2011-08-23

"E não separe o Homem..."

Fazendo “zapping” pela TV, deparei-me com o programa da manhã da TVI. Debatia-se o problema da violência doméstica e, a certa altura, o psicólogo Quintino Aires aponta, sem apelo nem agravo, o dedo à Igreja Católica, acusando-a de ser fortemente responsável por muitos dos casos de violência doméstica. Apontou um exemplo concreto de uma senhora. Tendo-se divorciado do marido, devido a frequentes maus-tratos, mas não perdendo de vista a sua formação católica, foi confessar tamanho “pecado”. Quando o padre confessor lhe fez a pergunta sacramental acerca do arrependimento a confessanda declarou, naturalmente, que não estava arrependida. Facto que lhe valeu não só não ter sido absolvida, como também o afastamento da igreja.
Recordo-me de ter visto e ouvido, também na TV e há tempos, o testemunho de uma outra senhora que, sendo alvo das sucessivas agressões do companheiro, se foi aconselhar com o padre. Este, como sapiente conselho, recomendou-lhe “humildade”. Provavelmente, não lhe chegou a língua para dizer “humilhação”. Ou não sabe a diferença (que é muita) entre as duas palavras.
O Dr. Quintino Aires foi, apesar de tudo, bastante meigo para com a Igreja Católica. Porque a chantagem começa logo no acto do casamento. Quando o padre os declara marido e mulher (nunca mulher e marido…) trata logo de acrescentar: “E não separe o Homem aquilo que Deus uniu”. Não se pode ser mais fraudulento! Para “unir”, é Deus; para “separar”, é o Homem. Deus manipulado à vontade e conveniência da Igreja. Aliás, o que se pode esperar de um deus inventado? E o que pergunto, é: o deus que “uniu” já não pode separar? Porquê? Não tem poder para isso? Ou não quer? Ou é a ICAR que não quer? O cônjuge violentado terá de sofrer “até que a morte os separe”? Porque é assim a vontade de Deus? Ou é assim a vontade da Igreja Católica?

Em simultâneo no Diário Ateísta.

2011-08-19

O Papa e a Ciência


Que o Papa não gosta de Ciência, já todos sabíamos. Quanto mais não seja porque, como alguém já disse, a cada passo da Ciência corresponde, inevitavelmente, um recuo da religião – seja ela qual for. Acontece, porém que, ao contrário do que acontecia em tempos que não voltarão, a religião já não consegue travar a Ciência. Pelos vistos, porém, Joseph Ratzinger ainda não se apercebeu disso. Provavelmente anda distraído, de contrário não faria apelos tão retrógrados como este.
Limites para a Ciência, senhor Ratzinger? Quais limites, se faz favor? Está com medo de quê? De que o seu moribundo ”deus” faleça de vez?
Em simultâneo no Diário Ateísta

MANTA CURTA

Não sei se já ouviram falar na teoria da "manta curta". Resume-se nisto: no inverno, você aconchega o peito, mas descobre os pés; aquece os pés, mas descobre o peito.
O novo governo, pelos vistos, já ouviu falar. Ou está a aproveitar a que foi deixada pelo governo anterior... que além de curta, está usada e cheira mal.
Vejamos como se aconchega os pés mas, fatalmente, se deixa o peito ao frio.
Mais: faça-se as contas, e verifique-se que a importância despendida em dias (por má gestão anterior, naturalmente) vai demorar meses a ser recuperada. à custa de quem? Ora, dos pagantes do costume.
Naturalmente.

