2007-12-29

O "DECÁLOGO" E A PEDOFILIA



Dizer-se que a Internet é um mundo, acaba por ser um lugar-comum. Não há, praticamente, nada que não possa ser encontrado na "net". Apesar disso, porém, e paradoxalmente, a "net" ainda nos vai presenteando com algumas surpresas.

Quem, como eu, frequentou a catequese, ouviu, certamente, falar no "Decálogo" - assim chamado por serem dez os artigos que compõem a chamada "lei de Deus"; mas do que poucos ouviram falar, estou certo, foi no "Decálogo Básico Universal", igualmente composto por dez artigos. Trata-se, como é facilmente compreensível, de um documento de circulação restrita, destinado a punir "severamente" os padres que cometam actos de pedofilia. Por isso, talvez não seja de estranhar a posição
do bispo de Tenerife (Canári
as, Espanha), relativamente ao assunto: manifestamente, são as crianças as culpadas dos actos de pedofilia praticados pelos padres. Pelo que não se pode - nem deve! - censurar a Arábia Saudita, por exemplo, onde são as mulheres as culpadas das violações a que são sujeitas.

Quanto ao "Decálogo Básico" proponho uma leitura atenta, e uma comparação com casos que, esporadicamente, aparecem nos jornais. Por outras palavras: quantos padres, suspeitos de actos sexuais com menores ou adolescentes, se sentaram no banco dos réus ou, até, foram alvo de investigação criminal?
A Igreja Católica acredita que os casos de abuso sexual cometidos por religiosos são apenas pecado e, po
r isso, não denuncia os transgressores.
Num livro de um dos maiores pesquisadores do tema, o espanhol Pepe Rodríguez, autor de Pederastia na Igreja Católica, diz que, para encobrir os escândalos, a hierarquia romana aplica um “decálogo básico universal”, visando a proteger os religiosos. Confira abaixo:

1 - Averiguação discreta do ocorrido.

2 - Reconhecido o abuso sexual e constatado que a imagem da Igreja será prejudicada, iniciar acções dissuasórias com agressor e vítima. Os bispos dedicam-se ao convencimento das vítimas e de seus familiares, assegurando-lhes que o agressor foi punido e estaria arrependido, persuadindo-os a não perpetrarem a denúncia para não prejudicar a Igreja nem a si mesmos.


3 - Encobrimento dos fatos e do agressor antes que venham a público.

4 - Medidas para reforçar a ocultação. A hierarquia adopta um expediente canónico contra o agressor, apenas para defender-se de eventuais acusações de passividade.

5 - Negar o ocorrido. Sob o argumento de que o sacerdote, chamado por Deus, é um homem de virtude, uma figura sacra. Quando não é mais possível negar o fato, este é tratado como excepção.

6 - Defesa pública do agressor, ressaltando seus bons serviços prestados à Igreja. Apela-se para o sentimento cristão do perdão ao pecador arrependido.

7 - Desqualificação pública das vítimas e de suas condições.

8 - Atribuição paranóica de denúncia a campanhas orquestradas por “inimigos da Igreja”.

9 - Possibilidade de negociação com a vítima.

10 - Protecção do sacerdote agressor.



2007-12-28

HÁ DIAS ASSIM...

Foi hoje. Entrei na farmácia, e a empregada congratulou-se (e eu até sei que estava a ser sincera) pelo meu estado de saúde. O visível, entenda-se.
Já conheço a empregada há uns anos... Simpática, afável, tem sempre uma palavra amiga. Mas hoje desiludiu-me, a sério. Então não é que a senhora afirmou a pés juntos que me encontro melhor, "graças à nossa senhora" - seja lá isso o que for.
Em primeiro lugar é preciso muito cuidado quando se fazem determinadas afirmações. É assim que nascem os boatos. Ela não pode afirmar que foi a "nossa senhora", pois tanto podia ter sido ela como outra santa ou santo qualquer - que o João Paulo 2 acrescentou uma caterva de santos aos que já existiam, e eles são mais que muitos. Depois, eu sei de fonte segura que, se me encontro melhor isso é graças aos médicos, enfermeiras e, sobretudo, às doses cavalares de quimioterapia e radioterapia. Além disso, parece ser pertinente perguntar: Onde estava a tal "nossa senhora" quando a doença se declarou? Na marmelada com o espírito santo?
Claro que também sei que se o tratamento não tivesse dado o resultado pretendido a culpa seria, fatalmente, dos médicos, "que não percebem a ponta-de-um-corno daquilo que andam a fazer"; mas como, aparentemente, tudo correu bem... foi a "nossa senhora". E "isto" trabalha numa farmácia, onde lida com tudo o que é ciência e/ou produto dela.
Agora a sério, estou com um certo medo. Imaginem só esta cena: eu entro na farmácia para comprar aspirinas. A empregada atende-me, e recomenda: "Tomas uma a cada refeição; se, ao fim de uma semana, a gripe não tiver passado, rezas dois padre-nossos e cinco avé-marias..."

