2012-08-08

A factura

O Governo decidiu que todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) devem receber uma factura virtual de cada vez que se dirijam a uma urgência hospitalar. Mais tarde, essa factura incidirá, também, sobre os internamentos. Pretende, o Governo, alertar para os custos do SNS.
Julgo que, aos poucos, o Governo de PPC está a rasgar a Constituição. A qual refere ter, o cidadão, direito a um serviço nacional de saúde universal e tendencialmente gratuíto. Já agora, não esqueçamos que o tendencialmente só começou a fazer parte da Constituição há relativamente pouco tempo. Adiante.
Por isso, acho uma pieguice governamental esta coisa de estar a queixar-se dos gastos com os desgraçados que vão à urgência. Já agora: aqui há dias, uma pessoa da minha família dirigiu-se a uma urgência hospitalar, por receio de uma infecção generalizada (felizmente, não se confirmou). O médico observou-a, e mandou-a para casa aconselhando-a a continuar a medicação. Apenas. Lá se foram 20 euros, e eu pergunto: que tipo de factura passariam, se já estivesse em vigor no país?
Quanto aos internamentos: se o médico me mandar internar, logicamente haverá despesa. E depois? Será que sou internado de livre vontade? O hospital tem gastos? Pois tem, mas o Governo tem os meus impostos, que são para isso mesmo. Está bem, já sei que os impostos também têm de alimentar as Parcerias Publico-Privadas, e as rendas à EDP, Petrogal, etc. Mas não fui eu que assinei esses acordos.

Pensando bem...
Pensando bem, até talvez não seja má ideia, essa da factura piegas. Estou convencido - e isto a julgar pelos comentários que vejo na TV (curiosamente, não vi comentários contra, mas devo andar distraído) de que a ideia é boa. As pessoas olham para a factura, e pensam duas vezes antes de voltar ao hospital, sabendo das dificuldades que o país - perdão, a maioria dos habitantes - atravessa. Ora, sendo assim, talvez fosse boa ideia alargar a iniciativa. Por exemplo, os alunos das escolas públicas ficariam a saber quanto é que o ministério gasta com eles, e pensariam duas vezes antes de voltar à escola. As vítimas de crimes pensariam duas vezes antes de irem à polícia queixar-se de terem levado um tareão e, ainda por cima, terem ficado sem a carteira, o dinheiro, os cartões e o telemóvel. Finalmente, podia-se apresentar uma factura desse tipo aos que acabassem de cumprir pena de prisão.Ou aos que saíssem em precária.Estou convicto de que pensariam duas vezes antes de voltar para trás das grades.

Nenhum comentário: