2009-10-31

A JUDICIÁRIA ESTÁ A TRABALHAR MAL!



Eu sei, e assumo desde já, que o título é polémico; mas estou à vontade para o escrever as vezes que forem precisas: é que eu fui funcionário de investigação criminal na PJ durante trinta e três anos. Por isso, acho-me com legitimidade para afirmar, alto e bom som: a Polícia Judiciária está a trabalhar mal!

No meu tempo (como eu adoro esta frase!), malandro que caísse nas mãos da PJ estava feito: mais tarde ou mais cedo iria malhar com os ossos na cadeia. Mas ia com razão, bastava-lhe, por exemplo, mijar fora do penico. Desde que o facto fosse considerado delituoso, nem que fosse o simples roubar uma galinha, o gajo estava dentro. Por outras palavras: se a PJ ia bater à porta de um indivíduo, era porque esse indivíduo já era meliante.

Hoje, as coisas não são assim, infelizmente: por razões que me escapam completamente, mas a que não deve estar alheia a paz e a ordem que reinam no nosso Portugal, e a necessidade de arranjar trabalho a qualquer preço, que o lay-off não interessa a ninguém, e o desemprego muito menos, a Polícia Judiciária dedica-se a estorvar a vida de inocentes cidadãos. Não só inocentes, mas impolutos, acima de qualquer suspeita. O que se lastima, francamente. E se há quem duvide do que afirmo, por favor passe a ler jornais ou, se quiser ter menos trabalho, veja e ouça a televisão. E é vê-los, em tudo quanto é tempo de antena, a berrar estou inocente. No meu tempo, não diziam isso, sabiam que não adiantava, porque não estavam inocentes. Quando muito, diziam recuso-me a confessar. Eram suficientemente honestos para não virem mandar areia para os olhos do povo, berrando estou inocente. Também há quem diga eu confio na justiça. Porra, essa então é que os meus arguidos nunca diziam! Quem confiava na justiça era eu e os meus colegas, pois sabíamos que os nossos clientes iam levar pela medida grande. Mas os arguidos de hoje confiam na justiça. Eles lá sabem porquê… Aliás eu, se estivesse no ligar deles, ou seja, inocente, também confiava. Outra frase que os injustamente acusados pronunciam frequentemente, é a verdade há-de vir ao de cima. Pois… Ainda bem que assim é, porque os clientes do tempo em que eu trabalhava não queriam que a verdade viesse ao de cima. Estavam tramados.

Figuras de proa da nossa sociedade e, até, governantes e/ou ex-governantes, têm sido a prova provada do mau trabalho da Polícia Judiciária. Foram, ou estão a ser, incomodados pela entidade que deveria ser uma polícia de investigação por excelência. Incomodados injustamente, como eles – e eu assino por baixo – reclamam.

Meus senhores, tenham paciência: quem está a ocupar cargos de responsabilidade, em lugares como ministérios, conselhos administrativos, enfim, lugares em que o Estado, directa ou indirectamente, interfere, são pessoas acima de qualquer suspeita. Já nascem assim, e assim serão para todo o sempre, não cedendo a pressões, cunhas, compadrios, negócios escuros, luvas, ou a qualquer outro tipo de manifestações de corrupção. São incorruptas e incorruptíveis.

Já ofereci os meus préstimos para que a PJ voltasse aos tempos áureos de prender ou incomodar culpados, criminosos a sério, e que as palavras presumível , e/ou alegadamente, deixassem de existir. Não aceitaram. Aliás, nem me deram cavaco. E cá vou eu, vegetando nesta apagada e vil aposentação. E, o que é mais grave, com o passar do tempo comecei a tornar-me mentiroso.

2009-10-30

POUPEMOS PAPEL


Todos os dias somos aconselhados a poupar no uso do papel. Parece que é preciso deitar árvores abaixo para fabricar papel, e a floresta é um bem precioso, que é urgente preservar. Coisa linda, a floresta! Mas a verdade é que, ao que parece, há árvores que são plantadas de propósito para fabricar papel. É o caso dos eucaliptos, e não é por mero acaso que Portugal se transformou num imenso eucaliptal. Essas árvores foram plantadas para produzir pasta de papel.

No entanto, ninguém faz apelo a que se arranje outro material para construis mobiliário. Que, por acaso, também é feito em madeira. E não me consta que alguém tenha mandado plantar árvores – nogueira, mogno, castanheiro, por exemplo – para produzir móveis. Há algo que me está a escapar… Então, não se pode derrubar florestas de árvores para produzir papel, e pode-se destruir florestas de árvores que NÃO são destinadas ao mobiliário?

Bom, adiante. Há dias fui assediado por duas empresas no sentido de aderir à factura electrónica. Coisa linda, a factura electrónica: poupa-se no papel, poupa-se nas arvorezinhas, coitadinhas, e o ambiente agradece. E os accionistas também. Perguntei à aliás simpática senhora, uma de cada empresa, tá-se a ver, o que é que eu ganhava com isso. Nada, responderam as senhoras – uma de cada vez, claro. Mas ganha o ambiente.

