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Caro presidente [Lula da Silva]
o senhor chegou  ao poder carregado pela bandeira de uma sociedade mais
justa e mais  inclusiva. O uso da palavra "excluídos" no vocabulário
das políticas públicas  tem o mérito de nos lembrar que as conquistas
de nossa sociedade devem ser  estendidas a todos, sem exceção. Sim,
devemos incluir os negros, incluir as  mulheres, incluir os miseráveis,
incluir os homossexuais. Mas, presidente,  também é preciso incluir
ateus e agnósticos, e todos os demais indivíduos que  não têm religião.
    Infelizmente, diversas declarações pessoais suas,  assim como
políticas do seu governo, têm deposto em contrário. Ontem mesmo  o
senhor afirmou que há "muitos" ateus que falam sobre a divindade  da
mitologia cristã quando estão em perigo. Ora, quando alguém  diz
"viche", é difícil imaginar que esteja pensando em uma  mulher
palestina que se alega ter concebido há mais de dois mil anos sem  pai
biológico. Algumas expressões se cristalizam na língua e perdem toda  a
referência ao seu significado estrito com o tempo, e esse é o caso  das
interjeições que são religiosas em sua raiz, mas há muito  estão
secularizadas. Se valesse apenas a etimologia, não poderíamos  nem
falar "caramba" sem tirar as crianças da sala.
Sua afirmação é a  de quem vê ?muitos? ateus como hipócritas ou
autocontraditórios, pessoas sem  força de convicção que no íntimo não
são descrentes. Nós, membros da  Associação Brasileira de Ateus e
Agnósticos, não temos conhecimento desses  ateus, e consideramos que
essa referência a tantos de nós é ofensiva e  preconceituosa. Todos os
credos e convicções têm sua generosa parcela de  canalhas e
incoerentes; utilizar os ateus como exemplo particular  dessas
características negativas, como se fôssemos mais canalhas e  mais
incoerentes, é uma acusação grave que afronta a nossa dignidade. E  os
ateus, presidente, também têm dignidade.
Duas semanas atrás, o  senhor afirmou que a religião pode manter os
jovens longe da violência e  delinqüência e que ?com mais religião, o
mundo seria menos violento e com  muito mais paz?. Mas dizer que as
pessoas religiosas são menos violentas e  conduzem mais à paz é
exatamente o mesmo que dizer que as pessoas menos  religiosas são mais
violentas e conduzem mais à guerra. Então, presidente,  segundo o
senhor, além de incoerentes e hipócritas, os ateus são criminoso  e
violentos? Não lhe parece estranho que tantos países tão  violentos
estejam tão cheios de religião, e tantos países com frações tão  altas
de ateus tenham baixíssimos índices de criminalidade? Não é  curioso
que as cadeias brasileiras estejam repletas de cristãos, assim como  as
páginas dos escândalos políticos? Algumas das pessoas com  convicções
religiosas mais fortes de que se tem notícia morreram ao lançar  aviões
contra arranha-céus e se comprazeram ao negar o direito mais básico  do
divórcio a centenas de milhões de pessoas. Durante séculos. O  mundo
realmente tinha mais paz e menos violência quando havia mais  religião?
Parece-nos que não.
A prática de diminuir, ofender,  desumanizar, descaracterizar e
humilhar grupos sociais é antiga e foi  utilizada desde sempre para
justificar guerras, perseguição e, em uma  palavra, exclusão.
Presidente, por que é que o senhor exclui a nós, ateus, do  rol de
indivíduos com moralidade, integridade e valores  democráticos?
