2012-12-04

Sorria.Está a ser filmado/a

A comunicação social anuncia que o Governo vai obrigar certos estabelecimentos - designadamente farmácias, ourivesarias e postos de abastecimento de combustível - a dotar as suas superfícies comerciais com câmaras de vigilância. Parece que esta medida só se aplicará aos estabelecimentos que abram futuramente, pelo que se prevê uma corrida aos dispositivos de vigilância, graças à enorme expansão da nossa economia.
Parece-me acertada, esta medida. Pelo menos, os telespectadores deixarão de ser, diariamente, confrontados com a pasmaceira pachorrenta dos discursos do Gaspar, e passarão a verificar como é que os assaltos são realizados. Sempre é outra diversão, muito mais apelativa. Mas para ter êxito, esta medida deve ser acompanhada por outra: a de proibir terminantemente os assaltantes de usarem gorros,  capacetes, capuzes, óculos de sol, máscaras, e outras aldrabices que não permitam que sejam identificados. Quem o fizer é bom que pague uma multa, convertida em prisão.
Finalmente, era conveniente que a futura Lei indicasse claramente qual a marca de câmaras de vigilância a instalar. Se possível, por ajuste directo. Para evitar eventuais concorrentes...

2012-12-02

O feriado do 1º

Desde que me lembro o 1º de Dezembro sempre foi feriado. É um feriado histórico, que faz parte da nossa memória colectiva. E que até poderia ser aproveitado, futuramente, para a realização de eleições, fossem elas de que cariz fossem, já que dificilmente o Zé Povo vai à praia, neste dia. Comemora (eu prefiro bebemorar, mas há gostos para tudo) o dia em que nos livrámos do jugo espanhol, embora ainda haja (?) quem ache que estaríamos melhor se o 1640 não tivesse acontecido. Opiniões...
Mas os tempos mudaram. E a troica (um conjunto de três carteiristas, chama-se terno, trio ou trempe; troica, é a primeira vez  que ouço) achou que os portugueses não passavam de uma cambada de madraços, que o que precisavam era de trabalhar. Vai daí, há que cortar os feriados que, juntamente com os domingos, são os dias em que não se faz a ponta de um corno. Fora os outros, claro.
Ora, o nosso católico governo não esteve com meias-medidas; provavelmente para não chatear "nuestros hermanos", com quem a gente se dá bem, eliminaram o feriado . em que se comemorava o dia em que nos vimos livres deles. E não mexeram no 25 de Abril!!!
Não concordo. O dias 25 de Abril faz, a cada dia que passa, menos e menos sentido. Não tem razão de existir, como feriado. Exemplos? O 25/4 veio para acabar com desigualdades; no entanto, há presos que se dão ao luxo de escolherem a prisão para onde querem ir, devido à "falta de condições"; tem direito à justiça, à saúde,ao ensino, quem tiver dinheiro; os outros, que se amanhem.
A Constituição saída   do 25/4 previa saúde universal e gratuita; depois, passou a tendencialmente gratuita; agora, é (bem) paga, e quanto a universal... estamos conversados. Ou tens dinheiro e vais para um hospital privado, ou contentas-te com a doença. O ensino segue o mesmo caminho. A liberdade de imprensa... bem, o melhor é acautelarem-se. As eleições democráticas... Espera aí: quando a maioria dos votantes não põe os pés nas assembleias de voto, isso são eleições democráticas? Quando eu não escolho os meus representantes (vota-se nos partidos, e não nas pessoas) isso é democracia? Quando o presidente da República é eleito por uma minoria que resolveu ir às urnas, é o "presidente de todos os portugueses"? Quando só falta voltar a (re)criar a Legião Portuguesa para dar sopa aos desvalidos, isso é democracia? Quando a Igreja exige a manutenção dos "seus" feriados, quando o Estado paga vencimentos a capelães, seja nos hospitais seja nas prisões - para além de outras exigências - isso é democracia? Quando o Estado (todos nós) compra um banco falido, isso é democracia? Quando os verdadeiros responsáveis pelo estado a que Portugal chegou se passeiam impunemente e não são chamados à responsabilidade, isso é democracia?
As esperanças que brotaram no 25 de Abril morreram todas. os sucessivos governos foram-se encarregando de as matar, enquanto alguns bandulhos se foram enchendo. Houve um governante que, num raro momento de lucidez, entendeu que o 25 de Abril não foi revolução, foi evolução. Ele lá sabia o que estava a dizer.
Comemorar o quê, em 25 de Abril?

2012-10-12

Estamos salvos!!!

Estamos salvos!!!
Finalmente.

Segundo o mui católico Jornal de Notícias", uma catrefada de gente vai até Fátima pedir à respectiva senhora para ajudar o país.
Desde logo, se levanta a questão: só agora??? Só agora, que o Gaspar y sus mucha
chos nos foram ao bolso, eu ia dizer que nos tinham ido a outro sítio, mas contive-me, no fim de contas o assunto é religioso, nada de pornografias, dizia eu que só agora é que se lembraram de pedir ajuda????
Claro que isto levanta uma série de questões. Assim: a dita "rainha de Portugal" não sabe o que se passa no seu reino? Será que é uma figura decorativa, como alguns presidentes da república que eu conheço? Então, se a gaja não manda nada, vão pedir para quê? E é preciso ir a Fátima? É só lá que a senhora atende? Está muito atrasada, a rapariga. A Maya já dá consultas pelo telefone e pela TV.
De qualquer modo, estou convencido de que, finalmente, o país vai ter rumo. Com a senhora a orientar o gado, tudo vai ficar nos conformes: o IRS vai desaparecer, vão ser atribuídos 16 meses de vencimento, o combustível vai ficar mais barato que a água da torneira, e eu sou o coelhinho da Páscoa. Só se lamenta é que os governos, o do Sócrates e o do Passos, não se tenham lembrado de ir fazer uma peregrinações a Fátima, em vez de andarem a pedir caguinhas à troica. No fim de contas, a roupa suja sempre era lavada em casa, e a senhora Merkel ficava sem saber da nossa vida. Uma data de ateus, é o que eles são!
Pronto, vou já tratar de mudar de carro, que isto de rezar resulta sempre.
Ai não, que não resulta. Eu até ia mais longe, e punha aquela gente toda no governo da nação. Religiosos em vez de políticos, é só a experiência que nos falta. Sim, porque pelos vistos, aquela gente da Opus Dei também não merece nenhuma consideração do Altíssimo. Nem os da Maçonaria, aliás. Gente de devoção mariana é que nos interessa.
Ave Maria...

