2009-03-28

A CARTA ANÓNIMA

Quando toda a gente estava a esquecer-se do "caso Freeport" e alguém começava a respirar de alívio (repare-se que o eco das 6as. feiras da TVI é nulo), eis que alguém, desastradamente, começa a mexer no que cheira mal. Compreende-se. Eu também fico chateado quando falam mal do secretário do clube da minha rua, e até já fiz minha a máxima de um respeitável político da nossa praça (ex-político, para ser mais correcto): quem se mete com o meu clube, leva.
O bastonário da Ordem dos Advogados, é uma espécie de "Palmelão" do direito. Barafusta, acusa, dispara em todas as direcções para, no fim, nada sair de jeito. Mas faz estardalhaço, que é o que convém. Repare-se que, quando o "processo Casa Pia" estava na sua "máxima força", lá veio o homem a terreiro acusar forças invisíveis de quererem decapitar o PS. Agora, com o caso "Freeport" a estória é outra: uma repugnante carta anónima, em conluio com a Polícia Judiciária.
Patético, no mínimo.
Porque o sr. bastonário não sabe (mas devia saber) como é que as coisas funcionam. E vai daí, há que lançar poeira para os olhos dos portugas, com a mirabolante mas desastrada história da carta anónima. Mas eu explico como as coisas funcionam. Não ao sr. bastonário, que sabe muito bem como é que as coisas funcionam, mas para tirar eventual poeira dos olhos.
Um cidadão encontra-se de posse de elementos comprometedores contra alguém. Vai à polícia - qualquer polícia - e diz que tem tais elementos, mostra-os ao polícia de serviço. O polícia de serviço vê os elementos apresentados pelo cidadão e verifica que têm credibilidade. Mais: são graves. Apresenta o caso superiormente e o superior concorda: o caso tem "pernas para andar" e decide aceitar a denúncia. "ALTO E PÁRA O BAILE!!!", berra o cidadão. "Eu ontem estava a tomar banho, e verifiquei que tenho cu. E, como toda a gente sabe, quem tem cu tem medo. Eu quero denunciar, mas o meu nome NÃO PODE aparecer em lado nenhum. Por muito menos, houve quem tivesse levado sumiço." Que solução resta? "Olhe, caro cidadão: escreva uma carta anónima a denunciar isso". Tão simples como isto. Situações que acontecem todos os dias. Quem é o polícia que nunca recebeu uma denuncia anónima, ou uma informação anónima? Será que o sr. bastonário ignora essas coisas? Que andou ele a fazer este tempo todo, na advocacia?
A verdade, porém, é que ainda ninguém disse que, quer o conteúdo da carta, quer o conteúdo de um famoso DVD, quer as informações oriundas da polícia inglesa são falsos. Não. O que se diz - o sr. bastonário diz - é que a carta anónima foi feita com o conluio da Polícia Judiciária. Faltou-lhe dizer que foi a PJ que escreveu a carta...
Bom. O sr bastonário quer protagonismo? Conseguiu. Quer aparecer nos meios de comunicação social? Deferido. Quer defender alguém? Bom. Aí, fia mais fino. Com "defesas" dessas, qualquer suspeito dispensa o Ministério Público.
Será que ele ignora que estamos em Portugal? E que de Fátima até Felgueiras, qualquer político que seja acusado de corrupção ou actos menos lícitos está condenado a ser reeleito, e com maioria absoluta? Será que não sabe o que se passa com loureiros, torres, morais, etc?
Mau serviço, sr. bastonário. Mau serviço.
Fique quieto e calado. Deixe que o acusem. Quanto mais acusações, melhor. Maiores são as garantias de se apresentar como um novo "Cristo" perante o eleitorado. E o sr. sabe como o bom povo português gosta de "cristos", sejam eles majores, doutores ou engenheiros. Não defenda mais, entretenha-se a ler o Código Penal.
Olhe que, se continua assim, o homem arrisca-se a perder as eleições. E a culpa é toda sua.

Um comentário:

Mario Sousa disse...

Grande José! Assim é que se fala!!!!!!