VINHO DE ALMEIRIM

Por vezes somos confrontados com notícias que nos fazem sorrir... Não de gozo, não de chacota, mas de simpatia. Esta, que respiguei do "Portugal Diário", faz-nos pensar que, em termos de turismo, talvez nem tudo esteja perdido em Portugal.

Que os portugas têm ideias, é inegável... Já agora: quem nunca provou a fabulosa "sopa da pedra" merecia que a pena de morte fosse reactivada.


Os clientes dos restaurantes de Almeirim vão poder levar as garrafas de vinho que não consumam na totalidade dentro de sacos que a autarquia idealizou, num projecto que passa pela formação e uniformização da apresentação dos funcionários, escreve a agência Lusa.

Pedro Ribeiro, vice-presidente da Câmara Municipal de Almeirim, disse esta sexta-feira à Lusa que a autarquia realizou uma primeira acção de formação que envolveu os responsáveis de 12 restaurantes da cidade.

Segundo disse, já a partir de Janeiro, todos os funcionários dos restaurantes que participaram nessa acção vão ter duas mudas de aventais, uma, cor de vinho e, outra, preta, com o logótipo «Almeirim, Capital da Sopa da Pedra» e a figura de um monge, uniformizando a sua apresentação.

Sacos serão opacos

A iniciativa dos sacos, que serão opacos com a inscrição «Vinhos de Almeirim», está já «estudada» e será apresentada no início de Janeiro aos responsáveis dos restaurantes e aos produtores, acreditando Pedro Ribeiro que poderão começar a ser distribuídos em Fevereiro.

«A ideia é promover os vinhos de Almeirim, permitindo que por exemplo um casal que queira beber vinho a uma refeição e que normalmente não consome uma garrafa o possa fazer levando o resto para consumir posteriormente», disse.

As acções de formação, que se vão repetir em Fevereiro para englobar todos os funcionários dos restaurantes interessados no projecto, incidem na melhoria do atendimento aos clientes e no serviço de vinhos, disse.

«Há uma dupla preocupação, dar uma boa resposta a quem nos visita e saber vender um bom produto do concelho», afirmou, sublinhando que o atendimento é o «melhor cartão de visita» para os milhares de pessoas que diariamente visitam Almeirim devido à sua restauração.

A tradicional Sopa da Pedra atrai milhares de pessoas aos restaurantes de Almeirim, gerando uma actividade económica directa, com a criação de postos de trabalho, e indirecta (como o fornecimento de vinhos, produtos hortícolas, enchidos, carne), considerada de «enorme importância» para o concelho.

Na zona junto à Praça de Touros, onde se concentra uma dezena de restaurantes, têm surgido postos de venda de produtos regionais, recordou.

«Acreditamos que as acções iniciadas terão um efeito multiplicador» junto de outros restaurantes, afirmou Pedro Ribeiro, frisando que a lógica é que a adesão à iniciativa da autarquia seja voluntária.

2007-12-26

A BEM DO POVO


Lê-se, nos jornais, que o Serviço de atendimento permanente de Alijó - a exemplo de muitos outros - vai fechar, a despeito dos protestos das populações. Com a lata que o caracteriza, o ministro da tutela afirma que é "para o bem das populações". Ainda de acordo com o governante, encerram-se os serviços devido à manifesta falta de qualidade.
À boa maneira deste governo, não se melhoram os serviços: encerram-se. O próprio ministro aceita que há falta de qualidade nos serviços mas, em vez de os melhorar, fecha-os. "Para bem da população".
Será que não podia aplicar a mesma receita ao seu ministério? É que aquilo não tem qualidade nenhuma. Por isso, "para bem da população", encerre-se o ministério - e ponha-se o ministro a fazer algo de útil.
Se é que ele sabe.