2012-10-11

Apelo patriótico

Caros leitores, amigos ou nem por isso: o País está em crise, debate-se com dificuldades que todos conhecemos. Cabe-nos a nós, portugueses, contribuir para que Portugal volte a ser um país onde os governantes possam continuar a gastar à tripa-forra. Vejam o exemplo que nos é dado pela bancada parlamentar do Partido Socialista. Assim, sim! Nada de Bentelys, Aston-Martins ou Rolls-Royces. Nada! Só carrinhos utilitários.
São estes gajos que se assumem como "alternativa". Olha a novidade! Como se nós não soubéssemos.
Por isso, meus caros, nem vale a pena. Estes ou os outros, a diferença está nas moscas. A nossa desgraça é que não se vislumbra ninguém capaz de pôr ordem no país. Uns fanam, outros gamam.
No fim, quando o Povo já não puder mais, há sempre um país de sonho à espera. Paris, Bruxelas, ou um Alto Comissariado qualquer. Se não houver, inventa-se.

2012-08-22

A polémica dos cartões

O grupo Jerónimo Martins (Pingo Doce) decidiu só aceitar o pagamento por cartões de débito para importâncias superiores a 20,00€, e o grupo Auchan (Jumbo) resolveu seguir os mesmos passos. Logo se levantaram vozes revoltadas, aqui d'el-rei que está ameaçada a segurança dos consumidores.
Vamos por partes.
Antes de mais, é consabido que a Banca mama em tudo quanto é teta. E quando não há teta para mamar, inventa-a. E os jornais dão-nos conta de que as comissões cobradas pela pagamento com cartão são exagerados. A Unicre vem alegar que as comissões estão em conformidade com os padrões europeus, mas a verdade é que esta gentalha só faz comparações com os padrões europeus quando se trata de mamar; porque quando de trata de pagar ao trabalhador, esquecem-se dos padrões europeus.
Adiante.
Ameaçada a "segurança dos consumidores"?? Porquê? Porque são obrigados a transportar valores, em dinheiro, inferiores a 20,00 euros? E o que é que se compra, hoje, com menos de 20 euros? Uma garrafa de águas? Um pão "bijou"? Alguém gasta só 20 euros ao fazer as compras para o mês? E onde é que está a "ameaça à segurança" quando se transportam 20 euros?
Alega-se, também, que vai contra a comodidade dos consumidores... Por favor, não brinquem com a minha inteligência, que ela é tão pequenina... Está ameaçada, sim, a comodidade dos operadores de caixa, que vão ter que se desunhar para arranjar trocos para as notas de 20 euros. E lá vamos nós voltar a ouvir a cantilena "Fico-lhe a dever um cêntimo, tá beinhe?" porque os preços acabam, quase todos, em ,99 €,
Não é a segurança, nem a comodidade dos consumidores, que estão ameaçadas; é a bolsa, porra!

2012-08-16

Estatísticas

Sou um apreciador de estatísticas. Entre outras coisas, porque permitem fazer, com elas, o que quisermos. Por exemplo, manipular a opinião pública e atirar areia para os olhos dos idiotas.
Desde há uns anos que os sucessivos governos, curiosamente pertencentes à mesma área partidária, vêm fazendo crer, à população em geral, que os funcionários públicos são os mamões desta paróquia chamada Portugal. Crença que, naturalmente, desencadeia animosidade. Não é raro ouvir-se dizer, por exemplo, que os funcionários públicos têm a garantia de não irem para o desemprego. Não têm. Com a agravante de que quando vão, são os únicos que não recebem indemnização. Nem têm direito ao Fundo de Desemprego. E são os únicos que pagam ao patrão, para trabalhar.
A comunicação social tinha obrigação de elucidar a opinião pública. Mas, por razões que ,me escapam completamente, não o fazem. Porque não querem. Pelo contrário, tentam envenenar a opinião pública, como se pode ver aqui, aqui e aqui.
Meus amigos, eu também sei fabricar estatísticas. Querem ver como? É simples. Vamos supor que você é porteiro numa empresa privada, e ganha 480 euros; o presidente do conselho de administração dessa empresa, ganha,,, 20.000 euros por mês. Feitas as contas, o porteiro ganha, em média, 10.480 euros. O que até nem é mau, para um porteiro.
São essas contas que o povão é levado a fazer, basta ler os comentários às notícias. Cautelosamente, omite-se que há muitos funcionários públicos a ganhar pouco mais do que o ordenado mínimo.
Um bocadinho de honestidade intelectual, não ficava nada mal.

2012-08-08

A factura

O Governo decidiu que todos os utentes do Serviço Nacional de Saúde (SNS) devem receber uma factura virtual de cada vez que se dirijam a uma urgência hospitalar. Mais tarde, essa factura incidirá, também, sobre os internamentos. Pretende, o Governo, alertar para os custos do SNS.
Julgo que, aos poucos, o Governo de PPC está a rasgar a Constituição. A qual refere ter, o cidadão, direito a um serviço nacional de saúde universal e tendencialmente gratuíto. Já agora, não esqueçamos que o tendencialmente só começou a fazer parte da Constituição há relativamente pouco tempo. Adiante.
Por isso, acho uma pieguice governamental esta coisa de estar a queixar-se dos gastos com os desgraçados que vão à urgência. Já agora: aqui há dias, uma pessoa da minha família dirigiu-se a uma urgência hospitalar, por receio de uma infecção generalizada (felizmente, não se confirmou). O médico observou-a, e mandou-a para casa aconselhando-a a continuar a medicação. Apenas. Lá se foram 20 euros, e eu pergunto: que tipo de factura passariam, se já estivesse em vigor no país?
Quanto aos internamentos: se o médico me mandar internar, logicamente haverá despesa. E depois? Será que sou internado de livre vontade? O hospital tem gastos? Pois tem, mas o Governo tem os meus impostos, que são para isso mesmo. Está bem, já sei que os impostos também têm de alimentar as Parcerias Publico-Privadas, e as rendas à EDP, Petrogal, etc. Mas não fui eu que assinei esses acordos.

Pensando bem...
Pensando bem, até talvez não seja má ideia, essa da factura piegas. Estou convencido - e isto a julgar pelos comentários que vejo na TV (curiosamente, não vi comentários contra, mas devo andar distraído) de que a ideia é boa. As pessoas olham para a factura, e pensam duas vezes antes de voltar ao hospital, sabendo das dificuldades que o país - perdão, a maioria dos habitantes - atravessa. Ora, sendo assim, talvez fosse boa ideia alargar a iniciativa. Por exemplo, os alunos das escolas públicas ficariam a saber quanto é que o ministério gasta com eles, e pensariam duas vezes antes de voltar à escola. As vítimas de crimes pensariam duas vezes antes de irem à polícia queixar-se de terem levado um tareão e, ainda por cima, terem ficado sem a carteira, o dinheiro, os cartões e o telemóvel. Finalmente, podia-se apresentar uma factura desse tipo aos que acabassem de cumprir pena de prisão.Ou aos que saíssem em precária.Estou convicto de que pensariam duas vezes antes de voltar para trás das grades.

