Ano de 2008. Dia, 22. Mês, Dezembro.
Estou na Rua Latino Coelho, na cidade do Porto. Saio do supermercado "Minipreço" (passe a publicidade) e dirijo-me ao carro, estacionado mais acima, com as últimas compras natalícias. Reparo que na paragem de autocarro ali existente, uma senhora aguardava transporte. Chamou-me a atenção um saco de papel forte, onde eram transportados alguns géneros alimentícios. "Um cabaz de natal", concluiu a minha mulher. Era. No passeio defronte fica uma delegação da Cáritas Diocesana, e dali vão saindo pessoas carregando sacos iguais, pelo menos na aparência, àquele que tinha visto na paragem de autocarro.
As pessoas que vão saindo da "Cáritas" nem tentam esconder a sua condição humilde. Com roupas modestas e, algumas vezes, escassas, transportam o que, provavelmente, irá ser o seu aconchego natalício. Único aconchego, quiçá.
Eis senão quando, uma senhora me chama a atenção. Veste de forma que contrasta flagrantemente com os demais. Casaco comprido de corte razoável, cabelo loiro bem penteado, sapato de tacão alto. "Pobreza envergonhada", penso ingenuamente. A senhora sai da porta e empunha o telemóvel. Naturalmente, não sei a quem telefona nem o que diz. Mas deduzo. E acerto. Porque deixo-me estar o tempo suficiente para ver que um automóvel se aproxima e que a senhora nele entra.
Dias antes, eu tinha dado aquela que, neste preciso momento, passou a ser a minha última contribuição para o Banco Alimentar Contra a Fome.
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