2007-12-16

O VATICANO VOLTA A ATACAR

*
Vaticano diz que fiéis devem evangelizar não-católicos


Estes títulos têm aparecido em várias publicações, e não deixam de causar - pelo menos a mim - algumas perplexidades. Vejamos:
"Vaticano reafirma o direito de evangelizar". O direito de evangelizar???? Será que o Vaticano (leia-se "o sr. Ratzinger") alguma vez se lembrou que há muita gente que tem o direito de não ser evangelizada? E que esse direito é irrenunciável - para aplicar uma palavra do sr. Ratzinger?
Eu compreendo perfeitamente o desespero do sr. Ratzinger: a conco
rrência é feroz, há cada vez mais igrejas (todas elas a seguirem a verdadeira palavra de Deus), os crentes são, naturalmente, cada vez menos, uns porque deixaram de acreditar em aldrabices, outros porque foram procurar aldrabices diferentes, com melhores milagres e dízimos mais baratos, e os cofres do Vaticano acabam por se ressentir. Daí o projecto de Ratzinger: toda a gente católica, JÁ! Daí, também, que ele considere a evangelização um direito. Que seja um dever, aceito. Agora um direito...
De qualquer modo, não se pode ser mais hipócrita. Os direitos, para o sr. Ratzinger, são aquilo que ele entender. Para ele, evangelizar é um direito; mas o casamento, direito que está bem plasmado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, é continuamente negado aos padres:

Artigo 16°

A partir da idade núbil, o homem e a mulher têm o direito de casar e de constituir família, sem restrição alguma de raça, nacionalidade ou religião. Durante o casamento e na altura da sua dissolução, ambos têm direitos iguais.

Como é, sr. Ratinger?


2007-12-15

O "LIVRE ARBÍTRIO" (2)

Deus é omnipotente e omnisciente. Parece que as duas prerrogativas são contraditórias, mas lá iremos.
Vamos supor que eu, hoje, decidi ir ao cinema. Ainda é de manhã, mas eu gosto de planear as coisas com antecedência. Repare-se: eu decidi, mas não quer dizer que vá. Segundo o crente nosso conhecido, Deus é que sabe. Ou seja: nesta manhã, Deus já sabe se eu, logo à noite, vou ou não ao cinema. Começamos, aqui a pôr o livre arbítrio em causa. Se Deus já sabe, tal significa que a minha decisão será tomada de acordo com o que Deus já sabe (na verdade, o meu primo Alfredo telefonou-me a dizer que precisava de falar comigo acerca de um assunto importante, mas só estava disponível à noite. Lá se foi a sessão de cinema!). Mas Deus já sabia que eu não iria ao cinema. E a verdade é que Deus, com a sua omnipotência, não dispôs as circunstâncias de molde a eu poder ir ao cinema. Pelo contrário, elas foram dispostas de modo a eu cumprir aquilo que ele, Deus, sabia. Então, onde está o meu livre arbítrio?

Deus criou Adão (e Eva, mas esta não interessa, de momento, para o nosso raciocínio). Sendo omnisciente, Deus sabia que Adão, uma vez criado, iria comer o fruto proibido. Mesmo assim, Deus criou Adão nessa perspectiva, ou seja, atribuiu-lhe uma personalidade que o iria levar, irremediavelmente, ao pecado. Por outras palavras, Deus criou Adão de modo a que o seu (do Adão) comportamento coincidisse com aquilo que Deus sabia. De tal modo que, inclusivamente, criou (já tinha criado!) uma serpente falante - julgo que a única no Paraíso e em toda a "criação". Ou seja, Deus estabeleceu todo um cenário que conduzisse os factos àquilo que sabia. A cereja em cima do bolo teve a forma de Eva, a maldita - como passaram a ser todas as mulheres, seres inferiores, ainda hoje assim consideradas pelas diversas religiões. Ou seja, Deus criou Adão para que pecasse e, depois, castigou-o!
É lícito, parece-me, perguntar: podia, Deus, ter alterado o curso dos acontecimentos? Podia Deus ter criado um Adão que não comesse o fruto proibido? A resposta só pode ser NÃO. Porque se o fizesse, tal acto iria colidir frontalmente com aquilo que Deus sabia, ou seja, que Adão iria desobedecer às suas ordens. O que desde logo põe em causa a omnipotência de Deus, perante a sua própria omnisciência. A não ser, claro, que Deus soubesse que Adão não iria pecar mas, nesse caso, os factos iriam desenrolar-se de acordo com esta hipótese de sapiência divina. Ou seja, de que Adão não iria pecar. Então, onde está o livre arbítrio? O pobre Adão nem sequer podia resistir à tentação, pois Deus sabia que ele iria ceder - e assim teve que ser!