2012-07-30

A senhora ministra confessou-se...


Eu já andava desconfiado. A sério. Depois de ter proclamado a sua fé, a senhora ministra remeteu-se ao recolhimento esperando, talvez, que a chuva viesse. Porque a fé sempre há-de valer para alguma coisa, não é verdade? Mas o raio da chuva não veio e a senhora ministra resolveu mudar de tática, porque, certamente, alguém lá em cima não acreditou na fé da senhora ministra. Assim, e para que não restassem dúvidas, proclamou urbi et orbi que está na política porque é cristã.
Pois.
A mudança de tática é compreensível, não vá dar-se o caso de alguém, lá em cima, ter lido a Constituição da República Portuguesa e ter concluído - erradamente, claro - que estávamos num país laico. Ora, a assim ser, o S. Pedro, que é o que manda nestas coisas da chuva e do bom tempo, deve ter-se sentido desobrigado de molhar o país (se calhar, entendeu que não seria necessário, dado isto estar a meter água por tudo quanto é sítio, mas isto sou eu a pensar...), já que aquela declaração de fé pode ter cheirado a discurso político. E nós sabemos que os políticos, enquanto tais, são sérios candidatos a uma estada no Inferno. O que lhes vai valendo ainda são essas coisas da religião.
Mas não. A senhora ministra reiterou as suas convicções fortemente católicas, pelo que a sua situação é mais de apostolado do que de ministério. Ou então, é de ministério da Igreja, e assim já se compreende.
Por isso, S. Pedro, podes mandar água à vontade. Mas não muita, que isto já está a afundar-se...

Em simultâneo no "Diário de uns Ateus"

2012-07-27

Perguntem ao Povo

Face às notícias que davam conta de uma descida drástica do número de consultas médicas, o sr. bastonário da Ordem dos Médicos (OM) mostrou-se muito preocupado. E eu comovi-me, com essa preocupação. Mas o sr. bastonário não se ficou pela mera preocupação: foi mais longe, e disse que vai exigir, do Governo, uma auditoria para se conhecerem as razões dessa diminuição. Trata-se, pois, de um excelente exercício de hipocrisia demagógica; mas admito estar enganado e ser, afinal, um exercício de demagogia hipócrita. Se assim for, peço desculpas, desde já.
Numa altura em que o país se afunda, diariamente, numa crise que o Povo não provocou mas paga, enquanto os que a provocaram não pagam, ainda há lata para exigir... uma auditoria. Gastar dinheiro para quê, se toda a gente - o Povo! - sabe das razões? Deixem-se de auditorias, que acabam por encher os bolsos a alguns, e perguntem ao Povo. As auditorias são como as comissões parlamentares: ainda hoje ninguém descobriu para que servem. Os parlamentares sabem, mas não dizem à gente...
Perguntem ao Povo, senhores! O Povo vos dirá que não vai às consultas porque não tem dinheiro para comprar pão, quanto mais para pagar as consultas! Sim, porque as taxas moderadoras são uma forma encapotrada de pagar os actos médicos.
Há dias, fui ao Centro de Saúde e pedi à funcionária que fizesse chegar, ao meu médico de família, uns exames. Não vi o médico, não falei com ele nem sequer pelo telefone, mas paguei como se tivesse feito uma consulta.
Deixem-se de hipocrisias! Entre comprar comida para os filhos ou pagar a vergonhosa taxa moderadora, o Povo escolhe a primeira hipótese. O Povo não tem mais saúde, não senhores: está mais doente mas, também, mais faminto.
Ganhem vergonha! Perguntem ao Povo.

2012-07-25

Ai, os subsídios

De vez em quando, lá me aparece, na caixa do correio, uma mensagem escandalizada porque um novo funcionário público tomou posse e, no respectivo despacho, vê-se-lhe ser atribuídos os subsídios de Natal e de Férias, que os mensageiros acusam de estar encapotados pelo termo "abono suplementar". O mais grave é que alguns destes mensageiros (leia-se remetentes das mensagens) são funcionários públicos - em actividade, ou aposentados.
Vou tentar explicar: os funcionários públicos não recebem subsídios. Os subsídios são, por exemplo, para os agricultores, quando os incêndios, as cheias ou as secas lhes dão cabo dos produtos agrícolas; os funcionários públicos são gente fina e recebem abonos suplementares. Do mesmo modo, não há registo de funcionários públicos reformados; reformados, são os simples mortais. Os funcionários públicos são aposentados e, em certos casos, até podem ser jubilados. Reformados, nunca!
Posto isto, vamos aos abonos suplementares. Eles são atribuídos por lei, quer na função pública quer no sector privado. Se a lei diz que o funcionário público tem direito ao abono, e se nenhuma lei posterior diz que esse abono foi eliminado, então, parece que o direito subsiste. E tem de constar do despacho de nomeação. É lógico. Se, depois, aparece outra lei a dizer que os abonos são suspensos, o que é diferente de eliminados, a conversa é outra. Mas o direito mantém-se.
Vamos, agora, fazer o filme ao contrário. Vamos supor, para fazer a vontade aos escandalizados mensageiros, que o despacho de nomeação não incluía os referidos abonos. E vamos supor, por hipótese académica - e completamente absurda, mas tem que ser, para o exercício de raciocínio que pretendo fazer - que daqui a uns anos os abonos eram devolvidos. O que aconteceria ao tal funcionário público nomeado nestas condições? É simples. Não recebia o abono, porque a ele não tinha direito.
Perceberam?

