2008-12-24

EXPRESSODASNOVE.PT

"A Igreja é um escândalo, uma vergonha,
uma nódoa! Não tem salvação"
Afirma o professor Armando Medeiros em exclusivo a este jornal. E pergunta: “A que propósito é que aquele sujeito, Bento não sei quantos, anda coberto de jóias e pratas? A que propósito é que o tesouro do Vaticano tem um valor incalculável?”

E o Natal no meio de tudo isto?
Queres que eu diga o que é o Natal para mim?

Quero…
Para mim é uma data de calendário com a mesma importância que o 15 de Agosto, ou outra…

Mas o Natal é a maior festa do ano e a maior festa do mundo…
Maior em que sentido?

Maior no sentido em que mobiliza mais gente…
De que maneira?

Ao nível do consumismo, por exemplo…
Para fazer o bem?

Depende...
Então, deixa-me ser eu a dizer: é a maior festa do ano porque é a que mobiliza mais gente. Para fazer o bem?

Não.
Tu falaste em consumismo...

O Natal é o maior negócio do ano…
É o maior negócio do ano. Exactamente. Para quem compram as pessoas? Para os necessitados?

Compram para as suas famílias e crianças…
E para os necessitados?

Algumas fazem-no…
Fazem-no? Como? Limpam os sótãos e dão o que não vestem…

Aliás, muitos dos que o fazem só o fazem na altura do Natal… São apenas solidários no Natal. É uma forma de aliviarem a consciência.
Por um lado, praticam caridade, ficam aliviados, mas, por outro lado, ganham uns pontos na caderneta do santo que estiver de serviço nesse dia!

Como achas que deveria ser o Natal, tendo em conta a realidade da sociedade em que vivemos?
Julgo que o Natal devia ser, na realidade açoriana, como tudo na realidade açoriana devia ser, mas não é: comedido, modesto, simples. Quem tem pouco, pouco gasta.

Mas as empresas fazem tudo para que as pessoas comprem coisas… caso contrário não conseguiriam sobreviver.
As empresas que vão para o Diabo!

As pessoas reagem aos apelos do mercado, são impulsivas…
Recebem apelos para comprarem metralhadoras para as crianças!

Exactamente.
E jogos de computador, em que só ganha quem provocar mais desastres de automóvel e quem provocar mais mortes. É isso?

É isso, sim. Mas a solução que propões é bastante irrealista…
Não vejo como poderia ser de outra maneira. Os senhores padres nas igrejas continuam a copiar, nas suas homilias, as páginas na Bíblia que falam da viúva de Caim e das Bodas de Canã…

A Igreja não devia ter um papel de moderação na festa do Natal?
A Igreja é um escândalo, uma vergonha, uma nódoa!

Porquê?
Porque assim se tornou…

Que faz a Igreja para ser uma nódoa?
Olha, por exemplo, só oficialmente chamo ao Papa “Sumo Pontífice”. Em família, chamo-lhe “mijo” de Papa! Diz-me uma coisa, Eduardo: a que propósito é que anda aquele gajo coberto de ouro, quando metade do mundo morre de fome?! E a história do rico só entrar no céu pelo buraco da agulha?!

A Igreja não distribui riquezas materiais…
A que propósito é que aquele sujeito, Bento não sei quantos,
anda coberto de jóias e pratas?! A que propósito é que o tesouro do Vaticano tem um valor incalculável?

A Igreja precisa de dinheiro para manter os templos… e para pagar os salários aos sacerdotes, que são muitos milhares por esse mundo...
A Igreja poderia melhorar o Natal começando por modificar a ideia que deu da pessoa que foi Jesus Cristo. É porque, primeiro, devia ser ensinado aquilo que eu dizia aos meus alunos: não há nada que prove, nada, coisa nenhuma, que prove que Cristo tenha sido, realmente, mais filho de Deus do que eu, ou tu! Ele até foi dado a conversas que nada tinham a ver com o filho de Deus. Disse Ele às mulheres de Jerusalém: “Não choreis, que muito mais hão-de chorar os vossos filhos!” Se isto não é uma ameaça, cheira a isso. E Ele disse também: “Quem não é por mim é contra mim!” Se isto não é intolerância, cheira a isso. Estas afirmações perdoam-se a um visionário que foi, sem dúvida, magnífico, e que transformou a face do mundo, mas são afirmações que não se perdoam a um Deus.

