2010-01-09

"PONTOS CARDEAIS"

Não pude evitar... Roubei, mesmo, ao Diário de Notícias.
Mas valeu a pena.
FERNANDA CÂNCIOpor FERNANDA CÂNCIO

Na noite de 24 de Dezembro, a seguir ao telejornal da RTP1, surgiu no ecrã um dístico: "Mensagem de Natal de sua eminência reverendíssima o cardeal-patriarca de Lisboa." Seguiu-se um monólogo de 8,38 minutos no qual o dito falou sobre "o direito de ser ateu" como novidade desagradável e saudou os crentes das religiões "de deus único" apelando à sua união: "Juntos havemos de contribuir para que Deus não seja excluído do nosso mundo e da nossa história."

Ora bem. Tenho a ideia de que estas mensagens existem desde que há TV em Portugal. Ou seja, desde o tempo pré-1976 em que a Constituição não impunha a separação entre Estado e confissões religiosas e em que a Concordata assinada por Salazar equiparava padres a funcionários públicos. Mas nunca tinha reparado mesmo nelas - chama-se a isso aculturação. As caricaturas, porém, despertam-nos da letargia. E há poucas coisas mais caricatas que ver alguém a quem dão mais de oito minutos de prime time de borla (e deve ser baratinho, na noite de Natal) com o envelope de "mensagem à nação" que a lei prevê só para Presidente, primeiro-ministro e presidente do parlamento, a fazer propaganda religiosa enquanto clama "ai Jesus que os ateus me/nos querem calar".

Vou repetir: na noite de 24 a RTP passou propaganda religiosa com a dignidade de uma comunicação de alta figura do Estado. É legal? Legítimo? Aceitável? Através da direcção de programas, a RTP responde: "Ilegal não é." "Será discutível", reconhece, mas sublinha: "É costume - a maioria dos portugueses são católicos, portanto." Vejamos: a presidente do PSD fez uma mensagem vídeo de Natal. Passou onde? Nos telejornais, como notícia. Se o presidente do Benfica, que tem uns milhões de adeptos, quiser fazer uma mensagem antes de um derby, a RTP deixa? E o líder da comunidade muçulmana, pode "falar ao país"? Pois. E porquê? Porque a lei é clara: a propaganda política é proibida fora do tempo de antena, ao qual (que é proibido aos feriados) podem aceder organizações políticas, associações ambientais, desportivas, etc. - mas nunca religiosas; é exigido o pluralismo religioso na programação.

No entanto, a RTP acha, como o cardeal acha, que não há o menor perigo de alguém um dia dizer "acabou". Do alto dos privilégios a que o concubinato entre o Estado e a sua organização o (e nos) habituou, o cardeal vitimiza-se para condicionar "o inimigo" e manter a reverência. Altura então de tirar da fama o proveito. Não querendo expulsar deuses de lado algum - como expulsar o que me não existe? - , impedir seja quem for de crer no que lhe aprouver ou, como já vi escrito (o ridículo não conhece limite), "abolir o Natal", exijo dispensa de que me tentem converter ou insultar através dos meios de comunicação social do Estado. Chega de pagode: quero o país que a Constituição me garante, laico e sem eminências. Esperei 34 anos. Já pode ser?

Um comentário:

Anônimo disse...

Tudo o que essa senhora diz é tão hipócrita que mete nojo. Ela? Que diz que é impossível o governo do namoradinho manipular a comunicação social? E diz que é jornalista? Ela? Que só passou a escrever crónicas de jornal e a ser avençada mensalmente por escritos absurdos sobre os motivos do pano do pó ser cor-de-laranja a partir do momento em que vendeu o corpo ao PS?!? Ela? Que há uns anos, a par da "dama" Merche Romero, veio para todos os jornais e revistas apoiar a lei de licenciamento industrial que PROIBE bidés numa casa-de-banho e invalida que a licença seja passada se a mesma existir, porque NÃO SABE PARA QUE SERVE UM BIDÉ?!? Essa porcalhona diz que só lhe serve para pôr meias de molho e que os proibiria futuramente nas habitações porque só ocupa espaço?!? Essa coisa que nem a foto lhe posso ver, peluda como um macaco que dorme com o PM mais badalhoco que Portugal já teve, há de ser mais católica do que o Papa... basta dizer que usa métodos semelhantes com armas diferentes. E só não assino porque tenho carteira profissional, o José saibe quem sou.