2012-07-22

O novo "milagre" da multiplicação

Enquanto o café arrefecia na chávena, o meu amigo Adalbataberto vociferava, batendo com o indicador no já datado "Jornal de Notícias" (JN):
- Mas tu já viste isto? Já leste bem a notícia?
A notícia, publicada ao fundo da página 20 do JN do dia 19 de Julho, não me pareceu assim muito transcendente. Passei-lhe os olhos:
- Pronto. "Artesãos trabalham a favor de bombeiros".E depois?
- "Depois?!" perguntou o Adalbataberto, mexendo furiosamente o café, na tentativa, já inglória, de dissolver o açúcar -. Isso quer dizer que não leste bem. Mas eu elucido-te - acrescentou com uma ponta de ironia. E prosseguiu:
- Para já, começa por dizer que "Os Bombeiros Voluntários do Porto e de Coimbrões" vão poder juntar 20.800 euros por ano com as receitas dos "Sábados Solidários". Ora, como no Porto há duas corporações de bombeiros voluntários, isso quer dizer que os "Portuenses" não recebem a ponta de um corno.
Ignorando a grosseira observação, argumentei:
- Calma. A notícia não diz qual corporação vai abichar essa guita toda. Pode ser que sejam as duas...
Adalbataberto nem me deu tempo:
- As duas?!. Tu estás bom, ou deixaste de saber ler? Queres ver que te licenciaste como o outro? Bombeiros Voluntários do Porto não está escrita com minúsculas. É com maiúsculas, pá! Sabes o que isso quer dizer? Se estivesse escrito com minúsculas significaria que eram todos os bombeiros voluntários; com maiúsculas significa que são aqueles, e mais nenhuns. É nome próprio, percebeste?
Não discuti, até porque o Adalbataberto percebe de português como poucos. mas o meu amigo não me dava tréguas:
- E leste quem é que vai proporcionar essa receita?
- Li, claro. É a Associação de Bares da Zona Histórica do Porto (ABZHP) - respondi, tendo o cuidado de  acentuar as maiúsculas, não fosse o Adalbataberto querer dar-me outra lição de português.
- Pois. E o que é que a ABZHP tem a ver com o artesanato?
- Boa pergunta! Não sei - confessei.
- Pois não - Adalbataberto estava eufórico. - Não sabes tu, nem sabe ninguém.
- Calma aí - decidi passar ao ataque. - Sabes lá se não vão vender bebidas artesanais? Tipo vinho a martelo, champanhe do Cartaxo, rum das Berlengas... De qualquer modo, dado que é uma iniciativa de uma associação, certamente foi votada em assembleia geral...
- Não brinques, pá! Qual assembleia geral? Tentei falar com o presidente, e não consegui...
- Qual presidente?  - perguntei, distraído a observar uma boazona que descruzava, para voltar a cruzar, as pernas pela cagagésima vez. - O Cavaco?
Adalbataberto enfureceu-se. Não gosta de distrações quando fala:
- Qual Cavaco, porra! O presidente da assembleia geral, pá! Não consegui. Nem com ele, nem com ninguém do conselho fiscal, nem com o tesoureiro, já que isto envolve dinheiro... Dá a impressão de que essa gente não existe. Mas não é tudo.
Recostei-me na cadeira e observei com atenção o meu amigo, dado que a boazona tinha ido embora.
- Que mais temos?
- Sabes fazer contas?
- Olha, pá, nem por isso. A matemática nunca foi o meu forte...
- Não faz mal, eu ajudo-te. Lê aqui - apontou-me onde eu devia ler, com o dedo indicador. Mas, sem esperar que eu fizesse as contas, missão algo penosa para mim, esclareceu-me:
- A ABZHP promete fazer "feiras solidárias" todos os primeiros e últimos sábados de cada vez. Cada feira terá, "pelo menos", 50 artesãos. Cada artesão pagará uma "quota solidária" de dez euros. E será essa receita que garantirá os 20.800 euros a cada corporação. Agora, faz as contas comigo: duas semanas por mês, dá 24 semanas por ano. A multiplicar por cinquenta artesãos, dá 1200 artesãos. Se cada artesão pagar uma "quota solidária" de 10 euros, vai dar 12.000 euros ao fim do ano. A dividir por duas corporações de bombeiros, dá seis mil euros a cada uma. Então, onde estão os 20.800 euros? Ou teremos a versão moderna do "milagre" da multiplicação, só que em vez de pães e peixes são euros? Olha, o Governo podia aproveitar, que a ABZHP era capaz de dar cabo da crise.
Meio atordoado com a rapidez das contas que, na verdade, não consegui acompanhar, ainda ouvi Adalbataberto dizer:
- Agora, repara: "os bombeiros ficarão com 80% das receitas; os restantes 20% destinam-se aos gastos da organização". Gastos da organização?? Quais gastos? Despesas com e-mail? Sinceramente, conheço os termos "bolso", "algibeira", mas é a primeira vez que vejo alguém chamar-lhe "gastos de organização"...
Adalbataberto parecia mais calmo. Chamei o empregado, paguei a despesa, e preparei-me para sair. Mas ainda ouvi o meu amigo desabafar:
- Estes políticos sempre me saíram uns trafulhas..! Mas como é que um jornal respeitável, como o JN, embarca numa história destas? Não sabem fazer contas? Ou já andam nos fretes?
Antes de sair, ainda me atrevi a perguntar:
- Quem te disse que foi um político...?
- Ora, pá! Só um político é que promete,sabendo que não vai cumprir. De caras.
Saí. Não cheguei a perceber a que político Adalbataberto se referia.


2012-07-18

Assim não, senhor bispo


Deixe-me dizer-lhe que subscrevo inteiramente as suas palavras. Na verdade, se o anterior governo dizia mata, este diz esfola. E o senhor falou em corrupção precisamente numa altura em que as autoridades andam a investigar negociatas a que membros do governo não são alheios. No entanto, não lhe reconheço o direito de dizer o que disse. Ou seja, o tiro foi certeiro, a arma é que não foi a adequada, isto para utilizar terminologia da tropa.
Vou tentar explicar.
O senhor disse cobras e lagartos do actual Governo - precisamente o Governo que lhe aconchega a carteira ao fim do mês. Mas isso até ainda é o menos; há muitos funcionários públicos a dizer mal do Governo, e não é por aí que o gato vai às filhoses. O grande problema, senhor bispo, é que o senhor falou enquanto bispo. Pelo menos, envergava um dos fardamentos da função. E embora a ICAR tenha vindo, mui lesta, dizer que o senhor exprimiu uma opinião pessoal - nem outra coisa era de esperar - a verdade é que era o bispo das Forças Armadas que estava a falar. E é aí que eu começo a não concordar.E sabe porquê? Porque se trata de uma indecente ingerência da Igreja nas questões governativas. Do Estado, portanto. Já ouviu falar em separação? Pois...
Diga-me uma coisa: se, por hipótese meramente académica e completamente absurda, dado o permanente ajoelhar governativo, um membro do Governo se pronunciasse relativamente ao celibato dos padres ou ao sacerdócio das mulheres, como reagiria?
Pois é. Há situações em que fica muito mal morder a mão que alimenta.
Em simultâneo no Diário de uns Ateus

2012-07-14

Exm.º Ministro...

