Por razões que não são para aqui chamadas, de vez em quando recebo notícias do bom Padre Mário. E uma delas chamou-me a atenção. Dizia:
Companheiras /Companheiros
1. Imaginem o que me aconteceu. Num dia, foi a impressora que deu o berro. No dia seguinte, foi o portátil. e, depois, do novo Ano.Para cúmulo, era o tempo das festas do Solstício de Inverno e, depois, do novo Ano. Com os consequentes feriados e "pontes".
Ora, o que me chamou a atenção foi, precisamente, a frase "Para cúmulo, era o tempo das festas do Solstício de Inverno...". Esta agora!!! Um padre a falar em "Festas do Solstício? Não era suposto falar em Natal, e tal? Vai daí, escrevi-lhe.
Pois.
Assim:
Caro Padre Mário:
Ao ler a sua mensagem, não pude deixar de ficar algo surpreendido com o facto de se referir (e bem, digo eu) às festas do Solstício. Julgo que, como Padre, e apesar da sua "situação", teria mais lógica a referência ao Natal.
Pode elucidar-me?
A resposta não tardou. Ei-la:
Meu caro José Moreira
Não há nada como ler o meu DIÁRIO ABERTO. De Dezembro 2008. E de Janeiro 2009.
Aproveito, e reencaminho a mensagem que enviei por ocasião da data a que chama de natal. E natal seria, mas do Sol, o Deus-Sol. Se o Sol fosse Deus. E nascesse todos os anos. Felizmente, em 2009, sabemos que nem é uma coisa, nem outra. É uma estrela, por sinal, bem preciosa, já que sem ela não haveria vida neste nosso Planeta.
Pelo que me decidi (e nem sequer hesitei) a consultar o Diário Aberto de 16 de Dezembro de 2008, como me era aconselhado um pouco antes. Que transcrevo na íntegra, depois de devidamente autorizado, já que nos ajuda a perceber melhor o pensamento deste Homem, simples mas de corpo inteiro e coluna vertebral erecta, e as razões por que se tornou tão incómodo para a Igreja Católica.
2008 DEZEMBRO 12
Não houvesse o solstício de inverno, nem, consequentemente, o aparente natal ou nascimento do Sol; não tivessem muitos povos antigos confundido a estrela Sol com um deus, o maior dos deuses, no seu assustado entender; não estivesse tão difundida e tão generalizada no Império romano, inclusive, entre as suas tropas e as suas principais elites, a festa do natal do deus Sol (era uma espécie de festa de S. João do Porto, só que em Dezembro, e muito mais duradoura, arrebatadora e mobilizadora das populações que a festa de S. João no Porto); não tivesse o imperador Constantino (início do século IV) aderido publicamente ao culto do deus Sol Invictus e, com isso, proclamado urbi et orbi a festa do seu natal; não tivesse o mesmo imperador simulado uma conversão ao cristianismo, para, desse modo, ter, sob o seu total controlo e ao seu incondicional serviço imperial, os bispos da Igreja e a própria Igreja que, por essa altura, já começavam, sobretudo, os bispos, a constituir uma ameaça para as ambições imperialistas dele, e hoje - garanto-lhes - não haveria nem esta Igreja católica romana que temos (haveria Igreja, sim, a de Jesus, não esta igreja católica romana que temos), nem haveria este simulacro de advento todos os anos, nem, consequentemente, este simulacro de natal do menino-jesus, todos os anos. O Sol não tem culpa de, em tempos passados, muitos povos, o terem olhado e adorado como um deus, o mais importante dos deuses do respectivo panteão, mas não fosse ele, aparentemente, "nascer" todos os anos em finais de Dezembro, e o Ocidente teria seguido outro rumo, certamente, muito mais humano e jesuânico, e não este rumo religioso/idolátrico que seguiu e em que continua confrangedoramente caído. Hoje, já ninguém pensa no Sol como um deus e também já quase ninguém pensa no menino-jesus que, oficialmente, o substituiu. Mas a verdade é que a festa do natal continua aí invicta, sem que os povos se atrevam a acabar com ela. E sabem porquê? Porque, entretanto, embora o Império romano tenha acabado, não acabou o Império. Outros