2010-07-29

OS INCÊNDIOS SÃO FOGO!

A exemplo do que vai acontecendo todos os anos, Portugal está a arder. E se um cão morder um homem não é notícia, os incêndios florestais também não o deviam ser. Mas são.
Todos os anos, aí por alturas de Fevereiro/Março, os inteligentes deste país aparecem em tudo quanto é meio de comunicação social a berrar que Portugal está, este ano, preparado para combater, eficazmente, os fogos. E todos os anos, lá por volta de Outubro, aparecem os realistas a dizer que a área ardida é XPTO vezes superior à do ano passado, e que é preciso blábláblá.....
Quando em andava a aprender a ser polícia, uma das coisas que me ensinaram foi que, em caso de crime, se deve formular (entre outras, claro) esta pergunta: A quem interessa o crime? Logo que haja resposta a essa pergunta, teremos metade do caminho andado para a descoberta do autor do crime.
Todos os anos alguém berra que é preciso limpar as matas. Já sabemos. E alguém manda limpar? Provavelmente sim. E alguém limpa? Certamente, não. E acontece alguma coisa, em caso de desobediência? Provavelmente, o relapso paga uma coima. Mas como o relapso sabe fazer contas, chega à conclusão de que limpar a mata fica infinitamente mais caro do que pagar a coima. Que, provavelmente, não pagará. E se a mata arder, os bombeiros darão conta do recado. E os populares. Além disso, é preciso dar dinheiro a ganhar, que o Estado não tem dinheiro para umas coisas, mas tem para outras. Provavelmente, fica muito mais barato o Estado mandar limpar as matas do que pagar helicópteros ao minuto. Provavelmente...
Já agora: nos incêndios florestais, e para além dos suspeitos do costume, que são presos todos os anos (ninguém dá conta de que, depois, acabam por ser libertados por falta de provas ou, até, nem chegam a ser presentes a tribunal) para além destes, dizia eu, a quem interessa, realmente, o crime? A quem interessa que haja fogos florestais?

2010-07-22

MIRANDA DO DOURO - NOTAS DE VIAGEM (II)

Confesso que não fui a Miranda do Douro para visitar a cidade; já a conhecia. Nem sequer fui por causa da posta mirandesa; há locais onde se come melhor posta que em Miranda do Douro.
Mas fui porque Miranda do Douro não é só a cidade, não é só a posta; Miranda do Douro tem muito mais que isso. Miranda do Douro tem recantos desconhecidos, e que bem mereciam ser explorados. Bem explorados. Miranda do Douro tem um barco que desliza, suave e silenciosamente, pelas arribas do Douro internacional. Arribas onde, com alguma sorte, conseguimos ver espécies protegidas, no seu "habitat". Eu tive alguma sorte, consegui ver, e fotografar, uma águia real. Mas mesmo sem fauna, a viagem pelas selvagens arribas do Douro é motivo mais que suficiente para uma visita e um passeio. Curiosamente, e eu até costumo estar mais ou menos a par dessas iniciativas, não me recordo de ter visto que alguma agência de viagens organize passeios para aqueles lados.
Agências portuguesas, claro; porque os autocarros espanhóis fazem bicha, nas imediações do embardacouro. Por isso, não se admire o nosso constrangimento, quando a guia perguntou se havia portugueses a bordo, e... dois braços se levantaram. Cento e dezoito espanhóis, dois portugueses.
Só faltou pedir "tirem-me deste filme"...

2010-07-18

MIRANDA DO DOURO - NOTAS DE VIAGEM

NOTA GASTRONÓMICA

Este fim-de-semana fomos até Miranda do Douro. Embora já conhecesse a cidade, quis visitar alguns pontos interessantes nos arredores, e fazer a viagem pelas arribas do Douro. Mas esta fica para segunda nota.

Levávamos um livro, editado pelo "Expresso", que já nos deu algumas alegrias gastronómicas. O livro indicava (e continua a indicar, claro) o Restaurante da Balbina como sendo o local onde se comia uma boa posta mirandesa. Pelo que, identificado o local, ali assentámos arraiais.
Não sei porquê, fiquei com a ideia de que aquele ditado que diz que ninguém é profeta na sua terra tem o seu quê de verdade. Porque a melhor posta que comi até hoje, foi em... Mogadouro.
Adiante.
Como não podia deixar de ser, convocámos a posta mirandesa. E logo o primeiro sopapo no estômago: o empregado a perguntar se queríamos a posta bem ou mal passada. Importa-se de repetir??? Pedir uma posta mal passada é um pleonasmo com laivos de obscenidade. Perguntar se queremos a posta bem ou mal passada equivale a perguntar se queremos o gelado frio ou quente, se queremos a sericaia doce ou amarga, se queremos o vinho tinto com ou sem cor! A posta deve ser um naco alto de boa e tenra carne, temperada apenas com sal e que, antes de vir para a mesa, deve dar uma passagem ligeira pelas brasas, mas apenas o tempo suficiente para fechar os poros e, dessa forma, manter todo o suco, que se vai espalhando pelo prato a cada golpe da faca.
Claro que fizemos questão de dizer ao empregado que queríamos a posta mal passada, apesar de tudo. Mas nem assim tivemos sorte. Porque quando a posta se apresentou, não tinha passado pelas brasas; tinha dormido um sono completo, como se tivesse tomado um sedativo. Como se não bastasse, o empregado ainda teve o desplante de informar, delicadamente, que se quiséssemos a posta mais bem passada era só dizer... É preciso ter lata! Resultado: a ambicionada posta mais não era do que um bife grosso. E bem passado, que é para eu aprender.
Como desculpa, e perante a mais que justa reclamação, o empregado desculpou-se dizendo que havia pessoas que gostavam assim... E eu, o que é que tenho a ver com isso?
Felizmente, no dia seguinte encontrei onde comer uma boa posta. Ao que parece, precisamente onde ela foi inventada: na Gabriela, em Sendim.
Quanto à Balbina, fui lá duas vezes: a primeira e a última.