2012-07-27

Perguntem ao Povo

Face às notícias que davam conta de uma descida drástica do número de consultas médicas, o sr. bastonário da Ordem dos Médicos (OM) mostrou-se muito preocupado. E eu comovi-me, com essa preocupação. Mas o sr. bastonário não se ficou pela mera preocupação: foi mais longe, e disse que vai exigir, do Governo, uma auditoria para se conhecerem as razões dessa diminuição. Trata-se, pois, de um excelente exercício de hipocrisia demagógica; mas admito estar enganado e ser, afinal, um exercício de demagogia hipócrita. Se assim for, peço desculpas, desde já.
Numa altura em que o país se afunda, diariamente, numa crise que o Povo não provocou mas paga, enquanto os que a provocaram não pagam, ainda há lata para exigir... uma auditoria. Gastar dinheiro para quê, se toda a gente - o Povo! - sabe das razões? Deixem-se de auditorias, que acabam por encher os bolsos a alguns, e perguntem ao Povo. As auditorias são como as comissões parlamentares: ainda hoje ninguém descobriu para que servem. Os parlamentares sabem, mas não dizem à gente...
Perguntem ao Povo, senhores! O Povo vos dirá que não vai às consultas porque não tem dinheiro para comprar pão, quanto mais para pagar as consultas! Sim, porque as taxas moderadoras são uma forma encapotrada de pagar os actos médicos.
Há dias, fui ao Centro de Saúde e pedi à funcionária que fizesse chegar, ao meu médico de família, uns exames. Não vi o médico, não falei com ele nem sequer pelo telefone, mas paguei como se tivesse feito uma consulta.
Deixem-se de hipocrisias! Entre comprar comida para os filhos ou pagar a vergonhosa taxa moderadora, o Povo escolhe a primeira hipótese. O Povo não tem mais saúde, não senhores: está mais doente mas, também, mais faminto.
Ganhem vergonha! Perguntem ao Povo.

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