2011-08-15

"O GOVERNO NÃO COMUNICA"

O Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, citado pelo "Correio da Manhã", disse, na TVI, que o governo não comunica, e não consegue explicar aos portugueses por que razão estão a apertar o cinto.
Não sei se o Prof. está a tentar justificar o governo, se está a tentar deitar água na fervura, ou se é ingénuo - embora eu rejeite, liminarmente, esta terceira hipótese. Porque, meu caro Professor: ninguém é capaz de explicar o inexplicável. E inexplicável é, por exemplo, a electricidade "saltar" dos 6% para os 23% de IVA, enquanto os bilhetes de futebol se mantêm nos 6%. Isto, para já não falar no golfe.Inexplicável é o actual ministro das finanças "explicar" que "a esmagadora maioria dos países da União Europeia" paga a electricidade à taxa máxima de IVA esquecendo-se, convenientemente, de que Portugal é dos países com menor nível de vida. Inexplicável é, por exemplo, os dividendos de acções ou os lucros das grandes empresas não sofrerem qualquer corte no subsídio de Natal, ao contrário do que acontece com pensões de miséria. Inexplicável é saber que o estado continua a gastar à tripa-forra, e que a única medida que houve foi... cortar nos vencimentos dos funcionários mantendo, no entanto, incólumes, os inúmeros e inúteis institutos, alguns dos quais ainda ninguém conseguiu explicar para que servem. Inexplicável é que um político se candidate a primeiro-ministro sem, ao menos, saber em que estado se encontra(va)m as finanças públicas; de tal modo que só agora é que anda a "descobrir" buracos (Os governos anteriores são sempre culpados, mas... onde é que eu já vi isto? ). Inexplicável é pretender que seja a classe média a pagar a crise, enquanto a classe alta se mantém isenta de sacrifícios.

2011-08-12

APANHADA

Visitando o "Covent Garden", em Londres, fui surpreendido por uma bela voz que provinha do piso inferior. Só tive tempo de preparar a máquina e filmar o que restava da ária "Nessun dorma" da ópera Turandot (Puccini). Mesmo assim, ainda tive de interromper a filmagem, porque alguém decidiu dar-me um encontrão. Afinal, eu não estava sozinho a apreciar a voz...

2011-08-11

O FIM DA ISENÇÃO

Há tempos, alguém inventou uma coisa chamada "taxa moderadora". Para quê? Simplesmente - e esse era o espírito da lei - para evitar que as pessoas acorressem às urgências hospitalares e/ou aos centros de saúde por dá-cá-aquela-dor-de-cabeça, e pensassem seriamente que acabava por ficar mais barato acorrer directamente ao farmacêutico. Descongestionava-se os serviços, e os casos realmente justificados eram atendidos mais rapidamente.
O povo português, no qual se incluem os políticos, é extremamente inventivo, e quando se trata de adaptar as situações, principalmente no que tange a ganhar dinheiro rápida e facilmente é incrivelmente criativo. Veja-se o que aconteceu com a renovação das cartas de condução: contrariando o princípio de que a lei deve ser geral e abstracta e, principalmente, não deve ser aplicada retroactivamente (a não ser para beneficiar o cidadão), alterou-se tudo para ganhar mais uns tostões. Até com coimas...  Se há excepções àquela regra, os políticos não estão incluídos. Daí que rapidamente transformaram uma medida destinada a facilitar os serviços, numa fonte de receita. E a taxa moderadora vai passar, provavelmente, a fazer parte do Orçamento de Estado.
Sou suspeito, porque estou (infelizmente) isento do pagamento da taxa moderadora; mas não é menos verdade que quando tiver de a pagar, não irei precisar (felizmente) de deixar de comer nem terei de acorrer a empréstimo bancário. Do mesmo modo que sei que quem tem poder (leia-se dinheiro), está-se borrifando para a taxa moderadora. Nem vai ao SNS, e no privado não se paga a bendita taxa. Porém, posso dar a minha opinião, que é esta: transformar a taxa moderadora numa fonte de receita, desvirtuando a sua finalidade primeira, é uma medida injusta, porque cega e desenfreada. Porque é injusto que um cidadão que é obrigado a ir ao médico, tenha de pagar a taxa. Um doente oncológico, por exemplo, vai pagar taxa moderadora, porquê? Para pensar duas vezes antes de ir, inevitavelmente, ao médico? Se ele, doente oncológico, vai ao médico porque tem gripe, ainda vá que não vá; mas se vai ao médico porque o cancro tem de ser tratado, é desumano. No mínimo.