...Paulo Portas. Permita-me que o trate assim, porque não sei em que qualidade V.ª Exª. falou, se na de ministro, se na de dirigente partidário.
Deixe-me dizer.lhe, antes de mais, que não gosto de si nem um bocadinho. Já sei que V.ª Ex.ª está-se borrifando mara o facto de eu gostar, ou não, de si. Mas eu precisava de dizer isto.
V.ª Ex.ª falou e disse. Acerca do acórdão do Tribunal Constitucional (TC) disse que não era legítimo estender aos privados a dívida do Estado. Se não foi assim, a ideia era essa. Ou seja: se a dívida é do Estado, que sejam os seus funcionários a pagá-la. E eu quase dei comigo a aplaudir com ambas as mãos - já tentei aplaudir só com uma, e não consegui, mas isso é outra conversa.
Na verdade, todas as despesas que os diversos governos - e este "diversos" é uma figura de retórica, já que, na verdade, só houve dois, uns conluiados com o Partido de V.ª Ex.ª, outros nem por isso - dizia eu que todas as despesas feitas pelos governantes foram para beneficiar o Estado e seus funcionários. Principalmente, os funcionários, por isso é justo que sejam eles a pagar os excessos que ainda agora se vão mantendo.
Estou a lembrar-me, assim de repente, de uns submarinos, para os funcionários do Estado darem as suas voltinhas aos domingos. Mas também me lembro de uma quantidade enorme es estádios de futebol, de auto-estradas sem necessidade, de um projecto de TGV e de um aeroporto, tudo para que os funcionários do Estado pudessem partir para férias, certamente com os chorudos subsídios das ditas. As parcerias público-privadas foram estabelecidas para os funcionários públicos encherem os bolsos, os institutos são para dar dinheiro aos funcionários públicos.
É por isso que quando se diz que nós gastámos mais do que o devido, eu pergunto: NÓS, quem?
Senhor ministro, tenha vergonha. Não é preciso muita, basta um pouco.

2012-07-09

"Alá é grande"

A barbárie religiosa não tem limites. Deus, seja o dos católicos, seja o dos islâmicos, seja o dos judeus, seja o do raio que os parta a todos, é a justificação perfeita para que se continuem a perpetuar as maiores barbaridades. Desta vez, foi no Afeganistão. Mas podia ser em qualquer outra parte do Mundo. Porque o deus é “grande”, seja onde for. Principalmente, onde convier.
Em simultâneo no "Diário Ateísta"

2012-07-06

As intermitências da Lei

José Saramago escreveu um delicioso livro intitulado "As Intermitências da Morte". No livro, a Morte deixava de funcionar a espaços, criando constrangimentos fáceis de imaginar.
Pois bem, o Tribunal Constitucional (TC) acaba de dar à estampa a versão adaptada do livro: "As Intermitências da Lei" sendo a Lei a Constituição. Assim, os cortes dos subsídios de férias e de Natal dos funcionários públicos foram declarados inconstitucionais. MAS essa inconstitucionalidade não se aplica ao ano de 2012. Ou seja, a Constituição fica suspensa até 2013. E o que parece ser uma "gaffe" ou uma "boutade" do TC acaba por ser algo mais complexo. E grave, pela velhacaria.
Na verdade, alguns funcionários públicos trataram de rejubilar e, provavelmente, já estarão de olho filado no popó que, afinal, sempre vão poder comprar. Só que ainda não viram a ratoeira.Vou tentar explicar-me:
O TC alega que a decisão é inconstitucional porque viola o princípio da igualdade (Artº 13º da CRP). Só. Não diz que o corte é inconstitucional porque retira direitos adquiridos, mas apenas porque viola o tal princípio da igualdade. E não é por acaso que este ano (2012) "no pasa nada", isto é, a Constituição não se aplica. É que em 2012 já é tarde para repor o violado princípio da igualdade. Que vai ser reposto em 2013.
Por isso, caros funcionários públicos, tenham calma. Os subsídios não vão ser repostos; vão é ser tirados aos privados.
Fica reposta a igualdade. A Constituição volta a funcionar. Como a Morte, nas ditas "Intermitências".

2012-06-20

A Imagem do país laico

Como sabem, e se não sabem deviam saber, Portugal é um estado laico. Isto é, não tem religião oficial.

Como se pode ver na imagem acima, os membros do governo mantêm uma atitude laica.


2012-04-20

O Pogrom de Lisboa


Faz hoje 506 anos.

O dia 19 de Abril de 1506 amanheceu pacífico e soalheiro.
Na igreja de São Domingos, em Lisboa, a missa dessa manhã decorria provavelmente com a calma modorra do costume.
Mas, de súbito, a placidez da missa foi interrompida por um estranho fenómeno que se oferecia perante os olhos de todos os fiéis: a imagem do Cristo pregado na cruz que se encontrava sobre o altar estava iluminada por uma estranha e misteriosa luz.
A superstição e a exacerbada crença dos fiéis imediatamente os fez acreditar estar na presença de um milagre: a imagem do Cristo parecia até que irradiava luz própria.
Todos se ajoelharam em fervorosas preces, em êxtase perante aquele milagre que se lhes oferecia, ali mesmo, à frente dos seus olhos.
Mas há sempre um desmancha-prazeres em histórias como estas: um dos fiéis mais afoitos logo se apressou a explicar aos seus colegas de missa que a luz nada tinha de misteriosa, pois provinha simplesmente do reflexo de uma candeia de azeite que estava ali próxima.
E pronto! Caiu o Carmo e a Trindade!
A primeira coisa que alguém descobriu foi que o chico-esperto era um cristão novo, um judeu convertido à pressa mas, pelos vistos, demasiado depressa.
Foi o suficiente para logo dali o arrastarem pelos cabelos para o adro da igreja, onde foi imediatamente chacinado pela multidão dos fervorosos tementes a Deus, e o seu corpo queimado no local.
O êxtase místico da multidão logo se propagou a toda a cidade.
Lisboa parecia ter ela própria enlouquecido.
Respeitáveis representantes do clero católico saíram dos seus pacatos refúgios de oração e percorriam as ruas de um lado para o outro empunhando crucifixos e gritando: «Heresia! Heresia!».
A multidão depressa foi engrossando e, ajudada até por marinheiros holandeses e dinamarqueses que se encontravam no porto, iniciou uma gigantesca rusga por toda a cidade.
Para evitar o caos e a anarquia, sempre más conselheiras, os padres e frades dominicanos tomaram a piedosa responsabilidade de organizar convenientemente o tumulto: judeu ou cristão-novo que era identificado ou apanhado, era imediatamente preso e levado para o Rossio e ali era queimado em gigantescas fogueiras que os escravos municiavam ininterruptamente de lenha.
Os judeus e os cristãos novos, homens e mulheres, que se refugiavam em casa eram arrancados à força dos seus esconderijos. Até as crianças de berço eram fendidas de alto a baixo ou esborrachadas de encontro às paredes.
Como mesmo nestas coisas da fé é sempre bom juntar o útil ao agradável, o misticismo assassino daqueles fervorosos e bons católicos não os impediu de pilhar as casas por onde passavam e de ajustar velhas contas com inimigos que muitas vezes nada tinham a ver com o judaísmo.
Mesmo os que se refugiavam nas igrejas e se agarravam desesperadamente às imagens dos santos eram levados e arrastados à força para o Rossio e queimados vivos.
A chacina durou dois dias e só terminou por puro cansaço da populaça.
Relatos da época falam no sangue que escorria pelas ruas abaixo no Bairro Alto ou na Mouraria.
Calculam os historiadores que nesta matança em nome dos mais sagrados princípios e da pureza do catolicismo morreram mais de 4.000 pessoas.
Tudo, claro, em nome dessa coisa extraordinária que algumas pessoas têm e que tanto se orgulham de ter, que se chama «Fé».
Tudo feito por bons católicos.
Tudo em nome de Deus.

