2012-12-04

Sorria.Está a ser filmado/a

A comunicação social anuncia que o Governo vai obrigar certos estabelecimentos - designadamente farmácias, ourivesarias e postos de abastecimento de combustível - a dotar as suas superfícies comerciais com câmaras de vigilância. Parece que esta medida só se aplicará aos estabelecimentos que abram futuramente, pelo que se prevê uma corrida aos dispositivos de vigilância, graças à enorme expansão da nossa economia.
Parece-me acertada, esta medida. Pelo menos, os telespectadores deixarão de ser, diariamente, confrontados com a pasmaceira pachorrenta dos discursos do Gaspar, e passarão a verificar como é que os assaltos são realizados. Sempre é outra diversão, muito mais apelativa. Mas para ter êxito, esta medida deve ser acompanhada por outra: a de proibir terminantemente os assaltantes de usarem gorros,  capacetes, capuzes, óculos de sol, máscaras, e outras aldrabices que não permitam que sejam identificados. Quem o fizer é bom que pague uma multa, convertida em prisão.
Finalmente, era conveniente que a futura Lei indicasse claramente qual a marca de câmaras de vigilância a instalar. Se possível, por ajuste directo. Para evitar eventuais concorrentes...

2012-12-02

O feriado do 1º

Desde que me lembro o 1º de Dezembro sempre foi feriado. É um feriado histórico, que faz parte da nossa memória colectiva. E que até poderia ser aproveitado, futuramente, para a realização de eleições, fossem elas de que cariz fossem, já que dificilmente o Zé Povo vai à praia, neste dia. Comemora (eu prefiro bebemorar, mas há gostos para tudo) o dia em que nos livrámos do jugo espanhol, embora ainda haja (?) quem ache que estaríamos melhor se o 1640 não tivesse acontecido. Opiniões...
Mas os tempos mudaram. E a troica (um conjunto de três carteiristas, chama-se terno, trio ou trempe; troica, é a primeira vez  que ouço) achou que os portugueses não passavam de uma cambada de madraços, que o que precisavam era de trabalhar. Vai daí, há que cortar os feriados que, juntamente com os domingos, são os dias em que não se faz a ponta de um corno. Fora os outros, claro.
Ora, o nosso católico governo não esteve com meias-medidas; provavelmente para não chatear "nuestros hermanos", com quem a gente se dá bem, eliminaram o feriado . em que se comemorava o dia em que nos vimos livres deles. E não mexeram no 25 de Abril!!!
Não concordo. O dias 25 de Abril faz, a cada dia que passa, menos e menos sentido. Não tem razão de existir, como feriado. Exemplos? O 25/4 veio para acabar com desigualdades; no entanto, há presos que se dão ao luxo de escolherem a prisão para onde querem ir, devido à "falta de condições"; tem direito à justiça, à saúde,ao ensino, quem tiver dinheiro; os outros, que se amanhem.
A Constituição saída   do 25/4 previa saúde universal e gratuita; depois, passou a tendencialmente gratuita; agora, é (bem) paga, e quanto a universal... estamos conversados. Ou tens dinheiro e vais para um hospital privado, ou contentas-te com a doença. O ensino segue o mesmo caminho. A liberdade de imprensa... bem, o melhor é acautelarem-se. As eleições democráticas... Espera aí: quando a maioria dos votantes não põe os pés nas assembleias de voto, isso são eleições democráticas? Quando eu não escolho os meus representantes (vota-se nos partidos, e não nas pessoas) isso é democracia? Quando o presidente da República é eleito por uma minoria que resolveu ir às urnas, é o "presidente de todos os portugueses"? Quando só falta voltar a (re)criar a Legião Portuguesa para dar sopa aos desvalidos, isso é democracia? Quando a Igreja exige a manutenção dos "seus" feriados, quando o Estado paga vencimentos a capelães, seja nos hospitais seja nas prisões - para além de outras exigências - isso é democracia? Quando o Estado (todos nós) compra um banco falido, isso é democracia? Quando os verdadeiros responsáveis pelo estado a que Portugal chegou se passeiam impunemente e não são chamados à responsabilidade, isso é democracia?
As esperanças que brotaram no 25 de Abril morreram todas. os sucessivos governos foram-se encarregando de as matar, enquanto alguns bandulhos se foram enchendo. Houve um governante que, num raro momento de lucidez, entendeu que o 25 de Abril não foi revolução, foi evolução. Ele lá sabia o que estava a dizer.
Comemorar o quê, em 25 de Abril?