se lhe sucederam, com destaque maior para a Cristandade Ocidental, também ela hoje, felizmente, em declínio. Domina-nos hoje, século XXI, o mais perverso, o mais mentiroso, o mais assassino de todos os impérios. E nem sequer é territorial, quando muito, se quisermos continuar a falar de território, teremos de dizer que é global. É o Império do Dinheiro, o do Mercado Total. Está presente e activo em toda a parte, inclusive - e isso é o pior de tudo - até na mente (demente) das pessoas e dos povos. Desse modo, consegue enganar-nos, ludibriar-nos a todas, todos, Igrejas incluídas, a católica e as outras. Fossem as Igrejas do século XXI prosseguidoras das mais antigas comunidades de Jesus, precisamente, aquelas entre as quais nasceu o Evangelho de Marcos, escrito por volta de 42-44, portanto, cerca de 12-14 anos após a sua Morte Crucificada pelo Império de Roma, e nunca, nestes dois mil anos de História, teriam elas alguma vez começado a celebrar o natal do menino-jesus Porque o Evangelho de Marcos nunca fala do nascimento de Jesus. Isso foi coisa que nunca importou às pequenas Comunidades jesuânicas que o escreveram. A única coisa que lhes importou, e muito, foi, é a vida militante de Jesus, a sua intervenção na História, para a mudar de raiz, desde os fundamentos, a começar pelas mentes e pelas consciências das pessoas e dos povos que sempre criam instituições e sistemas que, logo sacralizam / divinizam / absolutizam e, inevitavelmente, as escravizam. O que lhes importou, e muito, foram, são as práticas económicas e políticas maiêuticas de Jesus. E também os martiriais e lúcidos duelos teológicos que ele travou com todos os do Templo - os sacerdotes, os chefes das Sinagogas, os fariseus, os teólogos oficiais ou doutores da Lei de Moisés, e também com os grandes ricos do Sinédrio, então, presidido pelo sumo-sacerdote Caifás, que eram capazes de tirar o último cêntimo à viúva pobre, só para garantirem cada vez mais forte o Tesouro do Templo (era o Banco principal do país) e toda a sua perversa influência religioso-ideológica. Tanto assim, que o testemunho escrito que nos deixaram sobre Jesus inicia-se, na idade adulta, quando ele decide deixar Nazaré, onde se havia criado, como o filho de Maria (provavelmente, mãe solteira) e como o carpinteiro, para se fazer discípulo de João, o que baptizava no Jordão, conhecido por isso, como o Baptista. O Evangelho de Marcos é por aí que se inicia e conclui, de forma surpreendente, com a notícia de que o túmulo onde depositaram o seu cadáver, depois de retirado da Cruz do Império, foi encontrado vazio por um grupo de mulheres, suas discípulas desde a Galileia até ao Calvário. Foi para que prosseguíssemos estas mesmas práticas maiêuticas e estes mesmos duelos teológicos de Jesus que as primeiras Comunidades de discípulas e de discípulos, escreveram o Evangelho de Marcos. Porém, dois mil anos depois, ainda mal começamos a fazê-lo. Metemo-nos depressa, logo na geração seguinte à de Marcos, outra vez no Templo, até ele ser destruído no ano 70. Metemo-nos a seguir a Lei de Moisés. Metemo-nos a fazer ritos religiosos. Acabamos por adoptar os cultos idolátricos do Paganismo do Império. Nunca mais quisemos saber das práticas económicas e políticas maiêuticas de Jesus, menos ainda, dos seus martiriais duelos teológicos. Aliamo-nos até com o Império de Roma, o mesmo que havia crucificado Jesus. Tornamo-nos Igreja do Império, a Religião oficial do Império que havia crucificado Jesus! Exactamente, o seu braço direito. E, quando o Império romano acabou, tornamo-nos Cristandade Ocidental, que é outra forma de Império, porventura, a mais perversa, porque domina, controla, aterroriza, condena as consciências das populações e dos povos. Nisto ainda estamos, hoje, neste início do século XXI. Com um numerosíssimo exército de funcionários do Religioso, sem nos apercebermos que tudo isso é pura Idolatria, mais veneno mental do que saúde, mais Treva do que Lucidez, mais Medo do que Liberdade, só Religião, nenhuma Política. Cada domingo, juntamos milhões e milhões pessoas de todo o mundo nos templos paroquiais e nas catedrais, mas para lhes darmos veneno, ritos, mentira, infantilidades. Por exemplo, neste próximo domingo, dito 3.