2010-11-26

A MISSA DO BISPO


Acabo de "ouver" (como se sabe, é a aglutinação de "ouvir" e "ver"), nas televisões, que o bispo vai rezar missa para os despedidos da Groundforce..
Fico feliz, e esperançado. Para já, fico feliz por ser um bispo e não um mero padre a rezar a missa. Certamente que um bispo é muito mais poderoso e estará muito mais perto do "altíssimo" do que um sacerdote.Tem mais influência, certamente. Claro que se fosse um cardeal seria muito melhor, mas pronto, não podemos ser muito exigentes... Também é verdade que na tal sociedade civil, designadamente ao nível da política, as melhores cunhas são as dos porteiros e/ou motoristas, em detrimento dos directores-gerais ou secretários. Mas a o que é certo é que a separação entre a Igreja e o Estado é um facto, e ainda bem, porque o efeito de cópia é terrível, e correríamos o risco de ver as cunhas sagradas a serem metidas por sacristães, isto é, poderia ser um sacristão a rezar a tal missa.
Adiante. A minha esperança reside no facto de a missa rezada pelo bispo contribuir para a resolução dos problemas que se levantam às famílias dos futuros desempregados. Isto é, que eles arranjem, imediatamente, novo emprego, que lhes saia o Euromilhões de modo a que mandem às malvas a entidade patronal, ou outra coisa para aí. Porque a assim não ser, isto é, se a tal missa, ainda por cima rezada por um bispo, não contribuir para a resolução dos problemas, pergunta-se para que servirá - para além claro, do inevitável peditório, para o qual certamente contribuirão também os tais futuros desempregados.
Claro que os crentes afirmarão que a vida não é só matéria, que o espírito também conta, que o apoio moral é importante... E eu pergunto se isso tudo dá para comprar pão e outros alimentos. Para matar a fome, em suma. E pergunto mais, de que serve alimentar a alma - seja lá isso o que for - se o corpo estiver a morrer à fome. Não seria mais útil o bispo meter os pés ao caminho e tentar arranjar emprego àquela gente? Valendo-se, claro, da inegável influência que a Igreja tem na terra? Certamente bem maior que a que tem no céu?


2010-11-20

OTAN - A MINHA OPINIÃO


Começo por confessar a minha completa ignorância em questões de política internacional. O que deveria ser o suficiente para me abster de formular opiniões acerca do assunto. Mas longe está o dia em que as opiniões só serão dadas por quem percebe dos respectivos assuntos. Por isso, toca a andar.
Tanto quanto julgo saber, a OTAN foi criada, em 1949, com o intuito de se opor ao ameaçador bloco soviético,
isto é, os mauzões que comiam criancinhas ao pequeno-almoço. Os comunas, em suma.
Os comunas não se ficaram atrás, e... catrapumba! avançaram com o Pacto de Varsóvia (PV), isto em 1955.
Mas a verdade é que o que é bom não dura sempre. Em 1989 cai o "Muro de Berlim", e em 1990 Gorbatchov, também conhecido por Горбачëв, começou a desmantelar o socialismo soviético. Era o princípio do fim do Pacto de Varsóvia, que exalou o último suspiro em Março de 1991.
Postas as coisas neste pé, a OTAN, a.k.a. NATO, olhou para os lados e perguntou-se: "Porra, o que é que estou aqui a fazer? Se o PV acabou, para que é que sirvo? Se não tenho inimigos, como é que vou continuar a existir? Se deixar de existir, o que vai acontecer às fábricas de armamento e aos milhões que elas movimentam? E os "tachos", que vai ser feito deles? E os milhares de empregados, civis e militares, que vão todos para o olho da rua? Ná.... Há que arranjar um inimigo, rapidamente. Ou mais, até, se for pos-
sível."
O resto da história, nem vale a pena contar. A gente lê os jornais e vai vendo a televisão, não é? Inimigos não vão faltando, graças a Deus Nosso Senhor, que sempre zelou pelos Seus filhos. Os de educação judaico/cristã.
Por isso, inimigos arranjam-se sempre...

2010-11-19

COMO POSSO CONFIAR NELA?


Olho a televisão. Fala-se da cimeira da OTAN, a que os idiotas continuam a chamar "NATO", provavelmente para mostrar aos EUA que são atentos, veneradores e obrigados. A pantalha mostra uma sorridente e simpática Hillary Clinton que entra na sala do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Ao chegar à porta, pousa a mala no chão e avança.
Não sei se leram bem: Hillary Clinton pousou a mala no chão e avançou, confiante. Confiante, ela; mas eu não posso confiar numa pessoa assim descuidada: tem a sorte do mundo nas mãos, dá indicações de governação a "tutti quanti", mas abandona a mala no interior de um ministério português. Poderão argumentar "ah, e tal, mas a mala se calhar não tinha dinheiro", não interessa! Mesmo sem dinheiro, a
mala tem valor, certamente não foi comprada numa qualquer "loja do chinês". E deve ter o telemóvel, o "bâton", o verniz das unhas, o lápis das sobrancelhas, o "rimel", a esferográfica, o espelho de mão, e outras coisas que, passadas a patacos, sempre dão algum dinheiro.
Num país onde os governantes conseguem esvaziar as carteiras a quem se encontra a quilómetros de distância, como é que alguém pode deixar uma carteira abandonada
no interior de um ministério? Em Portugal???
Só quem for incompetente e desleixado/a. E quer esta gente ditar a sorte do mundo...