Vamos fazer contas devagarinho, que eu sou uma merda em matemática: se, entre papel A4, envelope, tinta de impressora e selo de correio a empresa gastar, e estou a nivelar por baixo, cinquenta cêntimos, nem me aquece nem arrefece, ao fim do mês. Mas esses cinquenta cêntimos a multiplicar, e ainda a nivelar por baixo, por um milhão de consumidores, vai dar quinhentos mil euros. Que vão encher os bolsos dos accionistas, como acima disse.

Eu até era capaz de aderir, se me garantissem que esses quinhentos mil euros eram entregues a instituições de solidariedade social. Mas não me consta que seja esse o caso. Não há almoços grátis, está provado.

Vai daí, mandei-os à merda. E eles continuam a mandar a factura em papel. Pelo menos, evito o despedimento dos funcionários encarregados de lamber os envelopes. O que já é uma boa causa.

2009-10-29

MOMENTO DE POESIA

Não podia, de forma alguma, deixar quieto este belo poema. Tinha de o roubar do Diário Ateísta.
Aqui o reproduzo, com a devida vénia, e com o meu agradecimento ao Raul Pereira :


Desde que nasce o sol até que é posto

Governa o lavrador o curvo arado,

E de anos o soldado carregado

Peleja, quer por força, quer por gosto:


Cristalino suor alaga o rosto

Do barqueiro, do remo calejado;

Do cascavel ao dente envenenado

Anda o rude algodista sempre exposto:


Trabalha o pobre desde a tenra idade;

O destro pescador lanços sacode

Para escapar da fome à atrocidade;


Todos trabalham, pois que ninguém pode

Comer sem trabalhar; somente o frade

Come, bebe, descansa e depois fode.


Antologia poética de António Lobo de Carvalho, poeta satírico vimaranense do séc. XVIII.

[via Torre dos Cães, há muito inactivo, para mal dos nossos pecados]

2009-10-19

A LÍNGUA PORTUGUESA...

É terrível. Traiçoeira. Prega partidas que nem ao Diabo lembram. Está um simpático jornalista a escrever uma notícia, e... pimba! A língua portuguesa prega-lhe uma rasteira. Vejam só: Mas, quando se preparava para colocar as manilhas da conduta de água, num buraco com mais de seis metros de altura, João Ramos foi atingido por uma desmoronamento de terras.(1)
Ou seja, o trabalhador estava a escavar o buraco para cima. Afinal, os buracos têm altura, ou têm profundidade?

(1) Correio da Manhã de 2009/10/19

2009-10-18

ESPANHA E O ABORTO

A Igreja espanhola e alguns sectores mais conservadores promoveram, em Espanha, uma manifestação contra o aborto. Julgo que em Espanha, tal como em Portugal, existe o direito de manifestação, o que é bonito. Mas a verdade é que o tipo de entidade patrocinadora que, aliás, nem se fez representar, escondendo-se cobardemente, e o objecto da manifestação obrigam-se a reflectir profundamente.
É o que vou fazer, e seja o que deus quiser.
Nas sociedades mais a ocidente, e isto é um mero exemplo, existem, normalmente, dois tipos de leis: as divinas e as humanas, sendo que as humanas são, na maior parte das vezes, plágios foleiros das leis divinas que, como toda a gente sabe, são perfeitas - ou não fossem elas divinas. Ora, um católico que se preze ante de cumprir as leis humanas deve cumprir as leis divinas. Ou seja: deve estar-se, positivamente, borrifando para as leis humanas, porque as divinas é que é. Ou seja, outra vez, não precisa das leis humanas para nada.
A ICAR sabe, ou devia saber, disso. Qualquer aprendiz de padre sabe que uma católica:
  1. Não tem sexo antes do casamento.
  2. Não tem sexo fora do casamento.
  3. Não tem sexo em período fértil, a menos que deseje ter um filho que o Senhor se dignar conceder-lhe.
  4. Não pratica o abominável aborto. Pelo que não se compreendem as pias preocupações.
Ora, sendo assim, essas manifestações mais não são do que exercícios de folclore patético, porquanto:
  1. As mulheres católicas não praticam o aborto, e eu sou o coelhinho da Páscoa
  2. Os ateus estão-se borrifando para essas manifs.
Finalmente, e se uma vez por todas, senhores padres e companhia: NINGUÉM É OBRIGADO A ABORTAR. Aborta só quem quer e, como acima vimos, as católicas não querem.
Ou será que a ICAR está a aperceber-se de que nem as católicas ligam às ordens dos padres, e eles ainda não viram que é melhor mudar de profissão, que esta está cada vez mais pelas ruas da amargura?

2009-10-17

OREMUS...

Não podia deixar de postar esta belíssima oração, que me foi enviada por uma querida amiga de Terras de Vera Cruz. Ela aqui vai, com uma saudação muito especial para a Dora:


2009-10-15

ESTÁ PARA SAIR...

Está para sair o novo livro do jovem e talentoso autor literário José Carlos Moreira, que ameaça tornar-se uma figura incontornável das letras.