º do Advento - advento de quem? De Jesus não é, porque ele garantiu que está connosco todos os dias até chegarmos à plenitude do Humano (cf. Mateus, último versículo do Evangelho) - vamos entreter as pessoas com uns extractos do Evangelho de João, conseguido à custa de um malabarismo indecente que mistura dois versículos do Prólogo desse Evangelho com mais uns quantos versículos do primeiro capítulo (cf. João 1, 6-88. 19-28).Os versículos em causa referem-se, no contexto, a Jesus adulto que estava para iniciar o seu subversivo e conspirativo ministério político ao serviço do Reino / Reinado de Deus contra o Templo e contra o Império romano; mas vão ser mentirosamente apresentados no rito da missa, como se estivessem a anunciar a chegada, o nascimento de Jesus! Somos assim. Simuladores. Malabaristas. Sem emenda. Uma Mentira pegada, institucionalizada. E, depois, ainda achamos, na nossa presunção eclesiástica, que somos os maiores em comportamentos morais e éticos, exemplo dos povos, a reserva moral da Sociedade! Deixem-me chorar! Será que ainda há saída para tanta mentira institucionalizada, para tanta Idolatria, para tanto anti-Evangelho de Jesus? Ainda há lugar para Jesus, o do Evangelho de Marcos? Há! Digo mais. A História está madura como nunca esteve para Jesus e o seu Projecto do Reino / Reinado de Deus Criador de filhas e de filhos, irmãs e irmãos entre si. Assim haja mulheres e homens, como as pequeninas Comunidades do princípio, da primeira geração após a sua Morte Crucificada, que se atrevam a prosseguir hoje e aqui, as suas mesmas práticas económicas e políticas maiêuticas, bem como os seus lúcidos e martiriais duelos teológicos. Poderão perder tudo, até a vida - o bom nome perdem-no sempre! - mas serão como ele sementes de um Mundo plenamente Humano, em contínua edificação na História. O objectivo destas pequeninas Comunidades de Jesus século XXI só pode ser o mesmo de Jesus, a quem crucificaram: derrubar o Império e o seu Templo. Hoje, o Império do Dinheiro e do Mercado Total; e o Templo ou o Religioso, todo o Templo, todo o Religioso que lhe serve de braço direito. Derrubar também o Poder Político, que lhe serve de braço esquerdo. Mas não só. É preciso, imperioso e urgente regressarmos à Política, que é o outro nome de Deus, o de Jesus. Não à política dos papagaios parlamentares e outros que tais, mas às Práticas Políticas Maiêuticas, as de Jesus, agora ao modo do século XXI. Só com o derrube do Império e dos seus dois braços, o direito e o esquerdo, é que também acabaremos com a mentira do natal. Ficaremos nós, simplesmente nós, os seres humanos e os povos, com Deus-Vento-Sopro-Espírito mais íntimo a nós do que nós próprios. Seres humanos e povos adultos, em estado de maioridade. A viverem todos os dias como meninas, como meninos. A tarefa é ingente, ciclópica. Mais uma razão para começarmos já!
Um comentário:
O que resta dizer é que o padre Mário apesar de ter sido expulso, ainda continua a usar o título de padre que a Igreja Católica lhe concedeu e pretende criar uma outra Religião baseada no judeu lendário Jesus do qual não há prova histórica da sua existência. Será que êle crê que Jesus é o filho do Deus biblico-judaico Javé Criador do Mundo?!De tantos milhares que foram pelos Romanos, condenados a morrerem pendurados num tronco,porque foi escolhido êsse tal lendário Jesus a quem depois foi dado o nome grego de Cristo?
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