2012-12-02

O feriado do 1º

Desde que me lembro o 1º de Dezembro sempre foi feriado. É um feriado histórico, que faz parte da nossa memória colectiva. E que até poderia ser aproveitado, futuramente, para a realização de eleições, fossem elas de que cariz fossem, já que dificilmente o Zé Povo vai à praia, neste dia. Comemora (eu prefiro bebemorar, mas há gostos para tudo) o dia em que nos livrámos do jugo espanhol, embora ainda haja (?) quem ache que estaríamos melhor se o 1640 não tivesse acontecido. Opiniões...
Mas os tempos mudaram. E a troica (um conjunto de três carteiristas, chama-se terno, trio ou trempe; troica, é a primeira vez  que ouço) achou que os portugueses não passavam de uma cambada de madraços, que o que precisavam era de trabalhar. Vai daí, há que cortar os feriados que, juntamente com os domingos, são os dias em que não se faz a ponta de um corno. Fora os outros, claro.
Ora, o nosso católico governo não esteve com meias-medidas; provavelmente para não chatear "nuestros hermanos", com quem a gente se dá bem, eliminaram o feriado . em que se comemorava o dia em que nos vimos livres deles. E não mexeram no 25 de Abril!!!
Não concordo. O dias 25 de Abril faz, a cada dia que passa, menos e menos sentido. Não tem razão de existir, como feriado. Exemplos? O 25/4 veio para acabar com desigualdades; no entanto, há presos que se dão ao luxo de escolherem a prisão para onde querem ir, devido à "falta de condições"; tem direito à justiça, à saúde,ao ensino, quem tiver dinheiro; os outros, que se amanhem.
A Constituição saída   do 25/4 previa saúde universal e gratuita; depois, passou a tendencialmente gratuita; agora, é (bem) paga, e quanto a universal... estamos conversados. Ou tens dinheiro e vais para um hospital privado, ou contentas-te com a doença. O ensino segue o mesmo caminho. A liberdade de imprensa... bem, o melhor é acautelarem-se. As eleições democráticas... Espera aí: quando a maioria dos votantes não põe os pés nas assembleias de voto, isso são eleições democráticas? Quando eu não escolho os meus representantes (vota-se nos partidos, e não nas pessoas) isso é democracia? Quando o presidente da República é eleito por uma minoria que resolveu ir às urnas, é o "presidente de todos os portugueses"? Quando só falta voltar a (re)criar a Legião Portuguesa para dar sopa aos desvalidos, isso é democracia? Quando a Igreja exige a manutenção dos "seus" feriados, quando o Estado paga vencimentos a capelães, seja nos hospitais seja nas prisões - para além de outras exigências - isso é democracia? Quando o Estado (todos nós) compra um banco falido, isso é democracia? Quando os verdadeiros responsáveis pelo estado a que Portugal chegou se passeiam impunemente e não são chamados à responsabilidade, isso é democracia?
As esperanças que brotaram no 25 de Abril morreram todas. os sucessivos governos foram-se encarregando de as matar, enquanto alguns bandulhos se foram enchendo. Houve um governante que, num raro momento de lucidez, entendeu que o 25 de Abril não foi revolução, foi evolução. Ele lá sabia o que estava a dizer.
Comemorar o quê, em 25 de Abril?

Um comentário:

José Gonçalves Cravinho disse...

Com populismo e demagogia,
muita mentira,verdade parece,
mas em liberdade e «democracia»,
cada Povo tem o Governo que merece.