Carlos Esperança, in Diário Ateísta

2012-04-14

Aleluía!!! Ele ressuscitou.

Todos os anos, alguém morre para voltar a ressuscitar três (?) dias depois. É um caso raro de teimosia, certamente a convocar apoio clínico na área da psiquiatria.
Desta vez, porém, foi diferente. Chorou-se a morte, mas a ressurreição foi de imensa alegria. Cristo, satisfeito por ter renascido, até dançou. E não dançou uma música qualquer, não senhores; foi mesmo o expoente máximo da música erudita,, adaptada a bailado clássico. "Ai Se Eu Te Pego", foi a melodia escolhida. Aliás, só assim se justifica: a palhaçada tinha de ficar completa.

2012-04-08

Eleições antecipadas????

Tendo-lhe sido soprado que Portugal poderia precisar de novo auxílio externo, Francisco Louçã, de quem eu sou amigo (no Facebook), diz que se tal acontecer devíamos ir para eleições antecipadas.
Muito me espanta que o meu amigo (do Facebook, repito) tenha uma visão tão rasteira da política e, sobretudo, da economia. Ora, estando o país no estado que todos conhecemos, convocar eleições, sejam antecipadas sejam na altura própria, é um desperdício de dinheiro e, sobretudo, de tempo. Eu explico, como não podia deixar de ser.
Já todos sabemos quem vai ganhar as próximas eleições; as hipóteses não são muitas, aliás resumem-se a duas: vai ganhar um dos dois do costume. Pelo que realizar eleições é mero folclore. Aliás, tanto faz ganhar um como outro; trata-se de uma mer(d)a questão de mudança de moscas, porque tudo ficará na mesma, ou pior. A única vantagem é que quem ganhar sempre pode voltar a assaltar os bolsos dos portugueses do costume, com a desculpa de que a culpa foi do que lá tinha estado.  
Então, como se resolveria o problema da mudança de governo? Ora, de uma maneira simples, barata e, sobretudo, original: punham-se os dois chefões sentados a uma mesa com um baralho de cartas e a jogar à bisca. Quem ganhasse e, sobretudo, quem fizesse mais batota - quem quer ir para o governo tem que dar provas durante o jogo - seria o vencedor. E ao vencedor, seria dada a oportunidade não só de formar governo, como também de nomear amigos e familiares para os poleiros mais convenientes e, principalmente, mais bem remunerados - atitude que não se verifica actualmente, e que é demonstrativa de ingratidão.
Vamos, pois, acabar com o desperdício de eleições, com o seu cortejo de promessas nunca cumpridas, comícios, jantaradas, gasolina gasta, nervos, megafones, camisolas e esferográficas, etc. Um baralho de cartas é suficiente. Assim, o vencedor nunca poderia ser acusado de prometer e não cumprir: poderia sempre garantir eu não prometi nada, a consciência ficava um pouco mais limpa, podia pôr os funcionários públicos a ganhar não 14 meses de vencimento, não doze meses, mas p'raí uns dez, ou menos, que essa malta da função pública é toda uma cambada de catrogas e mexias. É bom que comece a pagar a crise.

2012-03-11

O que é que lhes interessa?


Ao que parece, a Igreja Católica está a intensificar a campanha contra o casamento homossexual, no Reino Unido.
E eu pergunto: o que é que a Igreja tem a ver com isso? Só casa quem quer e, no meu entender, a Igreja podia, se quisesse, dar instruções aos seus clientes homossexuais para não casarem. Só isso e, mesmo assim, não é linear. Ou a liberdade de cada um é para desprezar?
Depois, lá aparece o miserável argumento: o casamento é para procriação e educação das crianças. Ai é? Então, quem se casa tem de procriar? E se houver infertilidade? Descasam-se? E se forem dois velhotes? Não podem casar-se? E se um casal decidir, pura e simplesmente, não ter filhos? Anula-se o casamento?
Que tal um pouco mais de pudor?
Em simultâneo no "Diário Ateísta".
Escrito em desacordo com o Acordo Ortográfico.

2012-03-10

O mentiroso e o outro

Um, era mentiroso. Até lhe chamavam "O Pinóquio". Mas tinha uma virtude: sabia mentir. E o povo acreditava nas mentiras e sentia-se feliz, porque acreditava que tudo era verdade.
Este também é mentiroso; mas não sabe mentir. Além disso, é troca-tintas e trampolineiro. E o povo anda triste, porque não acredita nas mentiras dele. Mesmo quando, por distracção fala verdade, ninguém acredita. Por exemplo, ninguém acreditou quando ele disse que não cortava o 13º mês aos funcionários públicos. E reparem que ele já estava a mentir e, mesmo assim, ninguém acreditou. Também afirmou que não ia cortar os vencimentos... Bom, aqui, até falou verdade. Não cortou os vencimentos na TAP nem na CGD. E, ao que parece, também não vai cortar em mais empresas do Estado. Como falou verdade, alguns acreditaram: os da TAP e da CGD.
Político que não saiba mentir é um mau político. Porque mentir, todos eles mentem. Mas saber mentir, poucos sabem. Este, não sabe.
É um mau político.
Podia ter deixado lá ficar o outro, que sempre se poupavam uns euros das eleições. Já que a merda era a mesma, ao menos deixavam ficar as moscas. Já estávamos habituados...

2012-02-22

A fé da senhora ministra


A senhora ministra da Agricultura tem fé.  É uma pessoa de fé, o que só lhe fica bem, quanto mais não seja para condizer com o Estado. Mas ninguém tem nada com isso. As "feses" são coisas do foro íntimo das pessoas, e não me parece bem andar por aí a fazer propaganda.
Mas prontos, a senhora ministra tem fé de que a chuva não tardará aí.  Julgo que até já se inscreveu nos "Alunos de Apolo" para aprender a dança da chuva, mas isto sou eu a julgar.
Portugal não carece de governantes com fé. Para termos ministros com “fé”, não precisávamos de eleições, que tanto dinheiro custam aos contribuintes; pedíamos ao Vaticano, que coisa que lá não falta é homens com fé. E mulheres também. Até nos podiam mandar daqueles corruptos que há por lá que, isso sim, é coisa de que estamos carentes.
Não precisamos de “feses”; precisamos que chova. E na falta de chuva, precisamos de ministros que resolvam o problema. Nem que seja através da dessalinização da água do mar.
Não posso esquecer-me de que há uns anos, algures no Alentejo, um padre pretendeu organizar uma procissão, por causa da seca. Voltávamos ao tempo das “danças da chuva”, para que Manitu fizesse cai água. Pois bem, tudo preparado, eis que a procissão teve de ser cancelada… por causa de um tremendo aguaceiro.
Manitu jogou por antecipação.
A nossa ministra declarou, "urbi et orbi" que a fé vai resolver o problema da falta de chuva.
E não se demitiu.
Nem ninguém a demitiu.

(Em simultâneo no "Diário Ateísta".)

2012-02-21

Nós, os burros...

O Governo, nas pessoas dos seus ministros e do presidente do conselho respectivo, acha que todos os outros - os que não são do governo - são burros. Para além de achar, agem como tal. E vão dando palha ao pessoal.
Assim: o país precisa de produzir. E nós, que até nem sabíamos... Somos burros, claro. E como o país precisa de produzir, vá de cortar feriados. Não se aumenta a produtividade, aumenta-se a produção. É quase a mesma coisa.  Adiante.
Está aí o Carnaval. E logo numa altura em que a "troica", provavelmente a mando do duo Merkozy, vem fiscalizar as contas. Ora, não parece bonito a "troica" vir cá e encontrar o povo na rua a desbundar; à boa maneira portuguesa, e como sempre acontece quando um ministro vai visitar um departamento "de surpresa", arruma-se o lixo para debaixo do tapete: Não há Carnaval para ninguém! Toda a gente a produzir, que é para os da "troica" nos arranjarem mais uns troicos - perdão, trocos.
Mas o senhor presidente do conselho esqueceu-se. Esqueceu-se de uma coisa chamada "contrato colectivo de trabalho". Se calhar, até rezou para que viesse um incêndio e destruísse todos os contratos colectivos de trabalho, para não haver testemunhas. É que os contratos colectivos de trabalho, pelo menos a esmagadora maioria deles, considera o Carnaval como... feriado. Não um feriado de faz-de-conta, mas um feriado a sério. Esqueceu-se, também, que há várias espécies de funcionários públicos. E que dessas espécies, só uma minoria está directamente submetida aos ditames ministeriais. E que, destes, muitos foram os que tiveram direito a tolerância "clandestina", ou seja, à revelia da tutela, em regime de "fifty-fifty. E muitos outros, meteram um dia de férias.
Resultado: o país parou. O tecido produtivo - sector primário, sector secundário, a esmagadora maioria dos serviços - parou. A maior parte das câmaras municipais deu tolerância de ponto. Hoje, quem passear pelo Porto, julga que é domingo. Não há comércio, à excepção de umas lojas de chineses; não há transportes; poucos cafés estão abertos. Ou seja: tudo aquilo que poderia gerar algum dinheiro, que era essa a ideia que o Governo quis passar cá para fora, e que é aquilo de que, no fim de contas, o país necessita, foi desbundar no Carnaval. Ficaram meia-dúzia de mangas-de-alpaca, a quem o Estado vai pagar subsídio de refeição, energia, água, provavelmente telefone... e que não vão fazer, rigorosamente, a ponta de um corno.
E os burros somos nós.

Este texto não foi escrito segundo as regras do novo Acordo Ortográfico.
Para que conste.

2012-02-13

A culpa do motorista

O motorista não ia sozinho. Por acaso - perdão! por inerência de funções -  transportava consigo Mário Mendes, à data secretário geral do Sistema de Segurança interna. Superior hierárquico do motorista, portanto. E que, nessa qualidade, poderia (deveria?) ter chamado a atenção do motorista para o excesso de velocidade. Mais: devia ter-lhe dito, peremptoriamente: "Vá mais devagar!" Mas não disse. Provavelmente, mas isto já sou eu a conjecturar, ter-lhe-á dito algo como "Porra, vou chegar atrasado. Ligue a sirene, acenda o pirilampo e acelere". Mas sou eu a conjecturar, repito. Porque essa gente anda sempre atrasada. As pessoas importantes atrasam-se sempre. E se têm sirene e pirilampo, para alguma coisa há-de ser. Por exemplo, para acelerar em plena Avenida da Liberdade.
E as pessoas que não são importantes lixam-se sempre.
O motorista não é pessoa importante.
O do dr. Mário Mendes.
Porque se fosse o do dr. Miguel Relvas, era importante.
Basta olhar para o ordenado dele.
Do motorista.

2012-02-04

Ele 'grama' a gente


Ontem, um canal de televisão transmitia uma reportagem sobre o voluntariado em pediatria oncológica. Porque o assunto me toca pessoalmente, não deixei de assistir. Não deixei de assistir ao sofrimento das crianças, demasiado novas e inocentes para usufruírem do maravilhoso "livre-arbítrio" que, misericordiosamente, Deus nos concedeu.
Na verdade nós, adultos, podemos, perfeita e livremente, contribuir para a existência de cancro; seja fumando, seja bebendo, seja fazendo ambas as coisas e outras mais. Mas as crianças, Senhor?
Não pude evitar de me perguntar: que raio de Deus é este, cheio de amor e bondade, que permite que crianças sofram daquela maneira, ao ponto de, muitas delas, chegarem a adultos - as que chegam - sem terem tido tempo de viver a infância na sua maravilhosa plenitude?
Já sei, já conheço a cassete: Deus não intervém nas coisas terrenas.  Não sei se algum crente me vai responder dessa forma;    e é bom que não o faça, para não me obrigar a perguntar: "Então, temos de concluir que os milagres apregoados pela ICAR são fraudes?"  Nada que não se saiba, naturalmente, mas convém, sempre, lembrar. Porque Deus deu-nos o livre arbítrio, seja lá isso o que for. Ai sim? E o que é que as crianças têm a ver com o livre-arbítrio? Porque as crianças pagam pelos erros dos pais. Pois... até aí já eu tinha percebido, já vem desde o Génesis. Mas para um deus de amor e bondade, não está nada mal, não senhores. Aliás, apetece perguntar: para que serve um deus que não intervém, que não olha pelos seus filhos, que não os protege? Em qualquer país civilizado, pouco civilizado que seja, um pai ou uma mãe que não proteja os seus filhos é punido social e/ou criminalmente.  Um dia, na Dinamarca que, na minha óptica, pertence ao grupo dos países civilizados, vi que uma criança fazia um berreiro desalmado e atirava-se para o chão, porque não lhe apetecia acompanhar o pai. Uma birra das antigas e que eu pensava terem caído em desuso. Um companheiro de viagem comentou, com um o guia, que em Portugal aquela cena já teria sido resolvida com dois açoites bem assentes no rabo do puto malcriado. "Nem pensar!" respondeu-lhe o guia; "O pai não está disposto a ter chatices com polícia e tribunal".
Pois... Perante a reportagem de ontem, apetece-me perguntar: Se Jeová existisse, não seria uma boa altura para uma queixa formal ao Ministério Público?
O que vale, é que o gajo não existe...

