2008-05-09

PARA MEDITAR...


O Texto abaixo foi extraído de um fórum da Net que eu frequento.

Não faço comentários. Leiam, por favor.


Olá a todos?

Envio-vos uma carta escrita por um amigo meu que faleceu no mês passado.

Ele escreveu esta mensagem poucos dias antes de morrer e pediu para divulgá-la.

O texto é extenso, mas penso que vale a pena ler até ao fim.

Não é nada de novo, simplesmente aconteceu com um amigo.

Eu não o via há uns 7 anos e também nunca mais falei com ele. A realidade é que também nunca mais vou falar.

O Ricardo tinha 35 anos, morreu novo, a causa da morte foi a sua inconsciência.

Pediu para divulgar a mensagem aos seus amigos e aos amigos dos seus amigos.

Penso que é importante não deixarmos passar em branco.

Detalhes Adicionais



A TODOS OS MEUS AMIGOS
E AOS AMIGOS DOS MEUS AMIGOS

Chamo-me Ricardo Matos, tenho 35 anos e não sei se faço os 36!
Irónico? Não. Sou realista… e já vão perceber porquê.
Sou casado (em união de facto, o que para mim é a mesma coisa) há 6
anos. Um casamento feliz, vários desentendimentos ao longo deste tempo,
mas nada que possa ter posto em risco os sentimentos fortes e recíprocos
entre mim e a mulher da minha vida – a Paula. A prova está nos 2 seres
mais importantes do mundo para mim – os meus piolhinhos – Nádia e
André.

A Nádia nasceu 1 ano depois de nos juntarmos – veio alterar por completo
a nossa vida – os serões com os amigos passaram a ser em casa, o Bairro
Alto e o Lux passaram para 2º plano. Mas não fez mal, pois a nossa maior
alegria era partilhar todos os momentos com a nossa filhota. Cada gracinha,
cada progresso do seu crescimento tinha que ser vivido pelos 2, ou
sentiríamos inveja um do outro (no bom sentido).
Passaram 3 anos e nasceu o André. Espevitado e muito manhoso, sempre
foi um terror, desde o dia em que nasceu. Veio alegrar ainda mais a nossa
vida.
Antes de nascer o André, passei por um período complicado. Eu e a Paula
discutíamos muito, a gravidez dela foi complicada, ela passou muito mal, o
humor dela alterou-se completamente, teve algumas complicações e ficou
de baixa a partir do 4º mês de gravidez… e eu não tive paciência nem
coragem para a apoiar.


Eu e a Paula chegávamos a discutir sobre quem
deveria levar ou ir buscar a Nádia ao infantário. Eu achava que ela deveria
fazê-lo por estar em casa “sem fazer nada”, ela dizia-me com toda a razão
(hoje admito), que se estava de baixa, por algum motivo era. Não podia
fazer esforços nem pegar em pesos, mas eu, no meu mais puro egoísmo,
nunca parei para pensar. Eu não fui um bom marido, nem um bom pai,
optei pelo caminho mais fácil e refugiei-me nos meus amigos, na noite, nos
copos… O ambiente em casa ficou de cortar à faca, tudo era problema para
a Paula, em contrapartida, lá fora tudo era maravilhoso, não havia stress
com nada, eu era solicitado pelos meus amigos, ninguém fazia perguntas,
ninguém me criticava, tudo era perfeito!!!


Até que um dia, numa das minhas saídas nocturnas, conheci mais
profundamente uma das amigas da noite: o nome dela era Mónica, tinha 25
anos, não era propriamente bonita, mas era aquilo que se chama “um
chuchusinho”. Até esse dia, brincávamos um com o outro, provocávamonos
mutuamente, chegámos até a trocar uns beijinhos inocentes, nada de
importante. Mas nessa noite, foi diferente, eu tinha vontade de extravasar,
não me apetecia pensar na minha vida actual, naquele momento, rejeitei
completamente pensamentos sobre a minha vida, a minha mulher, a minha
filha… o meu filho que vinha a caminho. Acabei a noite num hotel, achando
que o meu acto era apenas um desabafo, pois se a minha vida estava
virada do avesso, que mal fazia tentar alegrar-me um pouco?!


Cheguei a casa à hora do almoço, deparei-me com a cara da minha mulher,
a cara de quem tinha passado a noite em branco, angustiada e triste. A
minha filha não entendia nada, apenas ficou feliz por ver o pai, sem
perceber porque é que ele passou a noite fora.
Desculpei-me com os copos, arranjei o álibi perfeito, disse que bebi demais,
não estava em condições de conduzir e fiquei a dormir no carro, juntamente
com um amigo.


Não sei se a Paula acreditou. Só sei que não disse mais nada. Eu senti-me
mal, mal por mentir, mal porque senti nojo de mim próprio, pelo que tinha
acabado de fazer. Uma noite perfeita acabou num peso brutal na minha
consciência. A Paula não merecia nada do que eu tinha feito.
O tempo foi passando, as mágoas foram-se atenuando, mas as coisas entre
mim e a Paula nunca mais foram as mesmas. Até que nasceu o André. Aí,
baixámos as armas por completo e prometemos um ao outro que nunca
mais íamos deixar as coisas chegar à exaustão.