2011-08-10

ACORDO FONÉTICO?

Tal como já referi AQUI, a comunicação social vai-se travestindo, com as modas que ela própria inventa. Com a vantagem de uma moda ser ainda mais irritante que a outra.
Ainda não passou a moda de respirar ruidosamente, principalmente no decurso de reportagens no exterior (e isso parece que já se pegou à simpática professora universitária que costuma comentar na RTP aos fins-de-semana), e já outra se perfila.
Os locutores - alguns locutores, registe-se - decidiram que era mais "bonito" dar a impressão de que estão a falar de improviso. Assim, durante a leitura do teletexto vão intercalando uns "aaaaa..." como se estivessem à procura da palavra ou expressão mais apropriada. Por exemplo: "Assim, aaaaa, logo que seja possível retomaremos a emissão", ou "o capitão da equipa aaaaa. dirigiu-se ao árbitro...". Nada contra, se calhar. Dá mais vivacidade, e evita-se o tom monocórdico da leitura.
Mas - há sempre um "mas"... se se limitassem a meter o "aaaaa" pelo meio, ainda vá que não vá. Mas alguns iluminados vão mais longe.
Eu explico: por norma, ou por tradição, ou por outra razão qualquer, quando uma palavra termina em "S" e a seguinte começa com uma vogal, o "S" transforma-se em "Z". Assim, costumamos dizer, por exemplo, "azactas da reunião", quando escrevemos "as actas da reunião"; ou "ozolhos da jovem", quando escrevemos "os olhos da jovem". Mas os nossos competentes e "originais" locutores, acham que isso é passadismo. E afinfam-lhe com pérolas deste tipo: "ajactajaaaaa da reunião" ou "ojolhojaaaa da jovem". Nunca deram fé? É giro, pá!
Como se não bastasse o Acordo Ortográfico, estou a ver que alguém anda a engendrar um... Acordo Fonético.

RECEITAS ELECTRÓNICAS

A comunicação social, ao que tudo indica, também sofre a influência das modas. Porventura com o intuito de ser "original", inventa as próprias modas que, depois, segue religiosamente. Ou seja: um órgão de comunicação social inventa, e os outros vão atrás.
Ultimamente, tem-se debatido a "receita electrónica". E a comunicação social farta-se de berrar que há médicos que não cumprem, que há médicos que nem sabem mexer num computador, aqui d'el-rei que as "receitas electrónicas" nunca mais avançam. E assim se vai espalhando a confusão e... a ignorância.
Afinal, o que é uma "receita electrónica"? Não existe! Pelo menos, para já. A comunicação social vai chamando "receita electrónica" à receita que... é passada por computador - como se de uma sofisticada máquina de escrever se tratasse. Alguém "decidiu" chamar a isso "receita electrónica" e os outros foram atrás, alegremente. Ora, a meu ver, isso não é uma receita electrónica.
Tanto quanto julgo saber, o conceito de "documento electrónico", seja receita, seja recibo, seja dinheiro, implica a ausência de suporte físico. Uma declaração de IRS feita em computador e enviada, via Internet, para as Finanças, é, sim senhores, um documento electrónico. As finanças analisam o documento, electronicamente, certamente que cruzarão dados e, se for o caso, devolvem dinheiro ao contribuinte. Electronicamente, já que a importância é creditada na conta bancária. Provavelmente, nem haverá dinheiro físico pelo meio.
Uma receita passada com a ajuda de um computador, é tão "electrónica" como o talão que nos dão no supermercado. Ele também é passado por computador...
Parece que houve uma experiência-piloto, com a passagem de receitas electrónicas (sem aspas, naturalmente): o médico redigia a receita no computador, o documento ficava num servidor e, depois, ao farmacêutico bastaria inserir o número de beneficiário; a receita aparecia, o farmacêutico aviava, e o documento ficaria arquivado no dito servidor - ou noutro qualquer. Isso, sim, seria uma receita electrónica.
As outras, não são.