostrou inconformado com os cortes salariais sofridos pelos funcionários públicos. Esses cortes faziam parte do Orçamento de Estado/2011, que o presidente Cavaco Silva assinou. Pelos vistos, o candidato Cavaco Silva não assinaria, se fosse presidente. Ultimamente, o candidato Cavaco Silva afirmou que não quer o povo iludido por quem o governa. E eu tiro-lhe o meu chapéu! É assim que se fala, e quem fala assim não é gago. Porque tenho a firme certeza de que o candidato Cavaco Silva, se fosse presidente, não deixaria o governo iludir-nos durante tanto tempo. Aliás, o candidato Cavaco Silva tem deixado mensagens bem claras de discordância com muitas medidas governamentais, que o presidente Cavaco Silva deixou passar. E eu acho que, ao ouvir estas mensagens, o presidente Cavaco Silva deve corar de vergonha. Porque o candidato Cavaco Silva é frontal e directo nas críticas e, estou convencido, não deixaria o Governo governar (-se?) durante tanto tempo. O presidente Cavaco Silva devia rever-se nas posições do candidato que, certamente, lhe vai tirar o lugar. O presidente Cavaco Silva tem muito a aprender com o candidato Cavaco Silva.
Ainda bem. Ainda bem que o presidente Cavaco Silva vai deixar o poleiro, para ser substituído, no dia 23, pelo candidato Cavaco Silva.
Mas não com o meu voto.

NOTA: Qualquer semelhança com a rábula da "Olívia costureira e Olívia patroa", magistralmente interpretada pela saudosa Ivine Silva, é mer(d)a coincidência.

2011-01-10

ELEIÇÕES

O grande problema, nas próximas eleições, é que não iremos, certamente, votar no melhor candidadato; teremos de optar pelo menos mau. Porque a verdade é que em termos de soluções para o país, estamos conversados: ninguém as apresenta, porque ninguém as tem.O importante, neste momento, é descobrir os podres uns dos outros. Pelo que a campanha deixou de ser "eu prometo" e passou a ser "eu tenho menos podres". Verdadeiramente, já ninguém acredita em promessas. Porque nos prometeram leite e mel, e deram-nos água pútrida e fel, e eles sabem disso.

2011-01-03

VILLA JUANITA

O Grove é uma pequena vila piscatória beijada suavemente pelas mansas águas da Ria de Pontevedra. Do outro lado da artística ponte, encontramos a ilha dos cosméticos e das termas: La Toja a que os galegos teimam em chamar (e eu assino por baixo) A Toxa.
O Grove é uma vila calma. É a vila do Festival de Marisco (em Outubro, todos os anos). É a vila donde partem barcos com fundos transparentes, em belos passeios pela ria.
É a vila onde existem os "Hoteles Villa Juanita". Um de duas, outro de três estrelas.
Confesso que (ainda) não conheço o de três estrelas; conheço o de duas.
O "Villa Juanita" nasceu a partir da casa que se vê em baixo; primeiro, tipo tasca; depois, o comedor, e logo os quartos. Nos anos 80, tudo foi abaixo para dar lugar ao hotel.
Mas, o que tem de especial o Villa Juanita"? Nada. Comida de excelente qualidade, preços que são uma agradável surpresa mesmo em tempos de crise e... simpatia, simpatia a rodos. Ali, não nos sentimos num hotel, sentimos-nos
em casa de família. Ali não há o "Gerente do Hotel", há o José António. Que nos trata como se já nos conhecesse há anos. E a esposa, inexcedível em simpatia; e a irmã, que prepara uma "queimada galega" à maneira, acompanhando a preparação com o conjuro declinado a preceito e com convicção.
O serviço funciona! Sem ordens, sem
gestos, sem salamaleques. Funciona, ponto final. Fui lá na passagem do ano 2010/2011. Casa cheia. De vez em quando, prestando atenção, ouvia-se falar espanhol. Mas o idioma "oficial" era o português. Pessoas que se conheciam de outras idas ao "Villa Juanita". Eu confesso que já não ia há anos. A primeira vez, foi em 1996, também para passar o ano. Depois foi uma Páscoa, um "Festival do Marisco". Em todas as ocasiões, o serviço excelente, a simpatia, os preços modestos, mas onde o factor qualidade/preço atinge níveis inesperados. No bom sentido, naturalmente.
Como nós costumamos dizer, "eles estragam-nos, com mimos".
Tenho de lá voltar.
Brevemente. Muito brevemente.






CARTA A UM AGNÓSTICO

Caro Molochbal:

Tenho vindo a acompanhar, com crescente e cuidada atenção, os seus comentários, nomeadamente no que tange a sua posição agnóstica. E deixe-me dizer-lhe que, apesar de não ser a minha posição, considero a sua postura como inteligente, prudente e razoável, quase cartesiana. Com efeito uma posição de "talvez sim, talvez não", acaba por ser uma situação cómoda – e até permite exercícios de ironia como o que se pode ler. Na verdade, nada nos prova que Deus existe, do mesmo modo que nada nos prova o contrário, embora eu defenda (e não estou só) que a inexistência não carece de provas.

Gostaria, no entanto, se esta posição racional se refere, apenas, à existência de Deus, ou se também abrange outras entidades. Por exemplo, o Super-homem, o Pato Donald ou o Peter Pan, sem esquecer a Fada Sininho, cujas existências não estão comprovadas, mas também nada há que prove que não existem.

Concretamente, e porque faz parte das minhas preocupações, gostaria de saber qual a sua opinião relativamente à possibilidade de existência da dupla Astérix/Obélix que, como se sabe, até têm algumas semelhanças com Jeová. Por exemplo, há um livro que afirma a existência de Deus; é a Bíblia e, afinal, não é um livro, são cinco, o chamado Pentateuco, uma imitação revista e ampliada da "santíssima trindade", que são só três pessoas numa só. Ora, a existência da dupla terrível é demonstrada por TRINTA E CINCO livros (eu tenho a colecção completa) que,

naturalmente, são mais fiáveis do que, apenas, CINCO. Mas há mais: diz-se que "Deus está em toda a parte". Estará; mas olhe que Astérix e Obélix de certeza que já lá estiveram. No Egipto, na Grécia, na Hispânia, na Inglaterra, não quero ser exaustivo mas parece que não há canto nenhum do mundo (e só há quatro, como sabemos, basta conferir na Bíblia) onde a eficaz dupla ainda não tenha estado. Finalmente, e para ficarmos por aqui, em termos de similitudes, há quem afirme que "Deus é todo-poderoso". Não duvido, mas quem diz isso certamente nunca viu o Astérix encharcado em poção mágica preparada pelo druida Panoramix. Isto para já não falar no Obélix que, como toda a gente sabe, caiu no caldeirão da poção mágica quando era pequenino, e os efeitos são permanentes.

Ora, perante estes factos, não acha que é, no mínimo, um sinal de sensatez, pôr a existência de Astérix e Obélix no rol das dúvidas metódicas?