2012-08-22

A polémica dos cartões

O grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce) decidiu só aceitar o pagamento por cartões de débito para importâncias superiores a 20,00€, e o grupo Auchan (Jumbo) resolveu seguir os mesmos passos. Logo se levantaram vozes revoltadas, aqui d'el-rei que está ameaçada a segurança dos consumidores.
Vamos por partes.
Antes de mais, é consabido que a Banca mama em tudo quanto é teta. E quando não há teta para mamar, inventa-a. E os jornais dão-nos conta de que as comissões cobradas pela pagamento com cartão são exagerados. A Unicre vem alegar que as comissões estão em conformidade com os padrões europeus, mas a verdade é que esta gentalha só faz comparações com os padrões europeus quando se trata de mamar; porque quando de trata de pagar ao trabalhador, esquecem-se dos padrões europeus.
Adiante.
Ameaçada a "segurança dos consumidores"?? Porquê? Porque são obrigados a transportar valores, em dinheiro, inferiores a 20,00 euros? E o que é que se compra, hoje, com menos de 20 euros? Uma garrafa de águas? Um pão "bijou"? Alguém gasta só 20 euros ao fazer as compras para o mês? E onde é que está a "ameaça à segurança" quando se transportam 20 euros?
Alega-se, também, que vai contra a comodidade dos consumidores... Por favor, não brinquem com a minha inteligência, que ela é tão pequenina... Está ameaçada, sim, a comodidade dos operadores de caixa, que vão ter que se desunhar para arranjar trocos para as notas de 20 euros. E lá vamos nós voltar a ouvir a cantilena "Fico-lhe a dever um cêntimo, tá beinhe?" porque os preços acabam, quase todos, em ,99 €,
Não é a segurança, nem a comodidade dos consumidores, que estão ameaçadas; é a bolsa, porra!

2012-08-16

Estatísticas

Sou um apreciador de estatísticas. Entre outras coisas, porque permitem fazer, com elas, o que quisermos. Por exemplo, manipular a opinião pública e atirar areia para os olhos dos idiotas.
Desde há uns anos que os sucessivos governos, curiosamente pertencentes à mesma área partidária, vêm fazendo crer, à população em geral, que os funcionários públicos são os mamões desta paróquia chamada Portugal. Crença que, naturalmente, desencadeia animosidade. Não é raro ouvir-se dizer, por exemplo, que os funcionários públicos têm a garantia de não irem para o desemprego. Não têm. Com a agravante de que quando vão, são os únicos que não recebem indemnização. Nem têm direito ao Fundo de Desemprego. E são os únicos que pagam ao patrão, para trabalhar.
A comunicação social tinha obrigação de elucidar a opinião pública. Mas, por razões que ,me escapam completamente, não o fazem. Porque não querem. Pelo contrário, tentam envenenar a opinião pública, como se pode ver aqui, aqui e aqui.
Meus amigos, eu também sei fabricar estatísticas. Querem ver como? É simples. Vamos supor que você é porteiro numa empresa privada, e ganha 480 euros; o presidente do conselho de administração dessa empresa, ganha,,, 20.000 euros por mês. Feitas as contas, o porteiro ganha, em média, 10.480 euros. O que até nem é mau, para um porteiro.
São essas contas que o povão é levado a fazer, basta ler os comentários às notícias. Cautelosamente, omite-se que há muitos funcionários públicos a ganhar pouco mais do que o ordenado mínimo.
Um bocadinho de honestidade intelectual, não ficava nada mal.

2012-08-08

A factura

O Governo decidiu que todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) devem receber uma factura virtual de cada vez que se dirijam a uma urgência hospitalar. Mais tarde, essa factura incidirá, também, sobre os internamentos. Pretende, o Governo, alertar para os custos do SNS.
Julgo que, aos poucos, o Governo de PPC está a rasgar a Constituição. A qual refere ter, o cidadão, direito a um serviço nacional de saúde universal e tendencialmente gratuíto. Já agora, não esqueçamos que o tendencialmente só começou a fazer parte da Constituição há relativamente pouco tempo. Adiante.
Por isso, acho uma pieguice governamental esta coisa de estar a queixar-se dos gastos com os desgraçados que vão à urgência. Já agora: aqui há dias, uma pessoa da minha família dirigiu-se a uma urgência hospitalar, por receio de uma infecção generalizada (felizmente, não se confirmou). O médico observou-a, e mandou-a para casa aconselhando-a a continuar a medicação. Apenas. Lá se foram 20 euros, e eu pergunto: que tipo de factura passariam, se já estivesse em vigor no país?
Quanto aos internamentos: se o médico me mandar internar, logicamente haverá despesa. E depois? Será que sou internado de livre vontade? O hospital tem gastos? Pois tem, mas o Governo tem os meus impostos, que são para isso mesmo. Está bem, já sei que os impostos também têm de alimentar as Parcerias Publico-Privadas, e as rendas à EDP, Petrogal, etc. Mas não fui eu que assinei esses acordos.

Pensando bem...
Pensando bem, até talvez não seja má ideia, essa da factura piegas. Estou convencido - e isto a julgar pelos comentários que vejo na TV (curiosamente, não vi comentários contra, mas devo andar distraído) de que a ideia é boa. As pessoas olham para a factura, e pensam duas vezes antes de voltar ao hospital, sabendo das dificuldades que o país - perdão, a maioria dos habitantes - atravessa. Ora, sendo assim, talvez fosse boa ideia alargar a iniciativa. Por exemplo, os alunos das escolas públicas ficariam a saber quanto é que o ministério gasta com eles, e pensariam duas vezes antes de voltar à escola. As vítimas de crimes pensariam duas vezes antes de irem à polícia queixar-se de terem levado um tareão e, ainda por cima, terem ficado sem a carteira, o dinheiro, os cartões e o telemóvel. Finalmente, podia-se apresentar uma factura desse tipo aos que acabassem de cumprir pena de prisão.Ou aos que saíssem em precária.Estou convicto de que pensariam duas vezes antes de voltar para trás das grades.