2012-01-27

Andam a gozar connosco

Primeiro, gastam à tripa-forra, sabendo que o contribuinte vai pagar tudo. Depois, pedem contas aos que menos podem, mas mantêm as mordomias dos frequentadores da gamela. Exibindo a palavra "crise", vão aos bolsos dos cidadãos: cortam nos vencimentos, reduzem o RSI, aumentam as taxas moderadoras, aumentam a carga horária de trabalho, extinguem os subsídios de Natal e de Férias, etc.
Extinguem? Não! Extinguem só para alguns. Porque apesar de os sacrifícios serem "iguais para todos", nem todos são iguais; há alguns que são mais iguais do que outros. Por exemplo, a funcionária pública Helena Isabel Roque Mendes continua a ter direito ao 13º e ao 14º meses.
Este despacho do Ministério da Educação e Ciência está, mesmo, no Diário da República. É o 774/2012, de 11 de Janeiro.
Eu ia perguntar o que é que essa senhora tem mais do que os outros funcionários públicos, mas abstenho-me.

2012-01-24

O mamarracho e o navio

(…ou será “O mamarracho do navio”?).
Segundo a comunicação social, sempre lesta a difundir notícias importantes deste teor, dentro do navio “Costa Concordia”, naufragado há dias, foi encontrada e recuperada uma boneca representando a dita virgem Maria. Logo a ICAR, pela voz dos seus altifalantes, veio a terreiro afirmar, “urbi et orbi”, que o boneco era uma cópia do original, o qual, original, se encontra na capela das ditas aparições. Não foi dito se a cópia está, ou não, conforme o original, e se, em caso afirmativo, essa conformidade foi, ou não, certificada. Mas isso agora não interessa, como diria uma outra “virgem”. Interessa é que, para confirmar não se sabe bem o quê, a padralhada veio berrar que a boneca tinha sido comprada em Fátima.
Fico sem saber o que pretendem os funcionários da ICAR provar com tanta berraria e publicidade. Quanto a mim, deviam calar-se muito caladinhos e, caso perguntados, deveriam responder que a boneca, que foi capaz de desviar uma bala que, como se sabe, viaja a uma velocidade incrível, mas não conseguiu desviar um navio de cruzeiro que, na circunstância, não excederia os miseráveis 20 nós, dizia eu que, caso perguntados, deveriam afirmar que não senhores, aquela boneca só podia ter sido comprada numa qualquer loja dos chineses, porque se fosse de origem certificada, como é o caso de Fátima, o navio nem uma equimose ou uma leve beliscadura sofreria.
Uma coisa tenho de reconhecer, por muito que me custe: a boneca não se afogou. Pelo contrário, está viva e sã e devidamente exposta – desejo eu – numa igreja. O que me leva a sugerir ao Ratzinger  que aproveite. Não terá, por acaso, algum “santo” em lista de espera? Poderiam, perfeitamente, atribuir-lhe este “milagre”. Olhem que não é todos os dias que aparece uma boneca de Fátima dentro de um navio de cruzeiro – eu, pelo menos, nunca vi nenhuma.
E não levo nada pela sugestão.

Em simultâneo no "Diário Ateísta"

2012-01-21

A(s) reforma(s) do Presidente

O presidente da República confessou aos jornalistas - e mais a quem o quis ouvir - que a reforma que vai receber, 1300,00 euros, não vai chegar para as despesas. Tanto mais que, afirmou, nada recebe como presidente.
Vamos por partes. E vamos dar de barato que o presidente se esqueceu de que teve de optar entre o vencimento como titular de um cargo público e a reforma que (já) recebe. Obviamente, escolheu a opção mais vantajosa, já que não me consta que o cidadão Cavaco Silva seja parvo. E vamos dar de barato que o presidente se esqueceu de mencionar a reforma que vai receber do Banco de Portugal (não sei se já recebe). A questão não é nenhuma das duas referidas acima. A questão é outra, e bem mais grave. Penso eu, é claro.
Independentemente da reforma que venha a receber, um dado é adquirido: o cidadão Cavaco Silva vive acima das suas posses. Ou antes, das suas futuras posses. Porque ele já sabe que quando receber a reforma ela não cobrirá as despesas. Para já, o contribuinte vai cobrindo (e de que maneira!), pelo que não haverá lugara preocupações, pelo menos até daqui a quatro anos. .
E aqui, eu interrompo para perguntar: até que ponto as três personalidades - ex- primeiro ministro, presidente da República e cidadão Aníbal Cavaco Silva - podem ser dissociadas? Aproveito para responder: não podem. Porque tal como a Santíssima Trindade, as três pessoas são uma só. São uma só pessoa que já sabe que a reforma não lhe vai chegar para as despesas. Porque faz despesas superiores à sua futura reforma.
E foi assim que o País caiu e chegou ao estado em que se encontra. Assim, já dá para perceber. Gasta-se mais do que se ganha. E o Presidente da República dá o exemplo.
Senhor presidente: não votei em si, mas vou dizer-lhe como deve fazer: faça como muitos milhares de portugueses que se aguentam com pensões de miséria: aguente-se também. Poupe. Gaste menos do que ganha. Ande a pé. Vá às consultas ao hospital público - perdão, ao privado, que é mais barato. Compre marcas brancas. Escolha o mais barato. Poupe na farmácia. Enfim, viva de acordo com as suas possibilidades.
Em último caso, a Cáritas ajuda. Mas não insulte os pobres, por favor. Nem insulte a inteligência dos portugueses.