2009-12-24

O Natal dos cínicos

É Natal. Por norma, é época de caridade. Que se cumpre, diga-se de passagem. Porque a solidariedade não tem épocas

De facto, em tudo quanto é televisão, multiplicam-se organizações, na razão directa do número de holofotes e câmaras. Não se multiplicam, amontoam-se, colocando-se em bicos de pés, só lhes faltando o célebre letreiro "Mãe, estou aqui". E são ceias natalícias, e são cobertores… E são reportagens televisivas acerca do assunto, sempre que possível ao vivo e a cores.

E eu pergunto: onde andam, os pobres, durante os restantes onze meses do ano, que ninguém os vê? Será que só têm fome e frio em Dezembro? Será que são pobres "sazonais"? De que se alimentam, entre Janeiro e Novembro, que a comunicação social pouco ou nada refere e, como dizia uma excelente jornalista, que faz o favor de ser minha amiga, "se não há notícia, não aconteceu"? Onde andam as caridosas organizações?

Claro que há excepções. Há instituições que, na dignidade do silêncio, acorrem aos mais desfavorecidos durante TODOS os dias do ano. Mas essas não aparecem nas parangonas de Dezembro. Porque não praticam a caridade, mas sim a digna solidariedade. Porque a solidariedade pratica-se na humildade discreta; a caridade necessita – sempre necessitou – de publicidade.