2008-01-04

FUMADORES, FUNDAMENTALISMOS, ETC

O meu companheiro de "bloguices (e muito querido irmão) João Moreira publicou, no seu novo blogue "Vai-me à Loja", um interessante artigo acerca da recente "lei do tabaco". De acordo com o bloguista, trata-se de um exemplo de uma pequena ditadura isto porque, no seu entender, ao comprar tabaco está a contribuir para os cofres do Estado. Logo, tem o direito de fumar onde muito bem lhe apetecer, já que, sendo fumador, não pode - nem deve! acrescento eu - ser considerado cidadão de 2ª. Como ex-comprador de cigarros que sou (julgo que, a partir de agora, poderei ser considerado ex-fumador), não pude deixar de comentar o artigo.
Por isso, depois de ler o artigo venha até aqui. Para ler o comentário que deixei, e que é:

O fundamentalismo, seja ele de que tipo for, é sempre uma atitude que enviesa o raciocínio e embota a razão. Veja-se, por exemplo, o recente discurso do Patriarca de Lisboa, que atribui ao ateísmo e à laicidade todas as desgraças do mundo. Esqueceu-se, precisamente por se encontrar com o raciocínio embotado, da Inquisição, das Cruzadas, das inúmeras “guerras santas”, dos que em nome de Allah se fazem explodir todos os dias, e daqueles milhões que morreram às mãos de um Deus insano, psicopata e odioso (ler a Bíblia), em contraposição com os ZERO mortos em nome do ateísmo, embora não possa negar que houve e continua a haver ateístas assassinos, bem como religiosos humanistas; mas os ateus já foram perseguidos por não serem religiosos, e não me recordo de algum religioso ter sido perseguido para se tornar ateu. Pois bem, para não ficarmos com a mente perturbada, como o Zé Policarpo, tentemos raciocinar com calma e lucidez.

Desde logo, a lei que recentemente entrou em vigor nem é “lei anti-tabaco” nem “lei anti-fumadores”. Se alguém lhe chamou “lei anti-tabaco” deve ter sido qualquer um jornalista possivelmente tão lúcido como o Zé Policarpo. Como dizes – e eu assino por baixo – para ser lei “anti-tabaco” era preciso que houvesse proibição desse mesmo tabaco – preparação, manipulação, fabrico de cigarros e outros produtos de tabaco, etc.; mas, para ser lei “anti-fumadores”, tinham estes de ser impedidos de fumar – o que não é minimamente verdade. Trata-se, então, de uma lei “pró não-fumadores”, o que é diferente.

Desde que o homem começou noção dos seus direitos que logo estes começaram a conflituar com os direitos dos restantes. Sempre foi assim, e sempre assim há-de ser. Não é do meu tempo, mas deve ter havido uma época em que os homens andavam com as “pendurezas” à mostra. E tudo corria bem, até que, por inveja ou complexo de inferioridade, alguém entendeu que não tinha obrigação de ser constantemente confrontado com as “pendurezas” alheias. Daí até ao corte do direito que todos tinham de exibir os seus atributos, foi um passo de pardal. Claro que, na altura, os jornais nem uma linha publicaram acerca do assunto – e não foi por causa da censura: foi porque não havia jornais.

No fundo, é disso que se trata: os fumadores têm todo o direito de fumar, as vezes que lhes apetecer, as quantidades que lhes apetecer; mas os não fumadores têm o direito de não levar com o fumo do tabaco nas trombas. E é isto, apenas isto, que a lei protege – ou quer proteger.

Há anos, circulava pelas repartições públicas um panfleto engraçado. Dizia, mais ou menos, isto: “Você gosta de fumar, eu gosto de beber cerveja; o resíduo do seu prazer, ao fumar, é o fumo; o resíduo do meu prazer em beber cerveja, é a urina. Você deita o seu fumo para cima de mim; gostava que eu lhe mijasse para cima?”

Já agora: alguém se está a preocupar com outros importantes direitos que estão a ser retirados? Refiro-me, só, e por exemplo, ao constitucionalmente estabelecido direito à saúde.

2 comentários:

RJ disse...

Hoje experienciei sair à noite sem fumo. Adorei!

Os fumadores têm o direito a matar o vício quando lhes apetecer. Os não fumadores têm o direito em não apanhar com a fumarada alheia, ou então, em garantir que há boa ventilação nos espaços em que haja gente a fumar.
O que a lei não salvaguarda, e aí estou do lado dos fumadores, é a garantia de que haja espaços (com condições) para o fumo. Já expressei isso nalguns posts, o facto de dever ser obrigatório a existência de espaços para fumadores, nomeadamente em locais de grande dimensão.

O fumo, infelizmente para quem o produz, incomoda algumas pessoas e é prejudicial a longo prazo. Não é equiparável ao álcool pois o facto de haver gente a beber não afecta directamente o indivíduo alheio.

Anônimo disse...

Quando se quer complicar as coisas, complica-se, e pronto!
Sou fumador há mais de 30 anos e, nas múltiplas convivências e contactos que tive, nunca a questão do fumo do tabaco foi condicionante de um relacionamento ameno. Se eventualmente o "meu fumo" incomodava alguém, bastava que esse alguém o dissesse para eu apagar o cigarro.
Acho descabido que a coisa se tente transformar num conflito fumadores vs não fumadores, pois esse conflito, a existir, seria sanado com cordialidade. Comigo é assim.
A grande questão é um problema de sobreposição de uns sobre os outros e, para tal, basta ver como reagem muitos não-fumadores; a sua arrogância e sobranceria depois da aplicação da lei, quando, muitos, nunca tiveram "tomates" para imporem o que acham serem os seus direitos, antes da legislação. Inclusive já assisti a quem afirma-se que o que se deveria fazer era proíbir o tabaco. Se calhar, queriam dizer que quem fumasse deveria ser preso.
Depois, há os que alegam uma questão de saúde publica. PQP tanta demagogia!