Em simultâneo no "Diário Ateísta".

2012-01-27

Andam a gozar connosco

Primeiro, gastam à tripa-forra, sabendo que o contribuinte vai pagar tudo. Depois, pedem contas aos que menos podem, mas mantêm as mordomias dos frequentadores da gamela. Exibindo a palavra "crise", vão aos bolsos dos cidadãos: cortam nos vencimentos, reduzem o RSI, aumentam as taxas moderadoras, aumentam a carga horária de trabalho, extinguem os subsídios de Natal e de Férias, etc.
Extinguem? Não! Extinguem só para alguns. Porque apesar de os sacrifícios serem "iguais para todos", nem todos são iguais; há alguns que são mais iguais do que outros. Por exemplo, a funcionária pública Helena Isabel Roque Mendes continua a ter direito ao 13º e ao 14º meses.
Este despacho do Ministério da Educação e Ciência está, mesmo, no Diário da República. É o 774/2012, de 11 de Janeiro.
Eu ia perguntar o que é que essa senhora tem mais do que os outros funcionários públicos, mas abstenho-me.

2012-01-24

O mamarracho e o navio

(…ou será “O mamarracho do navio”?).
Segundo a comunicação social, sempre lesta a difundir notícias importantes deste teor, dentro do navio “Costa Concordia”, naufragado há dias, foi encontrada e recuperada uma boneca representando a dita virgem Maria. Logo a ICAR, pela voz dos seus altifalantes, veio a terreiro afirmar, “urbi et orbi”, que o boneco era uma cópia do original, o qual, original, se encontra na capela das ditas aparições. Não foi dito se a cópia está, ou não, conforme o original, e se, em caso afirmativo, essa conformidade foi, ou não, certificada. Mas isso agora não interessa, como diria uma outra “virgem”. Interessa é que, para confirmar não se sabe bem o quê, a padralhada veio berrar que a boneca tinha sido comprada em Fátima.
Fico sem saber o que pretendem os funcionários da ICAR provar com tanta berraria e publicidade. Quanto a mim, deviam calar-se muito caladinhos e, caso perguntados, deveriam responder que a boneca, que foi capaz de desviar uma bala que, como se sabe, viaja a uma velocidade incrível, mas não conseguiu desviar um navio de cruzeiro que, na circunstância, não excederia os miseráveis 20 nós, dizia eu que, caso perguntados, deveriam afirmar que não senhores, aquela boneca só podia ter sido comprada numa qualquer loja dos chineses, porque se fosse de origem certificada, como é o caso de Fátima, o navio nem uma equimose ou uma leve beliscadura sofreria.
Uma coisa tenho de reconhecer, por muito que me custe: a boneca não se afogou. Pelo contrário, está viva e sã e devidamente exposta – desejo eu – numa igreja. O que me leva a sugerir ao Ratzinger  que aproveite. Não terá, por acaso, algum “santo” em lista de espera? Poderiam, perfeitamente, atribuir-lhe este “milagre”. Olhem que não é todos os dias que aparece uma boneca de Fátima dentro de um navio de cruzeiro – eu, pelo menos, nunca vi nenhuma.
E não levo nada pela sugestão.

Em simultâneo no "Diário Ateísta"

2012-01-21

A(s) reforma(s) do Presidente

O presidente da República confessou aos jornalistas - e mais a quem o quis ouvir - que a reforma que vai receber, 1300,00 euros, não vai chegar para as despesas. Tanto mais que, afirmou, nada recebe como presidente.
Vamos por partes. E vamos dar de barato que o presidente se esqueceu de que teve de optar entre o vencimento como titular de um cargo público e a reforma que (já) recebe. Obviamente, escolheu a opção mais vantajosa, já que não me consta que o cidadão Cavaco Silva seja parvo. E vamos dar de barato que o presidente se esqueceu de mencionar a reforma que vai receber do Banco de Portugal (não sei se já recebe). A questão não é nenhuma das duas referidas acima. A questão é outra, e bem mais grave. Penso eu, é claro.
Independentemente da reforma que venha a receber, um dado é adquirido: o cidadão Cavaco Silva vive acima das suas posses. Ou antes, das suas futuras posses. Porque ele já sabe que quando receber a reforma ela não cobrirá as despesas. Para já, o contribuinte vai cobrindo (e de que maneira!), pelo que não haverá lugara preocupações, pelo menos até daqui a quatro anos. .
E aqui, eu interrompo para perguntar: até que ponto as três personalidades - ex- primeiro ministro, presidente da República e cidadão Aníbal Cavaco Silva - podem ser dissociadas? Aproveito para responder: não podem. Porque tal como a Santíssima Trindade, as três pessoas são uma só. São uma só pessoa que já sabe que a reforma não lhe vai chegar para as despesas. Porque faz despesas superiores à sua futura reforma.
E foi assim que o País caiu e chegou ao estado em que se encontra. Assim, já dá para perceber. Gasta-se mais do que se ganha. E o Presidente da República dá o exemplo.
Senhor presidente: não votei em si, mas vou dizer-lhe como deve fazer: faça como muitos milhares de portugueses que se aguentam com pensões de miséria: aguente-se também. Poupe. Gaste menos do que ganha. Ande a pé. Vá às consultas ao hospital público - perdão, ao privado, que é mais barato. Compre marcas brancas. Escolha o mais barato. Poupe na farmácia. Enfim, viva de acordo com as suas possibilidades.
Em último caso, a Cáritas ajuda. Mas não insulte os pobres, por favor. Nem insulte a inteligência dos portugueses.