2010-11-14

O LIVRE-ARBÍTRIO

Quando acontece uma catástrofe natural – um violento e mortífero terramoto, por exemplo – é vulgar que alguns ateus, algumas vezes em jeito de provocação, perguntem aos crentes: "onde está o seu Deus?" tentando, dessa forma, argumentar que se Deus existisse e amasse oschamados "seus filhos", certamente não permitiria que eles morressem daquela forma. As contra-argumentações dos crentes podem variar de estilo, mas a ideia permanece: Deus não interfere com o que se passa na Terra, pois deu-nos o "livre-arbítrio", embora não se consiga perceber o que tem o "livre-arbítrio" a ver com os terramotos. Alguns crentes, mais evoluídos e mais cultos, asseguram que os terramotos são causados pela extracção de petróleo, o que é aceitável, porque esta coisa de mexer nas entranhas da terra há-de ter os seus custos. O que me leva a ter inveja de quem viveu

até 1846, data em que foi instalado o primeiro poço de petróleo moderno. Mas também me leva a suspeitar de que em 1755 já alguém andava a escarafunchar o planeta… Mas não vamos por aí…

A maioria dos crentes entende que o "livre-arbítrio" é a faculdade de escolhermos entre o Bem e o Mal. É uma visão convenientemente redutora, mas não é verdadeira. O livre-arbítrio é, segundo o Dicionário da Porto-Editora, "o poder de escolher ou não escolher um acto ou uma atitude, quando não temos razão para nos inclinarmos mais para um lado do que para o outro." Por outras palavras, é o poder de decidirmos o que nos der na real gana.

Se perguntarmos a um ateu e a um crente aonde é que vão passar férias no próximo ano, as respostas, diferentes e prováveis, serão: Ateu – "ainda não decidi"; "estou a hesitar entre as Seychelles e a Costa da Caparica"; "depende das «massas» ". Crente – "Deus sabe se lá chegarei"; "sei lá, Deus é que sabe"; "olhe, vou para onde Deus quiser". Ou seja: quem, verdadeiramente, tem o "livre-arbítrio" é o ateu, e não o crente. Porque o crente pensará, sempre, que a sua decisão dependerá, inevitavelmente, da vontade de Deus; enquanto o ateu estará, quando muito, dependente do dinheiro, da concordância da sogra, ou de outros percalços perfeitamente terrenos e, quase sempre resolúveis. Mas sempre com hipóteses alternativas, que o ateu pode escolher a seu bel-prazer.

De acordo com as crenças religiosas, Deus sabe tudo. Ou seja, também sabe aonde o crente vai passar as férias no próximo

ano. O crente ainda não sabe, mas "Deus é que sabe". Ou seja: o crente pode correr e saltar, que tudo o que fizer para passar as férias – pedir dinheiro emprestado, consultar mapas, escolher a roupa para levar – vai conduzi-lo, inevitavelmente… ao lugar que "Deus é que sabe". Porque é para aí que vai, queira ou não, e por muito que pense que planeou sozinho. Ele apenas se limitou a cumprir os "desígnios de Deus".

Livre-arbítrio, isto?

2010-11-04

NÃO BLASFEMARÁS!

Apesar da minha idade, ainda há coisas que me vão deixando perplexo. Isto porque, afinal, todos os dias são apresentadas provas ou, pelo menos, indícios, de que Jeová não é assim tão poderoso como isso. Ou então, que há gente ainda mais papista que o Papa.
Vamos por partes. Vamos supor que eu estou em determinado local, onde também está um membro do Governo. Eu, numa ocasião de fúria, chamo "porco" a esse membro do Governo. Provavelmente, e porque se trata de um crime, o membro do Governo faz com que eu seja punido. Parece-me não ter lógica nenhuma que, por exemplo, o motorista ou o porteiro tratem do meu castigo. O ofendido é o membro do Governo, ele é que tem de ser ressarcido da ofensa. Mas vamos supor que o membro do Governo não fica ofendido, ou está-se borrifando para a ofensa: que legitimidade têm, o porteiro ou o motorista, para me castigarem?
Foram hipóteses. Vamos a factos: um jogador do Sampdória foi suspenso por blasfémia. Foi Jeová, que o suspendeu? Não, embora a notícia não especifique quem foi a entidade aplicadora do castigo. E a pergunta é: com que legitimidade? Por ter ofendido Deus? E quem garante que Deus se sentiu ofendido? Quem garante que Deus que, em princípio, está acima das rasteirices,terrenas, não se borrifou para o insulto, tal como o membro do Governo? Já agora: será que Deus não teria poder para castigar o ofensor? Não seria mais giro ser aplicada, logo, a justiça divina? Dir-me-ão: "Ah, e tal, ele será castigado no Juízo Final". Tudo bem, admitamos que sim. Mas será justo ser punido DUAS vezes pelo mesmo facto? Isso não é ilegal?