Até à náusea, a RTP vai repetindo a reportagem dos passageiros que chegaram a Lisboa, depois de terem apanhado um valente susto a bordo de um avião da TAP. E a reportagem abre com uma passageira a garantir que nunca sentiu medo, porque confiou em Deus que, por fim, acabou por fazer o milagre evitando o pior.
Note-se que não tenho qualquer razão para duvidar, nem das palavras da passageira nem do poder de Deus; mas pergunto se não seria mais fácil a Deus evitar a avaria do motor - como, aliás, faz com todos os aviões cujos motores não pegam fogo, graças a Deus. A minha mulher, católica, elucida-me que naquele tempo ainda não havia aviões e, portanto, Deus não sabia nada de engenharia aeronáutica - nem tinha obrigação de saber, principalmente agora, que a idade começa a pesar. Era uma altura em que o Sol andava à volta da Terra, e esta era plana e assente sobre pilares. Acabei por concordar com a aliás imbatível argumentação. Na verdade, lendo a bíblia não se vê qualquer referência a aviões... Adiante. Fico, pois, vencido e convencido de que a mão de Deus esteve no momento histórico da salvação dos passageiros do avião. E neste momento outra questão se levanta: de que está à espera, a TAP, para levantar um rigoroso inquérito à actuação do piloto e do co-piloto? Porque era a eles que competia levar o avião a bom porto - perdão, aeroporto - e, em vez de cumprirem o seu dever, demitiram-se das suas funções deixando nas mãos de Deus o que a eles competia em exclusivo - isto, claro, de acordo com a referida passageira, cujas palavras não me atrevo a por em dúvida.
Despedimento por incompetência, era o mínimo que lhes deveria acontecer. E a prová-lo, está o facto de a RTP não ter dedicado uma única palavra aos pilotos.
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