Pela parte que me diz respeito, fico elucidado. Como já li algures, quando um ladrão berra "a bolsa ou a vida" está a dar-nos o livre arbítrio.

NOTA: este raciocínio foi elaborado partindo da hipótese, académica e absurda, de que Deus existe. O que é manifestamente improvável.

2007-12-14

O "LIVRE ARBÍTRIO"

Quando confrontamos um crente com o facto de Deus permitir as maldades que todos os dias vemos no mundo, quando seria muito fácil a esse mesmo Deus permitir, apenas, o nascimento de homens bons, invariavelmente recebemos uma resposta deste género: "Deus não nos fez robôs; Deus deu-nos o livre arbítrio. Ou seja, e de acordo com o que os crentes entendem por livre arbítrio, Deus deu-nos a possibilidade de fazermos o que quisermos.
Nada mais falso. Porque o livre arbítrio pura e simplesmente não existe. Ou, pelo menos, não existe da forma como as religiões nos querem fazer crer.
Eu posso, hoje, decidir entre várias opções: ler um livro, ver um filme, ouvir música, ir ao cinema ou ao teatro... eu tenho o livre arbítrio para optar de acordo com o que mais
me convier, o que me der mais jeito, enfim, e como se diz correntemente, com o que me der na real gana. Mas, posta assim, a questão torna-se redutora, pois as nossas acções são muito mais abrangentes e não se limitam ao que acima se expõe. E é nessa abrangência que começam a aparecer as limitações ao livre arbítrio. Será que eu posso decidir livremente caminhar ao longo de uma linha de comboio sabendo que essa linha tem muito movimento? Se eu me quiser suicidar, a resposta é sim; mas se eu não estiver disposto a ir desta para melhor, então definitivamente a resposta é um rotundo NÃO. Logo, não tenho livre arbítrio.
Por outro lado, e porque grande parte das minhas acções interage com a sociedade em que estou integrado, devo submeter-me a leis, regulamentos, instruções, posturas camarárias - para já não falar do polícia que, com a delicadeza a depender da forma como acordou, me informa que o meu carro não pode estar ali estacionado.
Mas não é esse livre arbítrio que Deus nos deu - argumentará o crente. Deus deu-nos o livre arbítrio de o adorar, de fazer o bem, de cumprir os mandamentos, de... De quê? E o que acontece se não fizermos o que Deus quer? "Pois bem, seremos castigados" - responderá o nosso imaginário (mas não muito) crente.
Então, onde está o livre arbítrio?


2007-12-13

NÃO DÁ PARA ENTENDER...

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem conseguido fazer um trabalho extraordinário em África, conseguindo através do método de vacinação quase erradicar algumas das doenças mais virulentas do globo. Vacinação é talvez um dos melhores feitos da humanidade: através da ciência conseguiu-se erradicar a Rubéola, uma doença que causou centenas de milhões de pessoas morrerem em agonia.

Assim, cada vez que alguém acusar a ciência de ser «fria» ou «sem alma», ou que precisa de um «sentido», principalmente por aqueles que pensam que as doenças são causadas por demónios, digam a essa pessoa para estar calada!

No entanto, não chega a estas pessoas a incrível falta de inteligência e de atenção. Ainda hoje há quem continue a combater este avanço civilizacional com dogmas religiosos.