No Brasil, os ateus não têm sequer o direito de saberem  quantos são. O
Estado do qual eles são cidadãos plenos designa recenseadores  para
irem até suas casas e lhes perguntarem qual é sua religião. Mas  se
dizem que são ateus ou agnósticos, seus números específicos lhes  são
negados. Presidente, através de pesquisas particulares sabemos que  há
milhões de ateus no país, mas o Instituto Brasileiro de Geografia  e
Estatística, que publica os números de grupos religiosos que têm
apenas  algumas dezenas de membros, não nos concede essa mesma
deferência. Onde está  a inclusão se nos é negado até o direito de
auto-conhecimento? Esse profundo  desrespeito é um fruto evidente da
noção, que o senhor vem pormenorizando com  todas as letras, de que os
ateus não merecem ser cidadãos  plenos.
Presidente, queremos aqui dizer para todos: somos cidadãos, e  temos
direitos. Incluindo o de não sermos vilipendiados em praça  pública
pelo chefe do nosso Estado, eleito com o voto, também, de  muitos
ateus, que agora se sentem traídos.
Presidente, não podemos  deixar de apontar que somente um estado
verdadeiramente laico pode trazer  liberdade religiosa verdadeira,
através da igualdade plena entre religiosos  de todos os matizes, assim
como entre religiosos e não-religiosos de todos os  tipos, incluindo
ateus e agnósticos. Infelizmente, seu governo não apenas tem  sido
leniente com violações históricas da laicidade do Estado  brasileiro,
como agora espontaneamente introduziu o maior retrocesso  imaginável
nessa área que foi a assinatura do acordo com a Sé de Roma,  escorado
na chamada lei geral das religiões.
Ambos os documentos  constituem atentado flagrante ao art. 19 da
Constituição Federal, que veda  ?relações de dependência ou aliança com
cultos religiosos ou igrejas?. E  acordos, tanto na linguagem comum
como no jargão jurídico, são precisamente  isso: relações de aliança.
Laicidade, senhor presidente, não é ecumenismo. O  acordo com Roma já
era grave; estender suas benesses indevidas a outros  grupos não
diminui a desigualdade, apenas a aumenta. Nós não  queremos
privilégios: queremos igualdade e o cumprimento estrito da lei,  e
muitos setores da sociedade, religiosos e laicos, têm exatamente  esse
mesmo entendimento.
Além de violar nossa lei maior, a própria  idéia da lei geral das
religiões reforça a política estatal de preterir os  ateus sempre e em
tudo que lhes diz respeito como ateus. Com que direito o  Estado que
também é nosso pode ser seqüestrado para promover qualquer  religião em
particular, ou mesmo as religiões em geral? Com que direito  os
religiosos se apossam do dinheiro dos nossos impostos e do Estado  que
também é nosso para promover suas crenças particulares? Religião  não
é, e não pode jamais ser política pública: é opção privada.
O  Estado pertence a todos os cidadãos, sem distinção de raça, cor,
idade, sexo,  ideologia ou credo. Nenhum grupo social pode ser
discriminado ou  privilegiado. Esse é um princípio fundamental da
democracia. Isso é um  reflexo das leis mais elementares de
administração pública, como o princípio  da impessoalidade. Caso
aquelas leis venham de fato integrar-se ao nosso  ordenamento jurídico,
os ateus se juntarão a tantos outros grupos que irão ao  judiciário
para que nossa lei não volte ao que era antes do século  retrasado.
Presidente, será que os ateus não merecem inclusão nem em um  pedido de
desculpas?
Associação Brasileira de Ateus e Agnósticos
www.atea.org.br
Contato: Daniel Sottomaior  (11) 9388-4746
 
 
 
Um comentário:
Em se tratando do Lula, a gente pula...pindura a conta.
Nem dá pra cobrar nada de um presidente analfabeto e sem personalidade.
Um "páu mandado", como dizem no meu nordeste...
Ele dança conforme a música que seu bamndo de "companheiros" toca.
E país laico, aqui????
Devia estar sob efeito de cachaça quem disse isso.
Brindando com o Lula lelé. Tomaram todas.
E sairam a falar abobrinhas.
Este é o pais da incoerência, isso sim!!
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