Éramos uma família e
tínhamos que lutar por ela, por nós e principalmente pelos nossos filhotes.
Esqueci o assunto, “redimi-me dos meus pecados”, dedicando-me à minha
família. Mas sempre que me olhava ao espelho, sentia-me um cobarde pela
traição e por não ter assumido os meus actos. Mas também, isso poderia
estragar tudo. Era melhor ninguém saber de nada.
Há cerca de um ano atrás, a Paula foi ao médico, por causa de umas dores
que andava a sentir. Fez exames e detectaram que tinha quistos nos
ovários.


Teve que ser operada e para tal, foi submetida a uma série de
análises – prática comum antes de uma cirurgia. Entre as análises estava a
avaliação sobre o HIV. Qual o problema? Nenhum. Nunca poderia acusar
nada… mas acusou. A Paula estava infectada com o vírus da sida e a
tempestade caiu de novo nas nossas vidas.
Tive que admitir o meu erro e automaticamente, fiz também análises.
Estava também infectado, fui eu o causador de tudo, de certeza absoluta.
Lembrei-me da inconsciência daquela noite, de tudo o que fiz e do que não
fiz.


Como é que eu pude fazer o que fiz sem usar preservativo, com uma
pessoa que eu conhecia há tão pouco tempo. Mas tinha tão bom aspecto…
quem haveria de dizer…
Percebi também porque é que os antibióticos que andava a tomar não
faziam efeito como deviam.
Estraguei a minha vida, a vida da minha mulher, dos meus filhos, dos meus
pais, de toda a família. A Paula ficou portadora do vírus, por minha culpa. A
lição que aprendi, a um custo tão elevado foi que o amor vence tudo. A
Paula deu-me uma chapada psicológica que eu nunca vou esquecer.


Perdoou o que eu lhe fiz e tem-me proporcionado os melhores momentos
da minha vida.
Hoje, estou deitado numa cama, sem fazer esforços. Estou com uma
broncopneumonia grave, o meu organismo não responde aos tratamentos,
não sei quantos dias vou durar.
Se me safar desta vez, vou continuar a viver cada momento como se fosse
único.
Estou angustiado por não haver nada a fazer, pelas consequências do meu
acto inconsciente.
Quanto à minha amiga, a Mónica, perdi-lhe o rasto, tentei contactá-la logo
que aconteceu tudo, mas nunca atendeu. Será que sabia o que tinha?
Quantas mais pessoas teriam a mesma coisa? Estas são perguntas para as
quais nunca vou ter resposta.

Percebi a importância da vida, que, se tivesse uma 2ª oportunidade, nunca
desperdiçaria os melhores momentos, as gracinhas dos meus filhos, o amor
da minha mulher.
Porque escrevo?
Porque quero passar a mensagem a todos os meus amigos e a todos os
amigos dos meus amigos.
Eu não tive uma 2ª chance, não pude voltar atrás, estraguei tudo.
Por isso peço-vos:
Não desperdicem as oportunidades da vida.
Ponderem sobre o que é mais importante para vocês.


Quando “brincarem” com alguém, conhecido ou desconhecido, por mais
confiança que possam ter, protejam-se. O bom aspecto das pessoas não
indica se estão ou não contaminadas. Cuidado com as caras bonitas (isto é
válido também para as mulheres, claro).
Mesmo com protecção, façam o teste HIV, porque nunca se sabe.
Quando o fizerem, se estiverem a trair alguém como eu (custa muito
admitir, mas foi mesmo traição o que eu cometi), cuidado, pensem que não
podem estragar mais ainda a vida das pessoas.
Eu não consegui voltar atrás mas quero que o meu caso sirva de exemplo.
Não vou chegar aos 36 anos, vou deixar para trás uma história de vida
muito bonita, os meus filhos, a minha mulher, toda a minha vida.


Eles vão
ficar marcados para a vida toda, principalmente a Paula que tem a vida dela
estragada à custa da minha irresponsabilidade.
Peço que não escondam nada dos meus filhos, quero que lhes contem tudo
o que o pai fez, que lhes mostrem esta carta, quando puderem entender.
Perdi o rasto a muitos amigos de escola, da faculdade e de outros
andamentos. Por isso mesmo, quero pedir a quem tem esses contactos, que
forme uma corrente e mostre a minha mensagem.
O meu exemplo tem que servir para alguma coisa. Como não posso viver,
pelo menos a minha morte poderá evitar outras, assim o espero.


Às pessoas que me conhecem, provavelmente vão ler a mensagem depois
da minha morte: nunca tive inimigos por isso posso dizer que tive todo o
prazer em vos conhecer, em ser vosso colega, vosso amigo… não chorem a
minha morte, ou se chorarem, sorriam ao mesmo tempo e pensem que a
vida é maravilhosa, basta nós querermos.
Por último, peço a todos os que lerem a minha mensagem, que pensem
sobre o significado de curtir a vida.
Curtir a vida não é fazer o que eu fiz. Pensem muito nisso.
CURTAM, PROTEJAM-SE E VIVAM FELIZES!!!
Com saudades da vida
Ricardo Matos
Lisboa, 27 de Fevereiro de 2008