No inicio do Sec. 21, o programa de vacinações da OMS estava muito perto de erradicar igualmente Polio. Esta doença paralisa permanentemente várias partes do corpo das pessoas que a contraem. No entanto, na Nigéria, os Mullahs islâmicos anunciaram que deus lhes tinha revelado que a vacina era «contra o Islão», e parte de um plano hediondo do Oeste para esterilizar crianças islâmicas. A população local, sem qualquer outra fonte de informação, e com décadas e décadas de submissão às «vontades de deus» deixaram de levar os filhos aos centros de vacinação. Resultado: Polio está de volta e pode ser que nunca se consiga erradicar de vez. No confronto entre razão e fanatismo, fanatismo ganhou, e como resultado, outros milhões irão ficar paralisadas e morrer.

Também na Europa sofremos destas imbecilidades. O Daily Mail na Inglaterra, pela mão da criacionista Melanie Philips, que, sem qualquer qualificação científica, resolveu montar uma «campanha jornalística» onde afirmava que a vacina para a Rubéola, Papeira e Sarampo causava autismo em crianças. Esta indicação não tinha qualquer base científica, e tinha sido baseada num estudo com 12 crianças que eram autistas e que tinham levado a injecção onde se apresentava a ideia que devia haver uma relação, enquanto num estudo na Finlândia com 1.8 milhões de crianças [!!!] mostrava que autismo é independente da vacinação.



Quando o Director do Medical Research Council Britanico, o Professor Colin Blakemore explicou que as vacinas são processos evolutivos, e que vacinas de 1918 não são iguais as de 2007, porque os vírus também evoluem e se adaptam, a Sra. Philips acusou-o de estar a «promover o Darwinismo» e que o ponto principal do Professor era de «desprezar o conceito de desenho inteligente, apresentando a ideia que a única coisa em jogo são as forças sem sentido da selecção natural».

Isto quer dizer que, pelas palavras desta atrasada mental, deus altera pessoalmente o vírus da gripe (por exemplo) para se assegurar que a humanidade tem de andar sempre a «correr atrás do estrago»?. Que tipo de deus sadista é este que estas pessoas tanto adoram?!

Texto inspirado neste artigo de opinião, e copiado do "Diário Ateísta".

2007-12-10

A CARIDADE CRISTÃ

Gostei muito daquela parte em que compara a Igreja à EDP. Afinal, é tudo uma questão empresarial - pagamento por prestação de serviços. Não tarda muito, ainda teremos caixas multibanco à porta das igrejas - para os crentes mais desprevenidos.


Padre ameaça recusar sacramentos a quem não pagar um dia de salário


NUNO PASSOS, Barcelos
O padre de Campo, Couto, Roriz e Tamel S. Fins, em Barcelos, vai deixar de dar os sacramentos e privar o acesso a todos os bens, movimentos e serviços (missas de sufrágios, catequese, atestados) naquelas quatro paróquias aos fiéis que não estejam inscritos nem tenham pago a côngrua (um dia do salário mensal) até ao próximo dia 23. O aviso, lançado no boletim paroquial e no fim da missa dominical, "sustenta-se no que diz o direito canónico e a Conferência Episcopal", realçou Avelino Castro, de 29 anos e sacerdote desde 2006.

Para os paroquianos que desrespeitarem os prazos há ainda uma penalização: regularizar a situação implicará o pagamento de uma coima no valor de 50 euros por cada ano em falta. Aliás, a côngrua ("direitos paroquiais") de 2008 deve ser liquidada até Fevereiro. A "fórmula" exige pagamento do chefe de família, mulher e filhos empregados. Reformados "também pagam, recebem por mês 200 a 300 euros", nota o padre. Em Roriz, 182 em 622 famílias estão com "direitos" em falta.

Muitos fiéis indignaram-se. "O padre foi arrogante e dramático. Exigiu dinheiro a reformados, disse que não o vão fazer de lorpa, que a pensão deles é mais de 10 euros/dia. Mas esquece-se que alguns passam fome e não têm luz eléctrica", notou uma paroquiana, que face às "ameaças de pagar para rezar" decidiu "nunca mais" ir a missas em Roriz, recorrendo a igrejas vizinhas.

"Tirar o meu filho da catequese, não fazer baptismos e pôr medo à minha mãe, que agora acha que se não pagar não tem quem a enterre, é de loucos", reagiu uma conterrânea. Garantiu ainda que ouviu "da boca do sr. padre", no fim da missa, que, para um funeral de "incumpridores", "a igreja será alugada e quem quiser arranje outro padre".

