Confesso, desde já, que sou suspeito: não votei no partido do governo, logo, nada tenho a ver com a escolha deste primeiro-ministro. Não
obstante, e na minha qualidade de ingénuo compulslivo, senti uma réstia de
esperança, quando Pedro Passos Coelho foi escolhido para chefiar o
governo. Sabia que dias difíceis viriam,
mas pensei que, pelo menos, ficávamos em boas mãos, em termos de honestidade
intelectual, fartos que estávamos (os que estavam…) das mentiras do outro.
Afinal, só as moscas mudaram.
José Sócrates tinha diabolizado tudo quanto era função
pública, só lhe tendo faltado dizer que os funcionários públicos eram os
causadores da crise. Mas se José Sócrates dizia mata, Pedro Passos Coelho diz esfola.
Afinal, os funcionários públicos não só são responsáveis
pelo buraco financeiro, e só assim se compreende que tenham sido eles os
eleitos para tapar esse buraco, como
também são ricalhaços. Sim, senhores: os funcionários são ricos como o caraças,
que até ganham, em
média, 10 a 15% mais que o sector privado.
Essas médias são conhecidas.
São como a história do frango: se eu comer um, e tu não comeres nenhum comemos,
em média, meio frango cada um. E é sabido onde é que Pedro Passos Coelho foi
buscar essa média. É simples: um piloto
da TAP é capaz de ganhar mais do que um piloto da RyanAir, por exemplo; uma
chefia da CP é capaz de ter mais prebendas do que o chefe de secretaria do
Barraqueiro ou da Resende; provavelmente, um administrador de um qualquer
hospital privado ganhará menos do que um administrador de um hospital
público ou EPE. Etecetera, que os exemplos abundam (infelizmente). Mas
esses são uma minoria. São uma minoria mas, mesmo assim, suficientes para alterar toda a estatística: eles é que comem o frango... Aliás, é consabido que Portugal está entregue, em termos
de tachos e gamelas, a uma minoria. E não é essa minoria que vai pagar os
sucessivos buracos. Pelo contrário, o seu dever é cavar ainda mais fundo.
Adiante.
Quanto ganha um professor do público, e quanto ganha um do privado?
Quanto ganha um médico do público, e
quanto ganha um do privado? E um
enfermeiro? E um motorista? E um escriturário? E um Assistente Operacional de Fluxos Humanos, vulgo porteiro? São estes, senhor primeiro-ministro, que
fazem a função pública. Não são os outros. Porque são estes que trabalham, se esforçam, que aturam chefes com problemas
domésticos, e/ou psicológicos e não têm telemóvel pago, nem gasolina grátis,
nem cartão de crédito ilimitado (alguns, nem limitado), nem automóvel do Estado
(pago por nós).
Um pouco de honestidade intelectual só lhe ficava bem,
senhor primeiro ministro; para mentiroso, já tínhamos o outro. Então, deixava-o
ficar. Já estávamos habituados.
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