Ele terá dito isso enquanto homem…
Mas admite-se que o tenha dito?!

O discurso bíblico que chegou até nós foi “filtrado” pela Igreja…
Um puto de 14 anos lê o Velho Testamento e fica mais assustado do que depois de ter lido o Barba Azul! Porque o Velho Testamento fala em horrores, vinganças e caprichos…

A Bíblia espelha a cultura humana. Ainda hoje, vivemos numa sociedade de horrores…
Ora bem.

Olha para o Iraque, olha para o Médio Oriente, olha para África...
Aos nossos meninos, na catequese, ensina-se-lhes que no princípio havia um jardim onde um sujeito e uma sujeita foram expulsos por terem desobedecido ao comerem uma peça de fruta. E, depois, diz ainda a Santa Bíblia que Adão e Eva geraram Abel e Caim e que Abel gerou este e que Caim gerou aquele... mas onde está a senhora Abel? E onde está a senhora Caim? É muito esquisito, o Deus dessa Bíblia. Violento, intolerante, vomitando pragas...

É um Deus... esquizofrénico. Fala-me do teu Deus, do verdadeiro Deus…
O verdadeiro Deus, para mim... é o que encontro nas Furnas e nas Sete Cidades. Chego às Furnas e às Sete Cidades e digo: “Imaginem toda esta beleza... uma imensa extensão de cinzas e esterilidade. Isto não é revisitar a criação?...”. As Furnas são uma catedral verde, onde encontro o Deus primeiro, a força primeira…

Mas, hoje, de que forma é que se encontra esse Deus na sociedade? As pessoas não ligam muito ao Deus das Furnas e das Sete Cidades…
São-Lhe absolutamente indiferentes!

E porquê?
Porque aquilo que julgam saber de Deus vem-lhes dos padres. E os padres são uma nódoa...

Não sabem ensinar Deus.
As nódoas não ensinam. Deixam marcas de gordura.

Não vais à missa? Por que será que os padres são incapazes de se envolver mais na comunidade em que vivem? Far-lhes-á falta a livre expressão da sua vida sexual?
(Risos) Eles estão fartos de se exprimir a esse nível, pelo amor de Deus!

Será que se tornam egoístas e distantes por não serem livres afectivamente e emocionalmente?
São um poço de frustrações…

De onde virá a sua frustração?
De darem por si a fazer o que nunca quiseram fazer…

Não podem amar uma mulher, nem um homem. Não podem dar larga aos seus sentimentos...
Sejam honestos. Demitam-se. Ou seja lá o que for que fazem os padres honestos, que não estão dispostos a continuar uma fraude.

Talvez seja uma questão de educação. Os padres são educados de uma certa maneira. Ah, e as mulheres não podem ser padres…
Graças a Deus!

Talvez pudessem ser elas a salvar a Igreja!…
A Igreja não tem salvação possível. E a católica está moribunda. No fundo, que formação e que paciência e que crença há-de ter um sacerdote se o próprio Vaticano cria uma vacina chamada desobriga? Vai-se uma vez por ano, na Quaresma, fazer uma confissão e fica-se despachado para o ano todo! Mas que coisa é esta? Com a validade de um ano?! E olha que sei do que estou a falar porque vivi e ensinei um ano na Terceira e fui muito amigo do padre Edmundo Machado Oliveira, que deu o nome ao orfeão. Tínhamos longas conversas e ele confiava-me muitas vezes o seu desencanto.


EDUARDO BRUM


23 de Dezembro de 2008

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