"A igreja nem é dele, só faltava isto", reagiu a moradora, que não percebe as exigências de Avelino Castro, "só nos afastam de Cristo". Deu um exemplo: cada intenção da eucaristia (pessoa ou grupo lembrado) vale 7, 5 euros, conforme pede a arquidiocese; cada missa em Roriz evoca em média dez intenções e, como há 12 missas por mês, somam-se 1200 euros, só naquela paróquia.

Avelino Castro negou ter feito no fim da missa os comentários referidos. "Isto é como a carta da EDP com aviso de recepção. A Igreja é livre para todos, mas há direitos e deveres, temos de ser justos. As pessoas estiveram habituadas nos últimos 50 anos a fazer o que lhes apetecia", realçou. E lembra que, tal como era explícito no boletim paroquial, "quem paga os direitos paroquiais fica isento de pagar qualquer serviço da paróquia".

A côngrua destina-se ao Fundo Paroquial, que é gerido pelo conselho económico (ex-Comissão Fabriqueira), que paga as despesas da paróquia, desde o ordenado do sacerdote às obras.|

2007-12-04

MAPUTO JÁ TEM DÍZIMO

Moçambique é um dos países mais pobres não só de África, mas também do mundo. No entanto, a ICAR - neste caso representada pelo Arcebispo da Diocese de Maputo - não tem o menor pejo em EXTORQUIR o "dízimo" àquela miserável gente!
Depois, há quem fique ofendido por se afirmar que o negócio do Vaticano são os números...
Trancreve-se, com a devida vénia ao "Canal de Moçambique", a notícia publicada por este jornal "online".


Maputo (Canal de Moçambique) – O Arcebispo da Diocese de Maputo, Dom Francisco Chimoio, enviou recentemente uma carta a todas as paróquias sob a sua chancelaria, na qual insta a todas elas que implementem o sistema de Dízimo que ele próprio introduziu, o ano passado. E ameaça sancionar as paróquias que não aderirem a este sistema de Dizimo que está a ser, aliás, muito contestado pelos fiéis católicos.
Na referida carta, agora na posse do «Canal de Moçambique», Dom Chimoio reafirma a necessidade de “todas as paróquias da sua diocese aderirem com seriedade ao Dízimo e explicarem aos crentes sobre a importância de pagarem o Dízimo”.
Na mesma carta estão ainda listadas as paróquias que já implementaram a cobrança do Dízimo as quais Dom Chimoio saúda pelo “bom desempenho que lhes leva ao encontro dos desfavorecidos”.
“No valor total cobrado aos dizimistas durante um mês, cada paróquia deve descontar 10 por cento e entregar ao arcebispado onde deverá receber um recibo de confirmação”, explica-se na carta de Dom Chimoio.
As paróquias que não cobrarem o Dízimo aos seus crentes e não depositarem 10 por cento no arcebispado de Maputo, poderão ser sancionadas.
“As paróquias que não implementarem o sistema de Dízimo, como forma de punição, continuarão a pagar pela deslocação do bispo para dirigir cerimónias nas respectivas paróquias, continuarão a pagar ainda pela emissão das certidões dos seus crentes e todos os serviços prestados pelo arcebispado para as paróquias”, lê-se na carta.
Dos tais pagamentos estão isentas as paróquias que depositam 10 porcento do Dízimo no Arcebispado de Maputo, o que deixa a entender que se tratará de sanções às paróquias que não cobram Dízimos.
Crentes insatisfeitos com a pressão que Dom Chimoio exerce na cobrança do Dízimo acusam o Arcebispo de Maputo de querer tratar as paróquias em função do valor que pagam ao Arcebispado. Alguns vão mais longe ainda, acusando o prelado de Maputo de estar a “imitar algumas seitas de Maputo que acumulam riquezas com contribuições dos crentes”.
De referir que Dom Chimoio já falou ao «Canal de Moçambique» acerca deste assunto e garantiu que “o Dízimo é para a auto-suficiência da sua igreja e não vai dividir os católicos” (Vsff Canal n.º 406 de 14 de Setembro de 2007).

(Borges Nhamirre)