2008-10-17

O LIVRE ARBÍTRIO (III)

Não concordo com os ateus ou agnósticos que se recusam ou a visitar uma igreja ou a frequentar espaços de religião e espiritualidade na Internet. Porque - e esta é a minha opinião, naturalmente - é, precisamente, a visitar esses espaços, físicos ou virtuais, que conseguimos argumentos contra as razões dos crentes.
Que fique bem claro que não quero entrar em dualismos maniqueístas; respeito as crenças de cada um, e exijo que respeitem a minha descrença. Mas não alinho na falácia "a religião não se discute". Discute, pois! Por muito que custe aos proselitistas.
Tudo isto a propósito (ainda) do «livre arbítrio».
Num fórum que frequento, perguntei o que entendiam, os religiosos, por "livre arbítrio". As respostas variaram consoante os gostos e as cores religiosas, mas uma delas chamou-me a atenção: "É a faculdade que Deus nos deu de traçarmos o nosso destino".
Disparate sobre disparate, obviamente. Mas é assim que as religiões manipulam as mentes...
De acordo com o dicionário da Porto Editora (passe a publicidade), destino é

1. poder superior à vontade do homem que se supõe fixar de maneira irrevogável o curso dos acontecimentos; fatalidade;

2. sucessão de factos que constituem a vida de alguém e que se crê serem independentes da sua vontade; fado;
etc.

Parece, pois, que ninguém pode traçar o destino, quando este é fixado de maneira irrevogável por um poder superior. E ninguém pode determinar factos que são independentes da sua vontade.
Acontece que se esses factos, embora independentes da nossa vontade, são do nosso agrado, chamamos-lhes sorte; se é ao contrário, tomam o nome de azar. Então, parece indiscutível que livre arbítrio é incompatível com destino. Mais: são antagónicos. Ou um, ou outro. Os dois, nunca!
Mas aceito opiniões...
Depois, os religiosos nem são capazes de pensar nesta coisa comezinha: ao falar em livre arbítrio estão a pôr em causa a omnisciência divina.
Vamos lá a ver: Deus é omnisciente. Deus sabe o passado, o presente e o futuro. Principalmente, o futuro. Pelo menos, é o que dizem (também, se assim não fosse não precisávamos de Deus para nada).
Vou tentar expor o meu raciocínio: você, leitor, já sabe aonde vai passar as próximas férias? Claro que não. Se for um verdadeiro crente, fervoroso e temente a Deus, responderá: "Deus é que sabe" ou "Deus sabe se lá chegarei". É assim mesmo. Ou seja, Deus, neste momento, já sabe qual o destino e data das suas férias. Você não sabe, mas Deus já. Óptimo. Isto quer dizer que os seus preparativos para as próximas férias - planeamento, escolha do local, data - serão, sempre, subordinados àquilo que Deus já sabe. Ou já destinou, se quiser. Você vai para onde e quando "Deus quiser".
Você não costuma dizer "amanhã vou ao cinema, se Deus quiser"?
Onde está o seu livre arbítrio?

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