Escrito na linguagem irónica e, por vezes, satírica, que lhe granjeou a justa fama cuja inefável aura o envolve, refiro-me ao autor, "Enquanto As Armas Falavam" arrisca-se a tornar-se um best-seller sem precedentes no panorama literário nacional. Pelo que aconselho a reserva antecipada do seu exemplar.
Depois não diga que não avisei.

VAI ACONTECER ALGO?


A Entidade Reguladora da Comunicação divulgou um comunicado segundo o qual foi ilegal a decisão de pôr fim ao "Jornal Nacional" das sextas-feiras da TVI. Não se vai julgar a qualidade do programa: goste-se ou não dele, a ERC definiu a sua extinção como ilegal.
Confesso que não percebo nada de leis de imprensa, mas conheço o país em que vivo e os políticos que o governam (?). Daí as minhas perguntas:
  1. Apesar de a ERC falar, algo vagamente, em processo contra-ordenacional, alguém vai ser responsabilizado, ou vai sobrar para o porteiro - na melhor das hipóteses para o arrumador do parque automóvel?
  2. O programa vai ser reposto? Porque se o não for, então mais valia a ERC ter ficado caladinha, que a gente já esqueceu isso, com o conflito internacional Maité Proença.
  3. Ou será que o caso vai ter o destino de outros casos: o artigo cesto?

2009-10-14

FÁTIMA EM LAY-OFF?

Acho que a ICAR não está a acompanhar os "sinais dos tempos"...

Qualquer empresa que se preze mantém as suas actividades de forma ininterrupta ao longo do ano. Ora, a empresa "Fátima SARL" inicia a sua temporada em Maio, ainda por cima a meio do mês, e termina-a com as promoções de Outubro. Não sei porquê, faz-me lembrar as épocas taurinas, que deus me perdoe. Eu sei que a senhora também precisa de algum descanso porque durante esses cerca de cinco meses a sua actividade deve ser intensa, ele é pedidos, vulgo cunhas, ele é o conferir o cumprimento das promessas, sim, que isto de fazer promessas e não as cumprir não é para todos, só os políticos estão autorizados, ele é o cheiro a cera queimada, que sempre deve incomodar um bocadinho, aliás basta ler a Bíblia para se constatar que naquelas bandas se aprecia mais o cheiro do churrasco, e se clhar é por isso que o negócio fatímico entra em "lay-off". Mas também me parece que cinco meses é pouco, mesmo que o dinheiro seja muito, mas a verdade é que não me consta que a senhora veja um tusto do dinheiro que cai na empresa. Também é verdade que durante esses meses as condições atmosféricas sempre são mais favoráveis, o que é bom, porque as altas esferas da religião, e refiro-me à senhora e excelso marido ou, pelo menos, pai da criança, ainda não teve poder para arranjar um micro-clima para aquela região, assim do género "sol na eira e chuva no nabal". Tudo bem, o tipo é todo-poderoso, mas também acho que mesmo isso tem limites, pronto, não se pode poder tudo.

De qualquer modo, quam não aproveitou as últimas promoções de Outono, já fica a saber que só lá para Maio de 2010 é que há mais. Desta vez, com o presidente do censelho de administração e tudo, que sempre se dignou visitar a loja.

Daí que eu era capaz de propor um alargamento da época que podia, perfeitamente, começar no Equinócio da Primavera, mesmo que acabasse em Outubro, na mesma, para as pessoas não andarem à chuva, que isso de milagres não tem nada a ver com a meteorologia.

O pior é se eu proponho e os gajos aceitam.

O melhor é estar calado...

2009-10-09

NÃO ESTÁ PROVADO...

Há dias, numa das habituais reuniões de aposentados, com os pés devidamente debaixo da mesa, como convém, e com a mesa não vazia, também como convém, um colega chamava-me a atenção para om facto curioso e que, até então, me tinha passado despercebido. Quando confrontadas com acusações de maus comportamentos, do tipo saco azul ou sobrinhos ricos na Suiça, e isto só por exemplo, as figuras, normalmente públicas, costumam argumentar que "não ficou provado". Isto quando, por um azar do caraças, ou para dar a ideia de que a justiça é igual para todos, essas figuras acabam por se sentar no banco dos réus (aliás, há que alterar esta designação. Já não há réus, há presumíveis isto ou aquilo).
Com efeito, e graças à democrática legislação portuguesa, os factos delituosos só são provados em tribunal.
Mas a verdade é que, e contrariamente ao que se propala, essas figuras públicas, ou figurões, como lhes queiram chamar, não mentem. E quando alguém lhes diz, também por exemplo, "você tinha um saco azul", ou "você é acusado de favorecer o Quim ou o Manel" e eles respondem "não ficou provado", estão a dizer a verdade. Não estão a dizer que NÃO meteram a mão ao prato, ou que não favoreceram A ou B, estão a dizer que NÃO ficou provado. O que é diferente.
O facto de não se ter produzido prova em tribunal, significa isso mesmo: não se provou.
Não significa que o acto não existiu.