2009-07-04

"NÃO SOU POLÍTICO PROFISSIONAL"

Caro Sr. Manuel Pinho:
Admito e concedo que o caro Manuel Pinho (deixe-me tratá-lo assim; sempre foram uns anos de convívio...) considere esta crónica anacrónica (e esta? crónica anacrónica! Só mesmo eu.); mas a verdade é que só hoje consegui suster as gargalhadas que me provocava a lembrança daquela cornúpeta cena na Assembleia da República. Desde já declaro que não consegui compreender a que ou a quem se referia a gestualmente simbólica armação córnea que o Manuel Pinho representou: se queria indicar a situação do seu adversário político, ou se queria exibir a própria situação. É que se considerarmos a segunda hipótese, ninguém tem nada com isso, e ninguém tem que se considerar ofendido. Pelo que restará sempre a eterna dúvida e, sendo assim, a sua despedida das lides governamentais foi algo precipitada. Porque, num estado de direito democrático há-de permanecer, indelével, o sacrossanto princípio do in dubio pro reo. Faz parte do princípio da legalidade.
Mas não é isso que me traz aqui.
Logo após a despedida, pela porta do fundo, convenhamos, o Manuel Pinho apressou-se a mostrar-se arrependido - o que só lhe fica bem, pois é meio caminho andado para a salvação - e alegou, em sua defesa, que não era "político profissional". Ou seja, borrou, ainda mais (se é possível) a pintura. Melhor fizera se se calara.
Desde 1974 que temos vindo a ser governados, precisamente, por políticos profissionais. E o resultado é a merda que está à vista. Para o Manuel Pinho, o não ser político profissional era uma vantagem e nunca deveria servir de desculpa. Porque, olhe bem para as sondagens e para os inquéritos de rua: os portugueses estão fartos de políticos profissionais. Os portugueses querem políticos amadores, mas profissionais nos respectivos ramos, a gerir o país. Querem, por exemplo, um profissional de saúde no respectivo ministério, pode ser médico ou enfermeiro; na Justiça quer-se um profissional do foro, pode ser juiz, advogado ou escrivão; nas obras públicas, quer-se um engenheiro, ou arquitecto, ou empreiteiro da área. Um trolha já servia, desde que soubesse dizer "jamé". E assim por diante. Para político profissional basta que tenhamos o primeiro-ministro. Que, por ironia, é (ao que parece) engenheiro. Para quê? O primeiro-ministro é chefe. E, em Portugal, para ser chefe não é preciso ter conhecimentos; basta mandar.

Um comentário:

Erika Nunes disse...

Sim, o José tem muita piada mesmo!! E escreve o português correcto, pois é mesmo merda que se diz do que fez o senhor ministro :D Obrigada pelo convite!