Cumprindo as ordens do médico, que me mandou fazer grandes caminhadas, decidi-me a dar um longo passeio pela Internet. Eis senão quando um poema aparece à minha frente. E uma nostalgia incontrolável, invadiu-me: tinha lido este mesmo poema em Mueda, "Terra da Guerra", Moçambique.
Voltei a lê-lo; e a empolgar-me com a linguagem que o poeta utilizou, e que foi tão bem traduzida e adaptada para o português.
O poema estava na página do Bruno, no HI5. Não sei quem é este Bruno, mas tenho de arranjar maneira de o felicitar. Há que tempos, eu andava à procura deste poema!
Eu também fui infante…
Tinha acabado a guerra; e Deus, lá nas alturas,
Cercado de astros de oiro e pulcros querubins,
Ouviu sons marciais, fanfarras e clarins,
E um ardente vozear de humanas criaturas.
"Que rumor – perguntou perturba assim o ar?"
"Senhor lhe responde alguém da corte celestial
-Os bravos vencedores da Guerra Mundial,
Sob o Arco do Triunfo estão a desfilar."
Na célica mansão um sussurro se expande;
E a densa legião de almas plenas de graça
Acorre curiosa e se debruça e esvoaça,
P'ra melhor distinguir a marcha heróica, grande!
Então o bom S. Pedro, o santo venerando,
Que por mando divino é dos céus o porteiro,
Gritou: "Chamai Flambeau, o esperto granadeiro,
Para explicar o que se for passando."
Flambeau, que combateu e foi dos mais ousados,
Acercase atencioso, observa por momentos E informa:
"Vão ali famosos regimentos,
A glória militar, indómitos soldados!"
Cavaleiros, então, avançam com ardor,
E ele anunciou: "Desfilam os dragões!..."
Estremecem no céu os áureos portões,
Que a voz do povo era um estrídulo clamor.
- "Mas isto nada é...", disse Flambeau atento.
"Olhai a Artilharia!..." Em enorme alarido,
Reboam saudações qual ciclone enfurecido,
Ascendendo em rajada até ao firmamento.
E Flambeau continua: "Isto ainda não é nada!
Vereis melhor Senhor... Eis os aviadores!..."
Regougam pelo espaço os potentes motores,
A ponto tal que a voz do povo é sufocada.
Flambeau proclama com enlevo! "Os Marinheiros..."
Desta vez o entusiasmo os mundos excedeu;
E cativado, o sol, palmas de oiro abateu
Sobre os rijos heróis, que foram dos primeiros.
" Agora, Senhor meu - disse Flambeau ovante –
Vereis quando passar a nobre Infantaria...
Tenho medo que o sol estoire e finde o dia
E a noite eterna envolva a Terra num instante.
Serão aclamações estrondosas torrenciais,
Vibrarão no azul qual doida trovoada,
Verseá a multidão frenética, entusiasmada,
Delírio igual jamais se viu, jamais."
Surgiram a seguir os homens das trincheiras,
Alpinos, caçadores e toda a infantaria.
Nas suas expressões claramente se lia
O martírio sofrido e angústias e canseiras.
Quando o canhão, rugindo, a morte semeava,
Impávidos, no posto, assim permaneciam...
Era uma coorte altiva, os tantos que ali iam,
Um grande, imenso, mar de heróis que ali passava.
Às quentes saudações que a multidão soltou
Silêncio se seguiu, silêncio e nada mais.
O espanto avassalou as regiões siderais.
E Flambeau, indignado, agreste se expressou:
-"Assim os recebeis, ó crua, ingrata gente?!
Por vós riram da morte e a fome desdenharam,
Cansados de sofrer jamais o confessaram,
São de aço os quais ali vão, tropa digna, valente!
Deveislhe orgulho, sim, a graça de viver,
E, em vez de os abraçar, calaivos? Mal andais.
Franceses, ouvi bem: Sois rudes, sois brutais,
Tamanha ingratidão não tem razão de ser."
Mas mal termina a frase, olhando a Terra, fica
Possuído de orgulho, o coração em festa...
Os Infantes, semideuses, heróis em gesta,
Que a luz do sol poente envolve e magnifica,
Marcham erectos, viris, o olhar altivo e ousado...
Fremente, perturbada, a imensa multidão,
Por um alto mandato ou estranha inspiração,
Havia ajoelhado.
LUCIAN BOYER Adaptação livre do Cap. J.M. Galhardo
3 comentários:
e os Infantes endurecidos derramam lágrimas na sua sala de honra, enquanto ouvem tais palavras...é o orgulho de ser Infante
Ad Unum
incrível encontrar aqui um camarada do meu curso!trielha grande abraço!lembro-me bem dessas lágrimas que tão intensamente nos queimaram as maçãs do rosto... No coração de todos nós existe...
Ad Unum
Marco Domingues
Durante a clerical-fascista Ditadura/
reforçou-se a Aliança da Cruz e Espada/havia Missa Solene com
Militar Parada/e o Povo emocionado
com a Militar postura./Ao Deus dos Exércitos nas Catedrais/vibrava o som dos clarins marciais.
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