2012-01-05

Hoje Há Tripas

Tinham-me avisado, e os avisos foram dois:
1) - Provavelmente, as melhores Tripas à Moda do Porto da cidade.
2) - Vai cedo, que depois do meio.dia já não tens onde te sentar.

Um dia, no longínquo ano de 2011, numa altura em que ainda havia (tinha havido) subsídio de férias, e o de Natal (ainda) não estava ameaçado, peguei na minha cara-metade e fui até lá. Ali, paredes-meias com o Palácio da Justiça, na Rua Dr. Barbosa de Castro, a Casa Correia apresentava-se modesta, despretensiosa, mais tasca grande que restaurante pequeno. Ao balcão, o Zé, derreado ao peso dos anos passados, afadigava-se a servir os vinhos e o pão; lá dentro, a cozinheira/empregada de mesa/esposa do Zé, ia perguntando "uma dosesinha"? 
Na altura, a exígua sala ainda estava vazia; mas pouco depois das 12,30 horas, tudo quanto era Palácio da Justiça e S. João Novo mais DIAP, transferiu-se, literalmente, para a Casa Correia. Pouco depois, já havia gente à espera, de pé. A esposa do Zé (não consegui apanhar-lhe o nome, carago!) ia berrando, por entre as bem abonadas caçarolas de tripas "Zé, olha o vinho para esta mesa" "Zé, para o sr. doutor é maduro branco" e o Zé, com os ossos a acusar a idade, lá ia fazendo pela vida, que a patroa não dava descanso.
Voltei lá hoje. Uma visita de estudo promovida pela Faculdade de História da Cidade do Porto da Universidade Sénior das Antas, levou o pessoal discente pela Sé até Miragaia e, depois, até à Cordoaria. Ao fim de mais de duas horas de caminhada, a fome apresentava-se imponente e impertinente. Era quinta-feira (único) dia de tripas na Casa Correia. Claro que nem hesitei. Mas já não foi a mesma coisa; as mesmas tripas, sim senhores, a mesma qualidade, sim senhores, a mesma meia-dose que quase dava para dois, sim senhores, e que me levou a rezar uma prece "meu Deus, dai-me força de vontade e capacidade estomacal para conseguir engolir isto tudo", mas Deus deve ter ouvido mal, porque ainda ficou um restinho na caçarola. Mas... o que é feito daquela gente que enchia o restaurante? À uma da tarde, havia mesas, demasiadas mesas, vazias.
Fruto da crise? Não sei, talvez. Mas quem lá não foi, nem sabe o que perdeu. E olhem que, hoje em dia, não deve haver muitos locais onde se coma uma boa caçarola de excelentes tripas com meia garrafa de vinho de marca, por 11,50€. 


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