2007-10-13

O DOLOROSO ÓBITO


O trabalho dos tribunais é, por norma, um trabalho sério, responsável. Assoberbados por montanhas de processos, os funcionários quase nem têm tempo para esboçar um sorriso.
Mas - há sempre um mas - de quando em vez há alguém que, com refinado sentido de humor e não menos requintada ironia, se aproveita de situações sérias para provocar uma saudável gargalhada.
Pois bem: rebuscando no sótão das minhas recordações, veio parar-me às mãos uma fotocópia que, na altura em que foi - largamente, diga-se de passagem - difundida, provocava irreprimíveis gargalhadas aos que a liam. Tratava-se, em resumo, de uma apreensão de aves ornamentais e canoras, provavelmente provenientes de furto. Só que quem se encarregou de acautelar o apreendido não o fez com os cuidados devidos. Por exemplo, colocou um canário e um melro na mesma gaiola, com os resultados fáceis de adivinhar.
A informação elaborada pelo Chefe de Secretaria do Tribunal de Instrução Criminal respectivo, dá-nos uma imagem do sucedido. Ei-la, devidamente transcrita:


Meritíssimo Juiz:

Algo consternado, cumpre-me informar Vª. Exª. que a canária amarela, apreendida neste TIC e no processo de Instrução Preparatória à margem indicado, que foi remetido à Polícia Judiciária de Lisboa
para investigação, foi hoje e há poucos minutos, agredido pelo melro, seu companheiro de cativeiro, e encontra-se já cadáver, jazendo quase desfeita sobre o fundo conspurcado da gaiola, onde os seus restos mortais estão a ser devorados plo seu próprio homicida, reinando na gaiola um ambiente macabro. Para que Vª. Exª. se digne determinar o que tiver por conveniente, sentidamente presto esta informação. (seguem-se a data e a assinatura).


Irrepreensível, e inatacável. Isto, se considerarmos o ambiente normalmente austero dos tribunais.
Resta dizer que na mesma gaiola ainda havia uma outra canária, que também morreu. Quanto ao melro "homicida" acabou por falecer duas semanas depois, supõe-se que de saudades.
Mas isto já sou eu a supor...

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