2009-10-30

POUPEMOS PAPEL


Todos os dias somos aconselhados a poupar no uso do papel. Parece que é preciso deitar árvores abaixo para fabricar papel, e a floresta é um bem precioso, que é urgente preservar. Coisa linda, a floresta! Mas a verdade é que, ao que parece, há árvores que são plantadas de propósito para fabricar papel. É o caso dos eucaliptos, e não é por mero acaso que Portugal se transformou num imenso eucaliptal. Essas árvores foram plantadas para produzir pasta de papel.

No entanto, ninguém faz apelo a que se arranje outro material para construis mobiliário. Que, por acaso, também é feito em madeira. E não me consta que alguém tenha mandado plantar árvores – nogueira, mogno, castanheiro, por exemplo – para produzir móveis. Há algo que me está a escapar… Então, não se pode derrubar florestas de árvores para produzir papel, e pode-se destruir florestas de árvores que NÃO são destinadas ao mobiliário?

Bom, adiante. Há dias fui assediado por duas empresas no sentido de aderir à factura electrónica. Coisa linda, a factura electrónica: poupa-se no papel, poupa-se nas arvorezinhas, coitadinhas, e o ambiente agradece. E os accionistas também. Perguntei à aliás simpática senhora, uma de cada empresa, tá-se a ver, o que é que eu ganhava com isso. Nada, responderam as senhoras – uma de cada vez, claro. Mas ganha o ambiente.

Vamos fazer contas devagarinho, que eu sou uma merda em matemática: se, entre papel A4, envelope, tinta de impressora e selo de correio a empresa gastar, e estou a nivelar por baixo, cinquenta cêntimos, nem me aquece nem arrefece, ao fim do mês. Mas esses cinquenta cêntimos a multiplicar, e ainda a nivelar por baixo, por um milhão de consumidores, vai dar quinhentos mil euros. Que vão encher os bolsos dos accionistas, como acima disse.

Eu até era capaz de aderir, se me garantissem que esses quinhentos mil euros eram entregues a instituições de solidariedade social. Mas não me consta que seja esse o caso. Não há almoços grátis, está provado.

Vai daí, mandei-os à merda. E eles continuam a mandar a factura em papel. Pelo menos, evito o despedimento dos funcionários encarregados de lamber os envelopes. O que já é uma boa causa.

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