2011-04-05

DEUS É GRANDE...

Vejo, na televisão, os avanços e recuos dos rebeldes na Líbia. Brega é um ponto estratégico, e todos a querem conquistar. De cada vez que os rebeldes avançam, fazendo recuar as tropas do exército de Khadafi, ouvem-se gritos "Allah u Akbar" (Deus é grande). Mas na reportagem seguinte, são os militares de Khadafi que avançam e fazem os rebeldes fugir. É a vez de as tropas governamentais berrarem "Allah u Akbar". De um lado e de outro os combatentes, quais piões, avançam e recuam, dando expressividade ao nome "peões de Brega".
As equipas de futebol entram em campo. A equipa visitante pisa o relvado, e alguns jogadores tocam a erva com a mão direita, e benzem-se - certamente pedindo a Deus uma vitória; depois, entra a equipa visitada, e o ritual repete-se - jogadores a tocarem a relva e a benzerem-se.
E eu pergunto, à moda de Richard Dawkins: afinal, de que lado está Deus?

2011-04-04

O MILAGRE

Até à náusea, a RTP vai repetindo a reportagem dos passageiros que chegaram a Lisboa, depois de terem apanhado um valente susto a bordo de um avião da TAP. E a reportagem abre com uma passageira a garantir que nunca sentiu medo, porque confiou em Deus que, por fim, acabou por fazer o milagre evitando o pior.
Note-se que não tenho qualquer razão para duvidar, nem das palavras da passageira nem do poder de Deus; mas pergunto se não seria mais fácil a Deus evitar a avaria do motor - como, aliás, faz com todos os aviões cujos motores não pegam fogo, graças a Deus. A minha mulher, católica, elucida-me que naquele tempo ainda não havia aviões e, portanto, Deus não sabia nada de engenharia aeronáutica - nem tinha obrigação de saber, principalmente agora, que a idade começa a pesar. Era uma altura em que o Sol andava à volta da Terra, e esta era plana e assente sobre pilares. Acabei por concordar com a aliás imbatível argumentação. Na verdade, lendo a bíblia não se vê qualquer referência a aviões... Adiante. Fico, pois, vencido e convencido de que a mão de Deus esteve no momento histórico da salvação dos passageiros do avião. E neste momento outra questão se levanta: de que está à espera, a TAP, para levantar um rigoroso inquérito à actuação do piloto e do co-piloto? Porque era a eles que competia levar o avião a bom porto - perdão, aeroporto - e, em vez de cumprirem o seu dever, demitiram-se das suas funções deixando nas mãos de Deus o que a eles competia em exclusivo - isto, claro, de acordo com a referida passageira, cujas palavras não me atrevo a por em dúvida.
Despedimento por incompetência, era o mínimo que lhes deveria acontecer. E a prová-lo, está o facto de a RTP não ter dedicado uma única palavra aos pilotos.